quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

*** O SENTIDO DA VIDA ***


"Dizem que o que procuramos é um sentido para a vida. Penso que o que procuramos são experiências que nos façam sentir que estamos vivos" ( J. Campbell ).

Para uns, a jornada é curta e agradável.

Para outros, a jornada é acidentada e em alguns momentos, dá vontade
de desistir.

Ao contrário do que você pensa, é nesses momentos que algo muito
maior está acontecendo.

Estamos aqui para aprender, não para sofrer... Abandone o passado...
Desbloqueie sua paralisia afetiva.

À medida que ganhamos experiências, um pouco mais nos é revelado.
Abra-se

Ninguém é igual a ninguém e ninguém é perfeito.

A vida vai dando coisas com que você consegue lidar, conforme você
vai aprendendo a lidar com elas. É assim que a vida funciona.

Avançamos no caminho espiritual através dos relacionamentos. Deepak
Chopra escreveu: "Seja qual for o relacionamento que você atraiu para
dentro de sua vida, numa determinada época, ele foi aquilo de que
você precisava naquele momento" .

Repare: Nada é por acaso.

Nós nos colocamos em uma espécie de "trilha", que sempre esteve aí, o
tempo todo, à sua espera.

Você elegeu seu destino.

A vida que você tem que viver é essa mesma.

"Você não consegue mudar o que não consegue encarar" (James Baldwin)

Por isso, onde quer que você se encontre é exatamente onde precisa
estar, neste momento.

Quando você estiver pronto para fazer uma coisa nova, de maneira
nova, você fará. Há sempre alguém à espera da pessoa na qual você
está se transformando.

Talvez, você ainda não esteja pronto para reconhecê-la.

A cada momento, cada um de nós está passando pelo processo de Ser e
de se tornar como as pessoas, os nossos relacionamentos também mudam.
E ainda há muito a aprender sobre AMOR...

Ainda há muito a ser realizado. Apesar de muitos problemas, há
Esperança, Fé, Alegria, há o AMOR...

Deus sabe de tudo que nos é necessário para evoluir, antes mesmo de
nós.!

Obrigado, Deus, por me amar o suficiente e permitir que me aconteça
somente aquilo com que eu consigo lidar, quando acontece.

Obrigado por Quem eu me tornarei através de tudo que me acontece,
Obrigado Deus.


Fique na Luz Divina !!!

*** HORÓSCOPO X MITOS ***


Não sou Astróloga mas tenho a vontade de ser, espero em breve estar realizando esse sonho.
Mesmo assim sou uma apaixonada por Astrologia e por esse motivo resolvi postar aqui um texto, bem grande por sinal, que explica muito detalhadamente a respeito do assunto.
Um ótimo referencial para estudos e pesquisa e também para todos que como eu são apaixonados pelo tema, espero sinceramente que gostem tanto quanto eu gostei.



ÁRIES
Símbolo: É representado pelos cornos de um carneiro em posição de ataque.Indicando a impulsividade dos nativos do primeiro signo zodiacal. Simboliza também o nascimento e o primeiro contato com o meio ambiente. Representa a personalidade do indivíduo em suas formas primordiais.

Mito: Jasão e o Velocínio de ouro
Como Jasão, ele terá de enfrentar as artimanhas de um poderoso rei, o que ilustra a necessidade do ariano de se defrontar com a imagem arquetipica do Pai Terrível".
A figura do pai sempre representa a Lei, a Ordem, a Estrutura, os Valores Civilizadores que devem ser mantidos a qualquer preço, e cabe ao Herói desafiar esse poder.
Que ao mesmo tempo o castra mas o incita: será através da quebra das Leis que ele instalará um novo regime.
Assim que atingiu a idade necessária ao enfrentamento de sua missão(conquista da própria identidade), Jasão retorna do monte Pélion, onde esteve sendo iniciado; no caminho, perde uma sandália ao auxiliar uma mulher velha a atravessar um rio (segundo alguns, a própria deusa Hera, esposa de Zeus e patrona do casamento).
Pélias, que havia sido avisado por um oráculo sobre a vinda de um homem com uma sandália apenas, o qual ameaçaria seu reinado, ao identificar Jasão desafiou-o a conquistar o Velocino de Ouro como prova para reassumir sua identidade e receber o trono, que lhe pertencia por direito de nascença. Jasão, em resposta, reuniu uma tripulação para a nave Argo (por isso argonautas") e foi à Cólquida resgatar o Velo de Ouro.
Antes de continuar com o mito, vejamos em detalhes alguns pontos. O impulso de lançar-se em aventuras arriscadas para provar sua "masculinidade" é característica nuclear do ariano, seja ele homem ou mulher, pois o dilema do enfrentamento do "Pai Terrível" (em geral voltado à conquista todo o tempo)não confronta apenas homens.
Ao mesmo tempo, o resgate de valores que se encontram em profundas cavernas costuma representar a conquista dos próprios valores e isso também não é dilema próprio apenas de um determinado sexo.
No ariano, o que se verifica é a manifestação audaz e impetuosa da força fálica humana a todo tempo, especialmente se confrontado ou desafiado, dado o rito externo de primeira infância que se abate sobre a sua estrutura mítica inconsciente.
Uma análise mais detalhada da vida do homem ariano costuma mostrar a infância vivida sob a tirania de um pai competitivo, que emasculou dessa forma seu filho - quer negando-lhe o que dele seria por herança, quer sendo excessivamente crítico, quer ainda incitando-o constante e continuamente a conquistar", como única maneira de provar sua competência "masculina".
Mesmo no caso da mulher ariana a história parece não ser diferente: o pai também é percebido como dominante e impositivo, o que a leva futuramente a escolher" companheiros que reproduzam o papel do "Pai Terrível" e que a impeçam de se desenvolver e adquirir independência-a não ser através de duras penas e muita luta.
Esse padrão não é necessariamente patológico, mas sim, o rito que instala um padrão mítico profundo na vida mais superficial: esse "Pai Terrível" é ao mesmo tempo o obstáculo e os meios de crescimento, dependendo da resposta da pessoa ao desafio.
Voltando ao mito, querem alguns que a conquista do Velocino de Ouro foi sugerida a Jasão pela própria deusa Hera: irritada com Pélias e sua constante negativa em fazer sacrifícios em seu nome, Hera traria Medéia, a mágica da Cólquida, para Iolco, a qual por fim mataria Pélias.
De qualquer forma, Hera está sempre presente no mito, pois segundo as principais versões foi ela que aproximou Jasão e Medéia, sem o que o Velo de Ouro não teria sido conquistado. Além dela, Palas Atena (a deusa da Sabedoria, Minerva para os romanos) e Afrodite (a deusa da Sensualidade,Vênus para os romanos) também auxiliam o Herói, pois enquanto essa última permite a paixão entre Jasão e Medeia, a primeira ensina a Jasão e aos marinheiros do Argo a ciência e a arte da navegação.
Graças a esses auxílios divinos, Jasão chega à Cólquida, apaixona-se por Medéia e esta, feiticeira filha do rei Aetes, sob o juramento sagrado de casamento (influência direta de Hera), fornece a Jasão os meios para adormecer o dragão que cuidava do bosque sagrado de Ares.
Morto o dragão e conquistado o Velocino de Ouro, Jasão é ameaçado por Aetes,que aliara-se a Pélias, mas consegue escapar da Cólquida, levando consigo Medeia.
Retorna a Iolco e mais uma vez se defronta com o tio Pélias, que se nega a entregar-lhe o trono - a despeito do sucesso! Medeia, irritada com o comportamento de Pélias (induziu Esão ao suicídio, levou Jasão a arriscar-se e ainda por cima lhe negou o prêmio da vitória, que seria o próprio trono e a identidade real), trama o assassinato deste pelas próprias filhas.
Jasão entrega o trono a Acasto, um dos companheiros do Argo, e se exila em Corinto. Lá, entretanto, aceita a oferta do rei Creonte e sem hesitação casa-se com Creusa (ou Glauce).
Medeia, repudiada e alucinada de paixão repelida, mata Creusa e Creonte,sacrifica suas próprias filhas no altar de Hera e deixa Jasão sob uma maldição: morrer de forma violenta.
A profecia se cumpre quando Jasão, ao inspecionar obras de manutenção em sua nave Argo, morre sob o peso de uma viga de madeira que despenca de um mastro e esmaga sua cabeça.
Não que a desgraça seja constante ao fim da vida de todo ariano, mas vários dos acontecimentos que povoam a vida de homens e mulheres nascidos neste signo estão ali dispostos.
O auxílio feminino (da Anima, nos homens, ou da própria mãe, no caso das mulheres, que cria as condições necessárias) para escapar à destruição no confronto com o "Pai Terrível", é resgatar a própria identidade; as fortes paixões, características dessa Anima "feiticeira" que luta "masculinamente", dominam o cenário da vida inteira; a aspiração por conquistar o mundo para governá-lo, mesmo que abrindo mão da pureza simbolizada pelo Velo de Ouro,se necessário ferindo ou magoando quem mais o ajudou em sua conquista (do que muitas vezes se arrepende depois); e a freqüente triangulação amorosa,especialmente com parceiras ou parceiros que esperam ser resgatados do seu próprio "Pai Terrível".
Nem sempre tem de ser uma pessoa: no mínimo, o ariano está com freqüência envolvido em resgatar uma idéia ou conceito das garras patriarcais sufocadoras. Entretanto, é muito comum também que o ariano, assim como Jasão viu Medéia, veja durante a infância a mãe como uma figura apenas serviçal, o que compromete sua figura feminina interna e sua própria autoimagem (se menina) ou a de futuras companheiras e a da própria Anima (se menino). Como conseqüência, a imagem masculina interna se agiganta, fornecendo precioso combustível fálico masculinizado para os constantes embates arianos contra quaisquer figuras masculinas.
Se o ariano, homem ou mulher, compreende que sua inesgotável energia fálica deve ser posta a serviço de um ideal de justiça e poder de liderança por causas novas, canaliza sua agressividade e aproveita sua imensa capacidade intuitiva e poder de iniciativa, abandonando a belicosidade aparentemente gratuita tão característica do signo. Caso contrário, continua a busca do Velo de Ouro" em cada oportunidade que se manifesta, preso da compulsão em arrancar sua própria identidade das mãos do "Pai Terrível" que teima em negá-la - seja o próprio pai, o marido, uma figura de autoridade e o rival ou parceiro em cada conquista amorosa.

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TOURO
Símbolo: A concavidade voltada para cima significa a aceitação de novas experiências vindas do exterior, tanto positivas como negativas,aprendizados materiais e espirituais. O círculo fechado indica que as experiências vindas de Áries foram assimiladas.

Mito de Touro.
Enquanto símbolo de fertilidade, a figura bovina está presente em muitos mitos.
No Egito antigo, por exemplo, o boi Ápis era filho do primeiro raio matinal do deus-sol, Rá, que fecundou a terra do fundo do rio Nilo - o grande responsável pela fertilidade das terras egípcias. Na mitologia grega, Zeus transformou-se em um touro para raptar e seduzir Europa. E Hera, enciumada de Io, outra das conquistas extraconjugais de Zeus, transformou-a em uma vaca.
O boi é geralmente um símbolo da fertilidade da terra, contrapondo-se em certa medida à fertilidade celestial - cujo primeiro símbolo, o carneiro (Áries).
O boi, ou touro representa as paixões sensoriais existentes no Homem que deverão ser superadas em seu processo de crescimento interno; não através da mera repressão do boi mas, antes, através de um delicado equilíbrio entre essas paixões e seus componentes mais humanizados, de forma a vir a obter um todo ainda fértil, porém mais harmonioso.
De certa maneira, entretanto, o núcleo mítico do taurino parece carregar muito de outra figura mitológica, o Minotauro, monstro meio homem e meio touro encerrado num labirinto da ilha de Creta. Por isso, veremos esse conjunto simbólico mítico.
Essa ilha era governada por Minos, rei que havia conquistado o poder com o auxílio de Possêidon, o deus grego dos mares e dos terremotos, mais tarde denominado Netuno pelos romanos.
Conquistador de outras ilhas e de regiões do continente, Minos certa vez solicitou o apoio do deus para enfrentar os próprios irmãos na defesa do trono, pedindo-lhe que mandasse das profundezas oceânicas um touro sagrado(o touro era uma das formas animais sagradas de Possêidon, junto com o cavalo) como sinal de seu direito divino ao trono.
E mais: prometeu que tal animal seria imediatamente sacrificado no altar do deus, assim que fosse vitorioso no embate político.
Mas o animal era de tal beleza que Minos, por influência direta de Pasífae,sua esposa, esqueceu-se da promessa e após a vitória guardou-o entre os próprios rebanhos, sacrificando outro animal no altar do deus.
Possêidon, irritado com o comportamento desonesto e injusto do rei,solicitou a Afrodite que fizesse Pasífae ter uma irresistível paixão física pelo touro sagrado. E da união dos dois nasceu o Minotauro, com corpo de homem e cabeça de touro, símbolo da perversão de Minos.Horrorizado com tal criatura, gerada por sua própria esposa, Minos incumbiu o artesão Dédalo de construir um labirinto para encarcerar o Minotauro e ocultar tal ignomínia dos olhos dos homens.
Ao mesmo tempo, abandonando sua proverbial sabedoria, que inclusive lhe dera a vitória sobre Atenas com o apoio do próprio Zeus, mais uma vez cedeu aos conselhos de Pasífae e impôs como condição de rendição a Atenas que essa cidade helênica lhe enviasse todo ano catorze jovens para serem devorados pelo Minotauro. Um desses jovens, em determinado ano, era Teseu, herói ateniense e filho suposto do rei Egeu.
Seu pai era, na verdade, Possêidon: uma noite Possêidon possuíra Etra,mulher de Egeu, em uma ilha deserta, gerando-lhe esse filho que sempre fora tido como de Egeu. Se a este coube o papel de pai corporal, Teseu recebe mais, na verdade, de seu pai espiritual, Possêidon; e esse jovem estava destinado a enfrentar o Minotauro para resgatar a liberdade de Atenas,aventura que é talvez o ponto mais alto de todas as suas conquistas.
Antes de irmos adiante, vamos analisar um pouco o que vimos até agora. Minos transformou uma questão política em matéria de interesse pessoal. - mantendo em seu próprio rebanho o touro sagrado, ao invés de sacrificá-lo no altar do deus a quem o ofertara, Minos sucumbiu ao ganho material. Por outro lado, abandonando sua sabedoria e senso inato de justiça pela sedução direta de sua mulher, transformou-se então em déspota faminto de mais poder - mas poder, mais uma vez, material.
A quem Minos servia, ao deus ou a si mesmo, na verdade?Como resultado dessa inversão de valores, o rico e fértil reino de Creta mantinha um monstro devorador escondido, o que faria com que ficasse estagnado até aparecer Teseu!
Esse jovem, filho do mesmo deus que apoiara Minos e engendrara o Minotauro,terá que lutar dentro de um labirinto com a forma bestial de seu próprio pai assim como contra o símbolo do pecado de Minos (a cobiça) e de Pasífae (o incitamento à cobiça). Dessa forma, se Minos cometeu o pecado contra o deus,motivado por interesses próprios, Teseu deverá redimi-lo, motivado por interesses de outrem (a libertação de Atenas e dos jovens que o acompanhavam).
Eram dois os perigos que Teseu enfrentava. Um, o do enfrentamento direto do Minotauro, símbolo acabado do desejo cobiçoso que se mantém oculto no coração labiríntico da própria terra de Minos. Outro, o de conseguir escapar do labirinto em que se meteu voluntariamente, pois do contrário continuaria preso das artimanhas de Minos. E é assim que Teseu, para ao mesmo tempo escapar do adversário (cobiça) e do inconsciente deste (o labirinto), tem de armar-se das únicas possibilidades de vitória: franqueza e pureza. Para isso é diretamente auxiliado por Afrodite, que faz com que Ariadne, filha de Minos, ao apaixonar-se por ele, lhe presenteie com um novelo de fios para orientá-lo de volta à saída do labirinto.
Segundo o mitólogo brasileiro Junito de Souza Brandão, existem outras versões do mito, segundo as quais Ariadne teria oferecido a Teseu uma coroa luminosa ou que este teria recebido tal coroa da própria deusa Afrodite.
De qualquer maneira, não fosse a coroa ou o fio condutor, Teseu dificilmente teria saído do labirinto após derrotar o Minotauro(Para casar com Ariadne,que condicionara assim seu apoio ao herói ateniense, e abandoná-la logo depois). Mas o que se verifica na vida real dos taurinos?
Crescendo sob a égide de um pai ausente ou passivo em casa e uma mãe todo-poderosa e ambiciosa, desde cedo o taurino (seja menino ou menina) teme enfrentá-la e acata suas imposições, deixando que a imagem feminina se agigante dentro de si mesmo e vendo sua imagem masculina inconsciente manter-se passiva frente a qualquer mulher.
Como Minos, cede às imposições sedutoras de sua mãe (cheia de "amor materno) e futuras "substitutas", tornando-se sedento de vantagens materiais e abandonando os dotes de sentimentalidade impessoal de seu pai real (no mito, Possêidon) e de sabedoria do deus que lhe havia dado a vitória, Zeus.
Se, auxiliado por uma paixão sensual (Afrodite) mas humanizada, ousar lutar contra o monstro que carrega em seu próprio labirinto, um monstro cheio de afirmações cobiçosas de "meus" e "minhas", mas ao mesmo tempo não abandonar o raciocínio necessário à superação do labirinto (o fio condutor) e a franqueza necessária para esse encontro decisivo.
O taurino poderá resgatar a si mesmo, através da vitória de uma causa coletiva - a libertação de Atenas, cidade de Palas Atena, a deusa do Raciocínio e do Conhecimento.
Não poderá, entretanto, sacrificar seus impulsos sensuais cúpidos (seu componente nuclear taurino) no altar da somente racionalidade, como não poderá ceder integralmente aos apelos sensuais da propriedade em detrimento de seus próprios ideais de ampliação de conhecimento.
Por fim, cabem alguns comentários sobre Afrodite, ou Vênus, a deusa que permite a Possêidon a criação do Minotauro mas que permite também a Teseu a sua vitória.
Embora não tenha sido casada, Afrodite foi entregue por Hera e Zeus a Hefaístos (ou Vulcano, para os romanos) como esposa; esse estranho deus, o ferreiro que forjava os raios de Zeus e, assim, materializava a interferência de Zeus nos destinos terrestres, fora rejeitado pela mãe(Hera) no nascimento, dada sua feiúra e falta de graça.
Mais tarde, ao descobrir sua extrema habilidade em forjar objetos de rara beleza, Hera decidiu trazê-lo de volta ao Olimpo e entregá-lo a Afrodite como esposo.
Originou-se, assim, um curioso casamento: o de um deus feio e coxo, com a deusa da sedução sensual e da beleza.

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GÊMEOS
Símbolo: A concavidade superior significa o princípio receptivo. Tudo penetra através da concavidade o material e o espiritual, o positivo e o negativo, sendo ao mesmo tempo interpretada pelo Eu e passado ao mundo vivencial. A concavidade inferior é a expressão do conhecimento interpretada pelo Eu.

Mito de Gêmeos Pólux e Castor
Ora nos céus, ora no inferno.
O terceiro signo do Zodíaco nos remete diretamente ao mito de Castor e Pólux (ou Polideuces), filhos gêmeos de Leda, esposa do rei espartano Tíndaro.
Esses, como tantos outros gêmeos (ou mesmo apenas irmãos), sempre representam na história da Humanidade uma complementaridade de pólos opostos
Na Babilônia, Inanna e Ereshklgal eram irmãs inimigas; para os zoroastristas (religião dualista do século VII a.C.), Ahura-Mazdâ (Ormuzd) era o princípio da luz, ao passo que seu irmão gêmeo, Angra Mainyu (Ahriman), representava o princípio da escuridão; no Velho Testamento, Caim e Abel desempenharam esse papel; para os cristãos gnósticos, Emanuel tinha um irmão gêmeo, Satanael, ambos filhos de Deus; e na mitologia romana os gêmeos fundadores de Roma, Rômulo e Remo, simbolizaram uma vez mais esse drama: lutando pelo poder, Remo ataca Rômulo, mas perde e morre.
A figura do pai sempre representa a Lei, a Ordem, a Estrutura, os Valores Civilizadores que devem ser mantidos a qualquer preço, e cabe ao Herói desafiar esse poder que ao mesmo tempo o castra mas o incita: será através da quebra das Leis que ele instalará um novo regime.
De alguma maneira, assuma qual forma mítica assumir,o mitologema "gêmeos" representa pólos de forças positiva e negativa combatendo-se mutuamente, de modo que a força do bem vença - não através de meros embates externos, mas sim pelo embate dentro do próprio ser, cuja unidade o par de gêmeos representa.
O embate entre os gêmeos parece representar, na maior parte das vezes, a luta do ser contra a própria Sombra, a qual é composta pelos aspectos internos negados pelo próprio indivíduo: é o inimigo interno, nascido e vivido conjuntamente, que nunca poderá ser completamente superado mas com o qual o indivíduo deverá combater sempre, pois é desse embate sem tréguas que surge o próprio crescimento da pessoa humana.Na vida do geminiano tal dilema se instala com maior evidência, muitas vezes vivido projetivamente através de sócio, amigo ou irmão (gêmeo ou não): nesse último caso,um é amado pelos pais, representando o lado bom do par, enquanto o outro é o"ruim" e recebe a projeção da Sombra familiar - os aspectos da família que a própria família não aceita em si e "despeja" em alguém, tornando-o verdadeira "lata de lixo" dos detritos familiares... Sem dúvida, em casos desse tipo é bem mais difícil identificar e enfrentar o "inimigo interior", mas em última instancia é esse embate que terá de ser feito.
Vejamos os gêmeos Castor e Pólux.
Apaixonado por Leda, Zeus se transformou em um cisne e a seduziu, ela que estava grávida de Tíndaro e que tinha se transformado em gansa para escapar aos assédios do Deus do Olimpo. Como resultado disso, Leda pôs dois ovos. De um nasceu Castor e Cliterrinestra, crianças mortais, porque filhos do próprio rei de Esparta; de outro, entretanto, nasceram Pólux e Helena(futuro pivô da Guerra de Tróia e esposa de Menelau), ambos filhos de Zeus e por isso, imortais.Observe que em ambos os pares de irmãos temos uma metade mortal e uma imortal.
Castor e Pólux eram muito diferentes, senão mesmo opostos entre si: enquanto o primeiro era guerreiro, forte e impositivo, Pólux era músico, delicado e sensível. Ambos brigavam muito, dadas essas diferenças, até que Castor,envolvido em uma batalha contra dois outros gêmeos morreu.
Pólux, coberto de dor e saudade, pediu a seu pai que intercedesse junto ao Reino de Hades, para onde a alma de Castor havia sido levada, de forma a que Castor voltasse a viver ou Hades aceitasse a vida do próprio Pólux em troca da de Castor. Castor havia morrido, e a palavra de Hades era irrecorrível;além disso, Pólux, por ser imortal, não poderia morrer. Mas o arranjo foi feito e os dois gêmeos receberam autorização para viver um dia cada um, alternadamente, no Reino de Hades e nos domínios de Zeus, a superfície da Terra: assim, enquanto Castor estivesse vivo , Pólux desceria ao Hades, invertendo-se as posições no dia seguinte.
E aí está o núcleo da vivência compulsiva gemimana de suas oposições: em sua fase "mortal", desce aos infernos e convive com a própria Sombra, ao passo que em sua fase "imortal" compartilha dos prazeres divinos; em outras palavras, essa pessoa apresenta forte traço de oscilação de humor, indo da depressão à euforia e desta à depressão novamente, de modo cíclico.
Da mesma maneira, ora comporta-se da forma mais elogiosa possível, de acordo com os padrões da cultura em que vive, ora é completamente insociável. Como diz a observação popular, "possui dois rostos". Ambos os pólos tentam se destruir mutuamente, visando a hegemonia, como que em uma tentativa do Ego de suprimir a Sombra, reprimindo-a em benefício da persona; apenas após haver um processo de assimilação consciente das características de ambos os componentes intrapsíquicos, porém, é que certa paz interna será conseguida, podendo o Ego manter a harmonia do todo psíquico com um ou outro componente predominando a cada momento, sem ameaçar o resultado global da psique.
Porque se deve existir um equilíbrio entre os dois "gêmeos",isso também é verdadeiro entre os "gêmeos psíquicos", a Sombra e a persona. Enquanto esseequilíbrio não é atingido internamente - e no caso dos geminianos isso é mais difícil, dada a força do tema em sua estruturação psíquica inconsciente - um dos pólos é sempre vivido de forma projetiva até que a pessoa se conscientize de que a luta não é externa e, sim, interna: enquanto ela não tiver chegado a bom termo consigo mesma, essas lutas externas continuarão a se dar interminavelmente.
O dilema pode se concretizar através de disputas entre o lado masculino e o lado feminino do indivíduo, entre valores emocionais e valores intelectuais ou mesmo entre objetivos materiais e objetivos espirituais. O perigo, entretanto, é o de que enquanto o geminiano não encarar seu próprio oponente" interno, tenderá fortemente a projetá-lo em irmãos, sócios, amigos ou mesmo um filho do mesmo sexo, combatendo-os como forma de "combater" o seu próprio lado sombroso.
Mas uma compreensão maior do mito dos gemimanos não estará completa se não analisarmos Hermes, deus que apresenta as mesmas qualidades ambíguas. Nascido da união (e não, como em outras vezes da sedução ou estupro de Zeus sobre uma mortal ou imortal) entre este deus e a ninfa Mala (segundo algumas versões, a própria deusa Noite, a mais "profunda" das deusas olímpicas e representante das profundezas do inconsciente e das forças da Natureza),Hermes é o filho mais inteligente de Zeus.
Logo depois de nascido, foi enfaixado e amarrado num salgueiro, árvore sagrada e símbolo da imortalidade e da fecundidade; demonstrando sua habilidade precoce em "ligar e desligar" (como o faz todo o tempo o pensamento, na verdade), desatou-se e mostrou sua verdadeira face: roubou parte de um rebanho de Apolo (Hélios, para os gregos), atou folhas nos rabos dos animais - para que eles não deixassem rastros - e sacrificou doze cabeças aos deuses olímpicos.
Como estes eram onze, o recém-nascido havia se promovido à condição de Imortal.
Apolo queixou-se a Zeus, este interrogou Hermes e o menino, afinal, prometeu que nunca mais mentiria... mas que nunca contaria toda a verdade!
A seguir, encantado com os sons da lira e da flauta de Pá que Hermes havia criado, Apolo deu-lhe em troca um rebanho e um cajado de ouro; Hermes aceitou o "negócio", mas, revelando-se já um bom comerciante, pediu ainda lições de adivinhação - das quais Apolo era o deus por excelência. Assim, o caduceu passou a figurar entre seus atributos, bem como a arte divinatória, ambos necessários à tarefa de pastorear ou guiar os homens.
Não tendo um lugar a ele dedicado, Hermes presidia as estradas, as fronteiras, as encruzilhadas. E mais tarde foi alçado a psicopompo, o acompanhante das almas ao Reino de Hades e de sua esposa, Perséfone: gerado em uma caverna, tinha pleno domínio das trevas, além do fato de ser condutor de homens e ter sandálias de ouro que lhe permitiam andar depressa.
Para o romeno Mircea Eliade, estudioso de mitologia comparada e de história das crenças e idéias religiosas. Mas de acordo com Walter Otto (1969), outro estudioso de mitologia, "falta a Hermes dignidade": ele se vale principalmente de astúcia e não de força, de "mágica" e não de heroísmo.
Nesse ponto, é curioso lembrar outra versão do mito de Hermes, que conta ser ele irmão gêmeo de Afrodite (filha de Urano), com a qual teve um filho, Eros por essa versão, apreendemos outra dimensão de Hermes, qual seja, a de manter ligadas (através de Eros) relações que têm tudo para manter-se separadas, dadas as suas diferenças, ao mesmo tempo que certa paixão(Afrodite) por tal tipo de relações.
Jung (1981) identificou em Mercúrio o misterioso momento em que o inconsciente, às vezes destrutivo, outras vezes hábil, outras ainda terrível, mas sempre ambíguo e fértil, prega peças no ser humano; pois ser "embusteiro" era um dos principais atributos de Hermes, bem como ser andrógino (homem-mulher) e dupla face, visando levar o ser humano à descoberta da verdade, sempre oculta atrás das parcialidades do pensamento.
E um deus benéfico, interessado em síntese de opostos por comparação de diferenças e conflito entre elas; mas pode ser ao mesmo tempo um deus terrível, por sua facilidade de argumentação (que o geminiano utiliza para si e para conviver com os outros), através da apresentação da realidade travestida em ilusão conceitual.
Dessa forma, o convívio consigo mesmo só poderá resultar em harmonia interior se a pessoa se dispuser a reconhecer sua própria Sombra (o "inimigo interno") e a negociar com ela, auxiliado (embora às vezes também "enganado) por Hermes, para que não continue presa da duplicidade compulsiva em seu comportamento e da sucessão interminável de embates projetivos externos.

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CÂNCER
Símbolo: Expressa o princípio gerador (útero). Possui duas concavidades formando um círculo aberto. A parte superior indica um movimento para a esquerda (volta ao passado). A parte inferior um movimento da esquerda para a direita, representando uma vivência do mundo exterior.

Mito de Câncer Aquiles
A "Mãe Terrível" e a ameaça a Câncer
Uma das mais antigas imagens de começo e recomeço da vida, como uma só unidade, é o Ouroboros, ou universo serpentino, a serpente que engole a própria cauda, sendo simultaneamente começo e fim de si mesma; ela é a representação do Todo, que para a mente infantil e para o "primitivo´ parece andrógino, homem e mulher ao mesmo tempo, uma vez que o seu mundo inicial se limita e se basta em "papai" e "mamãe".
É desse Todo que fazem parte as imagens arquetípicas do Pai Divino, que continuamente dá vida e inventividade à sua criatura, e da "Mãe Terrível",que tenta de todas as maneiras evitar o completo nascimento de sua criação.
Nesse par Pai Divino - "Mãe Terrível", ambos os pólos parecem fazer parte da mesma percepção que o inconsciente profundo registrou do processo da vida: o inconsciente coletivo é pai e mãe ao mesmo tempo e é dele (e dos mitos ali constelados ou representados) que nascem as definições futuras a questões relativas a essas duas figuras parentais e à forma pela qual a criança perceberá ambos futuramente, de acordo com os seus filtros de leitura de mundo.
Afinal, por ser um signo regido diretamente pela Lua (símbolo central da imagem materna na carta astrológica natal), Câncer possui uma emocionalidade quase irresistível e exige como principal tarefa de integração interior ou individuação a necessidade de resgatar a própria identidade do regaço materno.
Da "Mãe Terrível", temos na mitologia hindu a figura milenar de Kali: uma mulher sentada, com oito braços nas costas (qual uma aranha), amamentando uma criança com a mão direita enquanto devora outra criança com a esquerda.
Símbolo perfeito da mãe que alimenta fisicamente e nutre, ao mesmo tempo em que impede o pleno desenvolvimento de individualidade da criança que é alimentada, essa imagem aparece em inúmeros mitos revestida de formas diferentes (uma delas, bem mais moderna, é a da madrasta de Cinderela ou a da Bela Adormecida, que se sentem ameaçadas pela juventude e jovialidade da enteada e tramam o seu "adormecimento"). Entretanto, há uma figura mitológica grega que parece representar mais de perto a "Mãe Terrível" que perpassa a vida de todo canceriano,seja homem ou mulher: a deusa Hera e o caranguejo que vivia no pântano da Hidra de Lerna, que nos remetem
diretamente aos doze trabalhos de Hércules.
Enfrentar a Hidra, um monstro de muitas cabeças que habitava no pântano de Lerna, foi o segundo dos "doze trabalhos" que Hércules realizou, todos por inspiração direta de Hera, que o odiava mortalmente.
Zeus se apaixonara por Alcmena, prometida de Anfitrião, rei de Tebas, e através dela resolvera dar a essa cidade grega um herói como jamais existira
Para isso, sabedor da fidelidade de Alcmena, "travestiu-se" de Anfitrião,que estava a guerrear, e teve com ela três noites de amor, engravidando-a de Hércules; a seguir, com o retorno do legítimo prometido e após ter se casado com ele, Alcmena engravidou de Íficles.
Nasceram, assim, dois gêmeos. Não feliz com isso, Zeus tramou a imortalidade de seu filho mortal preferido: adormecendo Hera, fez com que a criança sugasse o seio da deusa. A despeito de a deusa ter acordado e repelido Hércules, borrifando longe o próprio leite e dando origem, com isso, à Via Láctea, o menino tornara-se imortal. E isso, Hera nunca perdoou.
Lançou contra Hércules a maldição da raiva e da demência, e ele acabou por matar os próprios filhos e a esposa; a seguir, já lúcido, Hércules consultou o Oráculo de Delfos sobre como expiar tão bárbaro crime, recebendo como resposta a servidão ao primo Euristeu.
E este, por sua vez, sob mando de Hera, deu-lhe por tarefa os doze trabalhos(dos quais se supunha não sairia vencedor), entre os quais o enfrentamento da Hidra de Lerna.
Na verdade, os doze trabalhos representam a longa série de tarefas que o Herói terá de executar a contento para, depois de todas, renascer um homem novo. Simbolicamente, segundo o mitólogo francês Paul Diel, as múltiplas cabeças do monstro de corpo de serpente configuram os vícios múltiplos, nos quais se prolonga o corpo da perversão, a vaidade.
Vivendo num pântano, a Hidra é particularmente caracterizada como símbolo dos vícios banais.
Enquanto o monstro viver, enquanto a vaidade não for dominada, as cabeças,símbolos dos vícios, renascerão, mesmo que por uma vitória passageira se consiga cortar uma ou outra.
Para vencer o monstro, Hércules usa a espada, arma de combate espiritual,conjugada ao archote, que cauteriza as feridas, a fim de que, uma vez cortadas, as cabeças não mais possam renascer. O archote simboliza a purificação sublime.
Acontece que - e aqui encontramos nosso crustáceo - no pântano de Lerna habitava um imenso caranguejo, enviado por Hera, o qual investiu contra Hércules pelas costas no momento mesmo em que ele enfrentava a Hidra, pinçando-o" pelas ancas e pelos pés. O Herói conseguiu matá-lo e, em seguida derrotar a Hidra.
O episódio nos mostra a raiva da matriarca contra a possibilidade de independência e identidade individual de sua criatura; daí a batalha para livrar-se da mãe ser tão constante na vida dos cancerianos - uma batalha que sempre parece maior do que é realmente, uma vez que a figura materna representa, para o inconsciente mais profundo do canceriano, a unidade ourobórica todo-poderosa que detém os destinos de si mesma e de cada elemento da criação (aquela unidade Pai Divino -"Mãe Terrível" que vimos há pouco).
Na vida do canceriano, o pai está com freqüência ausente (viagens, serviço etc.) e a mãe é percebida como o único pólo de poder no lar, razão pela qual a criança mal consegue apropriar-se do em geral grande poder criativo paterno; geral grande poder criativo paterno; mais ainda: não raro a mãe da canceriana disputa com ela a primazia pelo poder feminino no lar, obrigando-a a "ocultar-se de si mesma".
Assim, essa vivência infantil e aquele padrão mítico emprestam à mãe uma dimensão que ela muitas vezes não possui, o que explica o "complexo materno" encontrado no canceriano (seja ele homem ou mulher): a cada nova relação vem à tona a busca do "útero materno", a busca de quem "cuide" dele, com manifestação de comportamentos infantilizados que se chocam contra a aparente liberdade realizadora da pessoa - ao fim e ao cabo.
Ela está em busca de libertar-se do pesado sentimento de isolamento e separatividade que representou a saída do útero, mas tentando sempre retornar a ele.Muitas vezes esse padrão duplo - o monstro sendo enfrentado e o caranguejo desestabilizando por trás - é vivido projetivamente e encontramos a relação típica na qual o parceiro, ao mesmo tempo em que parece apoiar as tarefas de crescimento do canceriano, "sabota-o" pelas costas nos momentos mais difíceis. Ou vice-versa.
Entretanto, temos de nos aproximar também de outras figuras mitológicas para ampliar o entendimento do profundo substrato mítico de Câncer; para isso,devemos ver de perto o escaravelho sagrado egípcio e a deusa grega Tétis,deusa dos mares e oceanos, de onde toda a vida surgiu.
O escaravelho, que já ocupou o lugar do caranguejo neste signo do zodíaco (assim como a Águia fora o símbolo mais antigo do signo de Escorpião), era considerado símbolo da perpetuidade da vida pelos egípcios, dado o fato aparente de "renascer" de uma bolinha de terra.
Na verdade, eram pequenas bolas de terra e esterco, nas quais o inseto depositava suas larvas, que cresciam com o calor da fermentação do esterco.
O fato de o escaravelho rolar a bola de um lado para outro, após o que a vida surgia, implicou a comparação com a passagem do círculo solar de um lado para o outro do horizonte, graças ao que a vida se manifesta em sua plenitude, levando à sua imediata associação com o deus Sol egípcio, "pai" de toda a criação.
A outra figura mitológica, Tétis, parece explicar diretamente muito comumente encontrada no canceriano de a capacidade de representar as imagens do inconsciente coletivo de maneira criativa.
A deusa, que havia recebido a profecia de que um filho seu seria muito maior do que qualquer deus, foi impedida por Zeus de desposar uma divindade: ela só poderia ter como esposo um mortal, homem comum.
Em outras palavras, somente depois de ter aprendido a canalizar através do Ego seus imensos poderes de criação e transformação, próprios de seu interior inconsciente oceânico, é que o canceriano se realizará.
Porque Tétis nos aproxima mais uma vez da "Mãe Terrível". De Peleu, Tétis concebeu Aquiles, o grande herói da Guerra de Tróia.
Para impedir que Aquiles se expusesse a essa guerreiro, Tétis o vestiu de mulher, pois havia a profecia de que Aquiles teria uma vida curta e cheia de glórias ou uma vida longa mas inglória: Tétis, "Mãe Terrível", preferiu a segunda hipótese.
E assim, às vezes, o canceriano prefere ficar no colo da mãe em vez de libertar seu imenso potencial criativo; outras vezes, fica à espera de que alguém venha realizar projetivamente o seu próprio potencial.
Por isso, a separação da mãe é sempre um enorme rito de passagem na vida do canceriano, marcando definitivamente seu segundo nascimento e, talvez, o primeiro de sua real individualidade.
Mas enquanto não for feito, assim como Aquiles o fez e ganhou imortalidade ao morrer na batalha decisiva da Guerra de Tróia, o canceriano continua a buscar o útero do qual foi separado - mantendo-se impedido, dessa forma, de transcender essa busca e aproximar-se dos dons efetivos de criatividade que herdou do Pai Divino.

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LEÃO
Símbolo: Representa o espermatozóide. Leão é um signo fecundante e criativo.


Mito de Leão O leão de Neméia
Na conquista do amor por si mesmo, o Leão.
Duas figuras distintas, uma da Grécia antiga e outra da Europa medieval, nos transportam ao núcleo mítico do leonino: o mito do Leão da Neméia e a lenda de Parsifal e o Santo Graal.
Antes, um registro importante: o signo de Leão é regido pelo Sol, o que nos aproxima imediatamente da figura do pai (o Sol é o principal símbolo paterno na carta astrológica natal) e nos remete à noção de criatividade infinita - como aliás o permite o próprio Sol no desenvolvimento da vida terrestre e humana. Nesse sentido, temos figuras leoninas perpassando toda a história mitológica da Humanidade.
Para os egípcios, a deusa Solar Sekhmet, com cabeça de leoa, era a responsável (com seus rugidos) por provocar sulcos na terra, no verão, de onde germinavam as plantas, entre elas o papiro e o trigo; para os hindus,Krishna era o Leão; para a cultura do Extremo Oriente, Buda era o Leão dos Sákia; na cultura judeu-cristã Cristo era o Leão de Judá; para os muçulmanos o Leão de Alá era Ali, genro de Maomé.
Como registra Junito Brandão, (1986) "poderoso e soberano, símbolo solar e extremamente luminoso, o rei dos animais possui em alto grau as qualidades e os defeitos inerentes à sua espécie. Encarnação do Poder, da Sabedoria e da Justiça, deixa-se arrastar, em contrapartida, pelo excesso de orgulho e segurança, que lhe conferem uma imagem de Pai, Senhor e Soberano.
Ofuscado pelo próprio poder, cegado pela própria luz, torna-se um tirano,acreditando-se um protetor. Pode ser maravilhoso, tanto quanto insuportável:nessa polaridade oscilam suas múltiplas acepções simbólicas".
O tema leonino, assim como o ariano, parece centrar-se na figura parenta paterna. Isto é, na batalha do Herói contra seu pai ou do filho que busca a própria identidade através do embate com a figura paterna, utilizando os próprios recursos.
Embate esse que, ao contrário dos signos que têm a figura do Pai como centro de seu mito, terá de ser vencido através da aproximação e do amor, e não das armas: somente assim o Herói conquistará seus valores espirituais (sempre frutos do Pai) e atingirá a transpessoalidade tão desejada. A morte do Leão da Neméia foi o primeiro dos doze trabalhos de Hércules.
Esse leão, criado pela deusa lunar Selene ou pela própria deusa Hera, que já vimos anteriormente, vivia numa caverna de duas bocas durante o dia, saindo à noite para aterrorizar os bosques da Neméia, cidade da região grega da Argólida, devorando os rebanhos que lá pastavam.
Era relativamente invulnerável, pois Hera o dotara de tais poderes contra flechas, maças, lanças e tacapes, que tais armas nem sequer lhe arranhavam o pêlo.
Hércules foi à Neméia e enfrentou o leão em frente de sua própria caverna;em um primeiro momento, esquecido da invulnerabilidade do animal, atirou-lhe flechas: nada aconteceu, senão assustar o animal, que se refugiou na caverna
Então Hércules entrou nu e desarmado no covil da fera, munido apenas de um archote para iluminar-lhe o caminho e, ao enfrentar corpo a corpo o animal,sufocou-o, pela garganta com as próprias mãos. A seguir, retirou-lhe a pele e com ela fez uma vestimenta protetora, fazendo de sua cabeça um capacete. A briga de homens contra animais é uma das mais antigas imagens míticas arquetípicas, sendo no seu sentido mais amplo a luta do Ego humano contra os instintos e impulsos impessoais que provem do inconsciente; dessa batalha é que se definirá sempre o caminho de individuação e conquista de identidade da própria pessoa.
Dessa vez, entretanto, trata-se de uma fera destrutiva, pelos fortes impulsos emocionais de que é portadora, e não mais de um crustáceo de sangue frio e "sem paixões", provindo dos reinos do inconsciente profundo,como vimos no signo anterior.
O leão é uma fera domesticável e não somente vencível através da destruição: corresponde às paixões do coração, que ficam a serviço de seu possuidor depois de humanizadas, como Hércules utilizou a pele do Leão da Neméia a seu favor após a vitória.
Como diz Jung no estudo da simbologia deste animal, "a forma animal enfatiza que o rei é poderoso demais ou está revestido por seu lado animal e que, em conseqüência, se expressa apenas "animalescamente", isto é, de forma apenas emocional.
Emocionalidade, quando no sentido de afetos incontroláveis, é essencialmente animal, razão pela qual pessoas nesse estágio são tratadas apenas com o cuidado próprio de quem anda na selva ou com os métodos que o treinador de animais utiliza em seu trabalho". O que se verifica na vida dos leoninos:exposto ao convívio com um pai excessivamente "ético" e "justo", o leonino desde cedo vê punidas com severidade todas as suas fortes reações emocionais e premiadas em excesso suas manifestações de comportamento ético e justo.
Sacrifica-se no altar do perfeccionismo, o que explica sua constante busca pelo "melhor", e não vive a sensação de ser amado pelo que é - mas sempre,apenas, pelo "muito bom" que será capaz de produzir. Dessa forma, suas emoções são mantidas no inconsciente e se tornam verdadeiras paixões arrebatadoras e autônomas que dominam a consciência e o comportamento, sendo colocadas a serviço de quaisquer novas causas. Entretanto, conhecer e dominar" as próprias paixões (sempre uma vivência juvenil das emoções) é passo fundamental no processo de resgate do que de mais elevado vem do pai:o alto idealismo, cuja manifestação errônea é a compulsão perfeccionista, e a sensibilidade ética à justiça, cuja vivência com é a rigidez de padrões de convívio pessoal.
Daí conviverem os três no coração do leonino, enquanto estiver em sua fase menos madura: o idealismo exacerbado, o perfeccionismo implacável e a preocupação ética em demasia.
Mas o Leão é fase do processo e por isso Jung (1977) o associou à figura de Mercúrio no processo alquímico de transformação de matéria-prima bruta em ouro, à medida que a pessoa enfrente suas paixões no fundo da própria caverna, somente com os recursos de que dispõe, e que as coloque a seu serviço de maneira humanizada, isto é, em acordo com seu Ego - razão pela qual muitos reis portavam uma coroa em forma de leão, ou adornavam seu trono e estandarte com o animal: apenas quem conseguiu dominar as próprias paixões pode governar homens, ao oferecer-se enquanto exemplo.
Mas (e no caso do leonino isso é mais evidente ainda, dado o acúmulo de soberba e orgulho desenvolvido como compensação à rejeição paterna na infância) essa transformação só poderá se dar através do amor e da compaixão depois de ter aprendido a se aceitar como se é, e a se amar pelo que se é, o que nos remete a Parsifal e à lenda do Santo Graal, no primeiro século deste milênio.
Von Eischenbach, poeta germânico da Alta Idade Média, escreveu Parsifal (obra que futuramente inspirou o compositor alemão Wagner para uma ópera com o mesmo nome), descrevendo as peripécias de um jovem que busca encontrar o Santo Graal; esse Graal, supostamente o cálice no qual José de Arimatéia recolheu o sangue de Cristo durante o seu suplício na cruz, estava perdido, e todos os cavaleiros e nobres lutavam por encontrá-lo.
Faz parte desse ciclo de lendas o mito de Artur, rei da Távola Redonda.
Conta essa história que estava Parsifal brincando no bosque perto da casa onde vivia com sua mãe (portanto, ainda sem pai), quando dele se aproximaram alguns cavaleiros reais que estavam em busca do Graal. Parsifal imediatamente quis reunir-se a eles em sua busca e comunicou a decisão à mãe esta quis impedi-lo, mas Parsifal, por ter sua vida ligada ao alcance de um ideal e não à mãe, partiu assim mesmo.
Essa partida provocou a morte dela, por tristeza, o que parece estar presente (muitas vezes de forma simbólica) no rito de iniciação de quase todo leonino.
Seguindo os cavaleiros, Parsifal defrontou-se (sem nenhuma razão aparente)com um Cavaleiro Vermelho, o derrotou e passou a usar sua armadura (como Hércules fez com a pele do leão), sagrando-se cavaleiro. A seguir, ajudou uma jovem a atravessar um rio e dela recebeu, como prêmio, um anel: sem dúvida, dada a simbologia da cena, iniciava-se sexualmente. E um pouco adiante, sem esperar, deparou-se com uma enorme extensão de água, no meio da qual um velho pescava, mas sobre a qual não se via nenhuma ponte ou forma de travessia. Questionado por Parsifal se ali seria o fim de todos os caminhos, o velho pescador indicou-lhe o caminho para o Castelo do Graal, até então algo completamente desconhecido por Parsifal.
Para chegar ao castelo, Parsifal atravessou uma larga faixa de terra que,mesmo fértil, estava completamente devastada e improdutiva. Logo que chegou ao castelo, Parsifal compreendeu: seu rei, que na verdade era o mesmo pescador que encontrara antes, tinha sido ferido na altura do fígado(simbolicamente associado a Júpiter, ou Zeus, e sua capacidade de mobilizar poder criativo) e era perpetuamente mantido assim.
Naquela tarde, como em todas as tardes, quatro escravas (uma com uma espada,outra com um cálice dourado, uma terceira com uma bandeja prateada e a quarta com uma lança) entraram na sala onde o rei estava e enterraram profundamente a lança na ferida do rei, tornando a machucar seu núcleo de poder criativo e impedindo-o de reavivar sua terra.
Parsifal observou a estranha cerimônia mas, pouco se importando com o sentido nela implícito ou com a contínua dor do rei, foi dormir. Ao acordar,o castelo estava deserto e Parsifal encontrou apenas uma velha mulher, que lhe disse que se tivesse perguntado "Para que o Graal serve?", condoído da sorte do velho rei, teria imediatamente curado sua ferida e ao mesmo tempo dado vida nova à terra desolada. Mas perdido na própria busca e cheio do orgulho que ela lhe provocava, não o pudera fazer.
Parsifal saiu do castelo, este desapareceu e só reapareceria quando ele tivesse a necessária maturidade e compaixão para fazer a pergunta redentora.
A história prossegue e, depois de muitas aventuras, durante as quais Parsifal vai desenvolvendo a própria capacidade de compaixão e perdendo sua soberba, por fim o castelo reaparece e a pergunta é feita.
Imediatamente o velho rei fica curado, a terra começa a produzir e o rei informa a Parsifal ser seu avô.
Com isso o Castelo do Graal é entregue aos cuidados de Parsifal, que reencontra o pai - mas agora um pai mais antigo, gerador do próprio pai de Parsifal, e não apenas o pai carnal de quem se perdera na infância.
Em outras palavras, o Self, símbolo do pai, motivo pelo qual o leonino se bate tanto para encontrar a verdade!
Não mais o pai do ariano, que deve ser vencido pela confrontação direta, nem o pai do capricorniano, que será vencido (como veremos) através da descoberta dos limites da realidade que não soube oferecer ao filho, mas o pai que é fonte de criatividade e só estava à espera de ser redimido pelo próprio filho - o qual, por sua vez,poderá fazê-lo apenas ao aprender a se condoer e a expor as condições mais simplesmente humanas que carrega dentro de si mesmo, para poder realizar toda a criatividade de que é potencialmente capaz.
Seja o Graal o que for - a causa defendida, a busca de espiritualidade ou algum objetivo pessoal, ele está sempre à frente do impulso leonino de busca atraindo-o irresistivelmente.
Que o leonino não deixe de reconhecer suas qualidades mais humanas - emoções - na defesa irrestrita dessa causa, na busca incansável dessa espiritualidade ou na consecução denodada desse objetivo.

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VIRGEM
Símbolo: Um de seus significados representa um animal com a cauda abaixada, protegendo o órgão da geração. Virgem indica o repouso à castidade. Não há mais a fecundação da matéria e sim do espírito

Mito de Virgem Perséfone
A fuga de Virgem à vida e o rapto de Perséfone. Em muitos lugares essas sacerdotisas eram prostitutas sagradas, que se davam a estranhos e aos fiéis adoradores da deusa. O termo "virgem" era claramente usado no sentido original de não casada, pois essas mulheres eram comprometidas com o serviço da deusa, e seu sexo, sua atração e seu amor não eram para ser usados para sua própria satisfação, ou em função de propósitos
comuns da vida humana.
Não podiam unir-se a um marido, pois sua natureza de mulher era dedicada a um propósito superior, o de trazer o poder fertilizador da deusa para o contato efetivo com a vida dos seres humanos".
Assim a psicóloga junguiana Maria Esther Harding (1985) se expressa sobre as vestais, virgens sacerdotisas entregues aos serviços da deusa Vesta,princípio universal de fecundidade e reprodução.O mito de Virgem nos leva diretamente, entre outras figuras mitológicas, a Perséfone (filha de Deméter deusa da agricultura e da fecundidade, Ceres para os romanos), raptada por Hades, o deus do mundo subterrâneo e das almas dos mortos.
Deméter era, por toda a Grécia mas com variantes de região para região, a deusa das colheitas e da fecundidade da Terra: filha de Cronos e Réia, era essencialmente a deusa do trigo, tendo ensinado aos homens a arte de semeá-lo, colhê-lo e, com ele, fabricar o pão. Com Zeus, teve Perséfone, a virgem eternamente jovem".
Um dia, quando Perséfone (já mulher, mas eterna adolescente) brincava entre as ninfas e suas tias Ártemis e Palas Atena, seu tio Hades a raptou:decidido a transformá-la em sua esposa, atraiu-a com um narciso ou um lírio (ali colocado pelo próprio Zeus) e, saindo de seu reino em uma carruagem puxada por cavalos negros, arrastou-a para o mundo subterrâneo.
Perséfone gritou, Deméter correu em seu auxilio, mas ao chegar ali nada encontrou nem soube do que havia ocorrido. Por nove dias e nove noites vagou com um archote, procurando-a, consumida de saudade. Finalmente, Hélios, deus que tudo sabia, cientificou-a do acontecido. Profundamente magoada com o sucedido, Deméter recolheu-se ao interior de um santuário, negando-se a retornar ao Olimpo e a permitir que a Terra fosse fecundada, enquanto Perséfone não voltasse ao seu convívio.
Com isso a Terra ficou sem vegetação, as colheitas se interromperam e o equilíbrio das estações foi rompido. Zeus, intercedendo junto a Hades, solicitou-lhe que permitisse que sua esposa voltasse à superfície, pois os homens corriam o risco do desaparecimento por fome. Hades, por fim, concedeu que Perséfone passasse oito meses por ano com sua mãe, no Olimpo, ficando os outros quatro com seu marido no Reino do Mundo Subterrâneo. Conseguindo a filha de volta, Deméter retornou ao Olimpo e a Terra imediatamente cobriu-se de verde.Desse episódio mítico nasceram os mistérios de Elêusis (cidade localizada a vinte quilômetros de Atenas), cujo significado maior era o rapto de Perséfone e sua descida ao Hades como morte simbólica, seguida do
retorno glorioso - como a semente que morre no seio da Terra e, ao retornar, multiplica-se em muitos e novos frutos (como a romã, fruta dedicada ao deus do subterrâneo).
O mito dos virginianos sempre nos remete a uma história da relação "mãe e sua filha"; se for mãe-filho, este a experimentará através de sua Anima ou de outras mulheres; como diz Jung, (1977). "toda mãe contém em si sua filha e toda filha, a sua mãe (...) A experiência consciente desses laços dá a sensação de que sua vida se estende por gerações, o que dá a impressão de imortalidade".
O virginiano nasce em um mundo amplamente dominado pela figura materna, que vive na época uma fase crítica em relação à própria sensualidade e corporalidade; assim, ao lidar com a criança recém-nascida, essa mãe lhe transmite a sensação de seu corpo não ser algo "gostoso de se tocar".
Isso cinde profundamente o virginiano (seja homem ou mulher), pois a forte sensualidade presente nas pessoas que têm Virgem no seu signo de nascimento se negam a manifestar-se futuramente.
Como resultado, o virginiano inclina-se profundamente à racionalização e se esquiva de viver sua sensualidade e corporalidade (a primeira dimensão vital concreta) às últimas conseqüências, tentando manter-se imune aos apelos da Vida até o momento em que a Vida, como Hades, se intromete e o obriga aenfrentar a experiência vital de forma mais plena.
Isso explica a duplicidade encontrada com freqüência no signo, perceptível no embate entre uma timidez e uma pudicícia muito fortes, de um lado, e o que se poderia chamar de comportamento sensual não ortodoxo, de outro.
Outra figura mitológica que encontramos ligada a este signo e que nos ajuda bastante a entender os aparentes paradoxos vividos pelo virginiano é a da deusa Astréia.
Que representava o principio da justiça e da Harmonia.
Essa deusa, filha de Zeus, vivia na Terra entre os homens, numa época em que a Humanidade não conhecia desavenças nem desordens, ensinando a obediência às leis naturais.
Com a gradual corrupção humana, entretanto, Astréia irritou-se com a Humanidade e deixou a Terra, indo para o Olimpo e transformando-se na constelação de Virgo.
Ela simbolizava, assim, a ordem intrínseca da natureza, e sua irritação com a Humanidade é o símbolo mítico do profundo desgosto virginiano por desordem caos e desperdício de tempo ou recursos: todas as coisas têm seu lugar certo, encadeadas no tempo, em ciclos naturais de rara harmonia, donde também a inclinação virginiana a ritos de justiça e reimplantação da ordem algum dia profanada e o seu extremo criticismo a tudo aquilo que lhe parece fora de lugar ou em desarmonia.
Em sua fase imatura, o virginiano (ou a virginiana) mantém-se distante da própria capacidade de amar e de viver; tendo sido submetida a muitas críticas no lar materno e ao afastamento das próprias sensações corporais, a pessoa duvida de si mesma e inclina-se poderosamente a relações de muito trabalho e pouca paga, - quer do ponto de vista profissional, quer do ponto de vista emocional-afetivo. A força da deusa, porém, pressiona por manifestar-se e o virginiano muitas vezes termina por viver em sua vida o papel de Sereia, envolvida num ritual narcíseco de amor por si mesma - a
deusa síria Astargates, em muitos aspectos semelhante a Deméter, era simbolizada como um ser com corpo de mulher e pernas em rabo de peixe.(Não custa lembrar que as sereias eram figuras míticas que se dedicavam a dois prazeres: observar-se no espelho das águas, num ritual de amor narcíseo, e cantar para os viajantes que por elas passavam, para que estes, não conscientes dos rochedos onde as sereias se postavam, naufragassem na tentativa de amá-las...).
Mas, como lembra Maria Esther Harding ao se referir à inclinação feminina nos mistérios do próprio corpo, "quando ela renuncia a suas pretensões pessoais, a energia e a libido, que a princípio tinham propósitos individualistas, fluem para um lado feminino verdadeiro - para o qual ela fez o sacrifício (...) Dessa experiência nasce o poder de amar o outro.
Antes de submeter-se a tal iniciação, seu amor não é mais do que desejo. Ela não pode mesmo ver a diferença entre "eu te amo" e "eu quero que me ames"não pode diferenciar entre "eu te amo" e "quero a satisfação que podes me dar". Quando tiver passado por uma experiência interior análoga à antiga prostituição no templo, os elementos do desejo e da possessividade terão sido abandonados, transmutados através da apreciação de que sua sexualidade e seu instinto são expressões de uma força divina, cuja experiência tem um valor inestimável, bastante distantes de suas satisfações no plano humano.
É impossível explicar a transformação que acontece quando o amor instintivo é aceito e assimilado dessa maneira, continua a psicóloga, "pois trata-se de uma dessas mudanças misteriosas e inexplicáveis que pertencem ao reino psicológico, o reino onde o físico e o espiritual se encontram ( ... ) No entanto, é claramente observável que, através de uma experiência desse tipo, o amor emerge, um amor que vê a situação da outra pessoa e pode altruisticamente simpatizar-se e apreciar".
"Afirma-se que a deusa Lua, em seu papel de prostituta, possui essa espécie de amor", finaliza Maria Esther Harding (1985). "Ishtar (deusa babilônica análoga a Deméter/Perséfone, com seus múltiplos selos e seu papel de fecundadora de colheitas e da Natureza) apresenta-se assim: "Uma prostituta compassiva sou eu".
Compaixão também é uma das principais características da Virgem Maria, que,embora nunca tenha sido considerada uma prostituta sagrada, tinha certamente experimentado uma submissão correspondente, através da qual ganhou seu título de Virgem. O amor que nasce da iniciação no templo tem a característica maternal: as lendas e os mitos são unânimes em afirmar que a deusa, como virgem, concebe através de uma concepção imaculada. O resultado do hierosgarnos (casamento sagrado) é a virgem engravidar; seu filho é o Herói , o Salvador, o Redentor. É o deus-homem, participando tanto da
natureza do homem como da de deus.
Psicologicamente, essa criança representa o nascimento de uma nova individualidade, que substitui o Ego da mulher, sacrificado através do ritual do templo. O mesmo vale para o ritual masculino virginiano, quando ele se integra a si mesmo através da maturação de seu núcleo feminino sensual e do abandono das expectativas coletivas em prol da força da própria vida que corre em suas velas. Deixa de fazer "o que é aceitável" (o que sempre exige muita autocrítica), abandona a compulsão pelo "seguro" e mergulha nas profundezas de si mesmo, isolado e solitário - de onde
renascerá como filho natural de seu próprio "casamento interior".
Porque se "maternidade", no sentido mais amplo da palavra, é dar à luz o fruto da própria capacidade criativa, então esse mito se aplica a virginianos de ambos os sexos, pois todos são verdadeiramente compelidos a mostrar publicamente, de forma concreta e expressiva, de quanto são capazes.
Ao fazer isso, "matam" a Sereia que vive dentro de si mesmos, pois a realização material elimina qualquer possibilidade de perfeccionismo - em função da qual existia o criticismo exacerbado em relação a si e aos outros.
Com o desaparecimento do narcisismo, em função da aceitação do outro como pólo essencial para a plena realização da identidade (já que a vivência de sensualidade não consegue se dar isoladamente), a possibilidade de amar se manifesta de fato - seja esse outro quem for, como o faria a sacerdotisa da deusa, pois o núcleo mítico de Virgem não reconhece a submissão a "marido"ou "mulher" como norma ou fonte principal do encontro consigo mesmo.

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LIBRA
Símbolo: As duas linhas horizontais com um semicírculo central indicam que estas duas linhas são antagônicas enquanto não se conseguir o equilíbrio ou uma união entre os pólos.

Mito de Libra Paris
Libra e o equilíbrio através do Outro. O sétimo signo nos oferece uma multiplicidade de mitos gregos: a deusa Palas Atena, o troiano Páris e osábio Tirésias. Todos, cada um à sua maneira, nos levam ao núcleo mesmo da vivência arquetípica do libriano: a necessidade de conciliar opostos, através da valorização dos mesmos, visando obter a harmonia final interior e exterior. Antes, contudo, vejamos o mito egípcio de Maat, deus que "pesava a alma" dos mortos para decidir-lhes o destino.
No ritual egípcio, quando a alma de um morto descia para o reino de Osíris (o equivalente egípcio de Hades), guiada por Anúbis (o equivalente egípcio de Hermes), em sua tarefa de condução das almas, como vimos anteriormente,era submetida ao confronto com Maat, o deus da verdade.
A alma confessava seus pecados e, depois disso, era colocada em um prato de balança, postando-se Maat no outro prato. Se a alma tivesse confessado toda a verdade e com se purificado, os pratos ficavam em equilíbrio; caso contrário, o prato de Maat pesava mais - pois a verdade sempre prevalece - e a alma era destruída.
Maat, nesse contexto, personificava a Lei, a Verdade e a Ordem. A figura abaixo ilustra esta passagem. De forma semelhante em termos de significados,temos a deusa grega Palas Atena. Nascida diretamente do cérebro de Zeus, que em acesso de dores de cabeça pediu a Hefaístos que lhe abrisse o crânio com um martelo de forjaria, Palas Atena identifica-se com os atributos de deusa da inteligência, da paz, das artes e dos artistas; estrategista e apegada àssoluções práticas, representa a mulher que se deixa guiar principalmente pela razão e não por arrebatamentos afetivos ou instintivos. Por isso, prefere a companhia masculina (com a qual identifica, projetivamente, seu poderoso Animus), sendo preciosa confidente e amiga íntima, a despeito de usar muitas vezes o sexo como "ato calculado".
Palas Atena é a tentativa constante de atingir o equilíbrio de opostos através do julgamento racional e da valorização das diferentes necessidades.Para Liz Greene, (1987) "Virgem e Libra apresentam a mesma busca de harmonia e justiça, mas em diferentes esferas"; Libra parece projetar essa visão de justiça em uma visão bem mais ampla da vida, e isso dá a este signo as condições necessárias para um intenso idealismo e crença na beleza da vida. Eu nunca senti que Libra está voltada, como as descrições mais populares afirmam, ao amor romântico, flores e candelabros - exceto como rituais de cortejo necessários, dentro de uma concepção ideal. Romantismo não é uma propriedade de Libra.
O signo é muito mais voltado a questões de moralidade e proporcionalidade, ética e julgamento. Esse tema de moralidade é um dos que eu mais encontrei na vida de librianos, pois parece haver em seu coração a necessidade de conhecer a divindade que sustém a balança do julgamento e do perfeito equilíbrio; por isso, para que possam ter tal experiência, o constante desequilíbrio entre extremos e a violação de leis são acontecimentos quase necessários, dos quais o libriano não escapa facilmente".
Não mais o equilíbrio entre leis naturais e os acontecimentos da vida, como vimos em Virgem, pois Libra é um dos únicos signos do zodíaco simbolizados por um objeto humano: a Balança. Trata-se aqui de, equilíbrio entre eventos e formas próprios dos seres humanos, em sua forma social de cultura.
Por isso, como Platão afirmou, "não há signo mais voltado ao bom, belo e verdadeiro". Entretanto, os mitos de Paris e Tirésias nos mostram outras faces do conflito vivido pelo libriano, pois embora ele tente o tempo todo equilibrar opostos e, assim, harmonizar da melhor forma possível os eventos, as formas, os sons e as cores (donde a tradicional inclinação estética libriana), os deuses que nos habitam - e a ele também - nem sempre "jogam de acordo com as regras".
Páris (ou Alexandre) era o filho mais novo de Priamo, rei de Tróia, e da rainha Hécuba. Poucos dias antes de dar à luz, Hécuba sonhou com uma tocha incendiando Tróia, e um oráculo prognosticou que seu filho seria a ruína da cidade. Dessa forma, Priamo mandou matá-lo, mas Hécuba entregou-o a pastores que o criaram no monte Ida até a idade em que, voltando a Tróia, venceu um torneio, foi reconhecido por sua irmã Cassandra e aceito de novo por Príamo.
Nascido com o dom da diplomacia e da elegância, foi escolhido por Zeus para decidir uma disputa entre três deusas: Afrodite, Palas Atena e Hera disputavam o titulo de "A Mais Bela do Olimpo" e a escolha coube a Páris,que entregaria à vencedora uma Maçã de Ouro, um Pomo das Hespérides. Páris quis se negar a servir de juiz em páreo divino (propondo-se, como bom libriano, a dividir igualmente o prêmio entre as três), mas Hermes, por solicitação direta de Zeus, o convenceu a fazê-lo. As deusas ofereceram-lhe vantagens (numa prática de suborno, como que a provar que não há nada de novo sob o Sol ... ): Hera prometeu-lhe o império da Ásia, Palas Atena ofereceu-lhe sabedoria e vitória em todos os combates de que participasse e Afrodite assegurou-lhe o amor da mulher mais bela do mundo a imortal Helena,a irmã gêmea de Pólux que vimos há pouco, esposa de Menelau, rei de Esparta, e pivô da Guerra de Tróia.
Mais uma vez, como bom libriano, Paris não se deixou seduzir pelo poder e riqueza embutidos na promessa de Hera; igualmente não o atraiu o poder de vencer batalhas nem tampouco uma imensa sabedoria, ofertas de Palas Atena. Entretanto, a oferta de Helena, mesmo sabendo-a casada, o seduziu - e a vencedora do certame foi Afrodite. Páris,como muitos librianos,defrontou-se com a necessidade de realizar um julgamento entre valores pessoais e uma escolha ética, aos quais respondeu da forma característica do signo. As escolhas librianas nos amores costumam ser confusas e difíceis, e os muito freqüentes triângulos amorosos, em geral, colocam o libriano em
situações de dilema e insegurança.
As hesitações e as comuns "tentativas de acerto" serão indicação do imenso medo em fazer escolhas erradas - pelas conseqüências que poderão advir - assim como do forte impulso em ter todas as coisas "equilibradas", sem abrir mão de nenhuma em proveito de outra. Se substituirmos Paris por uma mulher e as três deusas por três pretendentes, teremos um padrão tipicamente libriano em ação. Nesse "rearranjo", no qual ela pode estar frente a três "deuses",ela pode ter como oferta a inteligência de Hermes, a bravura e a coragem de Ares ou os prazeres do êxtase de Dioniso; contudo, sempre haverá hesitação,pois, assim como para Páris, a escolha por qualquer dos candidatos poderá ser seguida da raiva ou do ressentimento dos outros dois.
A propensão libriana de ficar acuada entre duas ou mais alternativas (seja profissional, afetiva ou espiritual a esfera da escolha) parece indicar o padrão geral de desenvolvimento do signo: por mais que incomode a divisão ou a desarmonia no universo, por mais que isso comprometa sua forte necessidade de harmonia e convivência "pacífica" entre todos os opostos, algo dentro do libriano o força a dividir-se dolorosamente entre esses mesmos opostos até descobrir a própria identidade através de um profundo processo de valoração afetiva e escolha pessoal.
Porque a vida inicial do libriano costuma apresentar este desafio: em geral nascida em uma casa onde pai e mãe estão por se separar, só não o fazendo por causa das crianças" ou "por causa das aparências sociais", a criança libriana é obrigada, desde cedo, a apegar-se demais a ambos os pais - como se fosse dela a responsabilidade (e a possibilidade) de mantê-los juntos!Dessa forma, ao mesmo tempo em que lapida a "diplomacia" natural, para conseguir sobreviver no mar tempestuoso das emoções e sentimentos em desarmonia no lar paterno, dilata uma imensa preocupação com a aparência e aceitação sociais, e desenvolve uma raiva profunda por ambas as figuras parentais. Raiva, entretanto, que reprime e agiganta profundamente dentro de si com parte de sua Sombra, o que a de entrar em contato mais pleno com
outros sentimentos e emoções enquanto não a enfrentar corajosamente.
Só então poderá descobrir seus reais valores pessoais,o que a auxiliará nas decisões éticas, estéticas e de valores a que a vida obriga e para as quais tem inimitável pendor.
Para isso,encontramos no mito de Tirésias a possibilidade de utilização de preciosos recursos, frutos da "visão interior". Tirésias, ao atingir a idade da iniciação pela qual passava todo jovem, subiu ao monte Citéron e viu duas serpentes em pleno ato de cruzamento. Após separá-las,matou a fêmea e foi,por isso, imediatamente transformado em mulher, permanecendo assim por sete anos.
Após esse período, subindo o mesmo monte, deparou com cena idêntica;dessa vez, matou o macho e recuperou seu sexo original. Assim, como conhecia avida interior dos dois sexos, foi chamado por Zeus e Hera para decidir uma pendenga entre os dois deuses: "Qual sexo tem mais prazer no amor, o homem ou a mulher", era a questão divina.O mito de Tirésias parece sugerir que a aparente ambivalência sexual (no sentido mais amplo do termo) verificada nos librianos tem raízes muito mais profundas do que o excessivo apego aos pais na infância (que por si só já seria uma explicação), pois ao entrar em contato direto com o princípio feminino, embora através da "morte" de seu lado masculino, e depois com o princípio masculino, através da "morte" do seu lado feminino, Tirésias obteve uma percepção dos opostos polares básicos da vida e de como harmonizá-los através da visão interior: a cegueira exterior forçou-o a voltar sua visão para o mundo interior, o mundo do próprio Self, onde todas as respostas são encontradas.
Descobrindo, graças a isso, que os verdadeiros valores que devem ser harmonizados são os interiores - assim como o libriano tem de aprender a se harmonizar com sua Anima (se um homem) ou seu Animus (se uma mulher), antes de realizar melhores escolhas afetivas entre valores diferentes na sua vida diária.

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ESCORPIÃO
Símbolo: É o símbolo da genital masculina e feminina. Representa o estado da
evolução em que os seres se preparam para a perpetuação da espécie. Tanto no
sentido material como espiritual.

Mito de Escorpião Orion
Poderíamos começar nosso mergulho no mito escorpiano através da figura de um dos maiores caçadores de toda a mitologia grega: Orion, o que já nos explicaria a habilidade de pesquisa e a persistência da pessoa nascida sob este signo.
Entretanto,isso ainda será pouco para abranger a vastidão e a profundidade da mescla desta psique com mitos ligados à sexualidade e à raiva. Em todo caso, iniciemos por ver esse herói.
Filho do deus Possêidon, Orion era um gigante - como, aliás, outros heróis:Hércules, Teseu, Aquiles e Aristômaco, entre muitos outros. Dado o seu imenso apetite sexual, tentou um dia violar a própria deusa Ártemis, deusa da guerra e da caça, e virgem eterna, filha de Zeus e Leto.
A deusa, para castigá-lo, mandou um escorpião gigantesco morder-lhe o calcanhar, matando-o instantaneamente. Pelo serviço prestado a Ártemis, o escorpião foi transformado em constelação e passou a simbolizar a raiva da mulher por ter sido ameaçada de estupro, ou em outros casos, como veremos à frente, por ter tido sua oferta afetiva e sexual rejeitada.
O escorpião, assim como a aranha que está na figura de Kali a serpente vista no Ouroboros e o caranguejo que vivia no pântano de Lerna, também simboliza os processos inconscientes da mente profunda, dedicados a manter ativas as funções corporais mais básicas de sobrevivência e reprodução.
Todas, de alguma maneira, representam a "Mãe Terrível", que se insurge contra a tentativa de sua criatura de escapar do reino do inconsciente corporal e adentrar o reino do incorpóreo espiritual.
Trata-se de uma batalha que temos, todos, de enfrentar algum dia; entretanto no caso do escorpiano, o confronto entre o mundo instintivo e o reino espiritual parece ser cíclico por toda a sua vida, donde o "tormento de alma e a força emocional transformadora (ou arrasadora) que as descrições mais populares atribuem a este signo.
Essa força emocional reside no mais profundo inconsciente do escorpiano e buscá-la requer muita coragem e obstinação, além de uma fina intuição e muita sensibilidade (outros atributos do signo), assim como Perseu precisou tê-los para cortar a cabeça da Medusa. Porque é nesse mito que encontraremos nosso Herói escorpiano em sua plenitude.
Perseu era filho de Zeus e Dânae (a qual, por sua vez, era na verdade tataraneta de Zeus); tendo sido encerrado por seu avô Acrísio numa arca de madeira junto com a mãe, pois uma profecia afirmava que esse menino destronaria o velho rei, foi dar às costas da ilha de Sérifo, governada pelo tirano Polidectes e na qual foi encontrado e criado por Díctis, um pescador muito humilde. Cresceu e tornou-se forte e belo, nunca se afastando da mãe e guardando-a contra todas as investidas de Polidectes, pois o rei mantinha viva uma paixão por ela.
Entretanto, depois de ter um dia prometido a Polidectes que lhe traria a cabeça cortada da Medusa e não ter cumprido a promessa - feita em um momento de embriaguez, durante um jantar na casa do rei -, Perseu. foi obrigado a fazê-lo: caso não o conseguisse, o rei ameaçava violentar Dânae.Começou assim o longo e profundo processo iniciático de Perseu, graças ao qual ele se separou de sua mãe e desenvolveu seus próprios poderes, independentes dos poderes maternos (ela, também, de ascendência divina).Como em quase todos os mitos do Herói, este é secundado ou ajudado em sua tarefa por inúmeros deuses, pois sua condição sobre-humana poderia torná-lo fácil presa da hybris e colocar em risco, assim, o sucesso de sua missão. Dessa vez, Perseu recebe ajuda de Hermes e Palas Atena, sem os quais dificilmente teria conseguido descobrir o caminho do esconderijo da Medusa.
Em um primeiro momento, Perseu teve de procurar as três Gréias,entidades semidivinas que possuíam apenas um olho e um dente, dos quais se serviam alternadamente: quando uma vigiava com o olho, as outras duas dormiam; quando uma comia com o único dente, as outras duas esperavam sua vez.
Ajudado por Hermes (que tinha a capacidade de não se perder na escuridão e conhecer todos os caminhos) e por Palas Atena (com seus dons de inteligência e coragem), Perseu teve de ir ao país das sombras eternas, ou da noite, onde nunca chegava um raio de Sol sequer.
Lá chegando, roubou o olho da Gréia que estava de vigília e, barganhando sua"troca", recebeu indicações de como chegar ao esconderijo da Medusa; além disso, recebeu o capacete de Hades, que tornava invisível quem o usasse, um par de sandálias com asas e um tipo de alforje ou saco, para guardar a cabeça da Medusa.
Finalmente, recebeu de Hermes uma espada de aço e de Palas Atena um escudo polido como um espelho.
Com esses apetrechos, dirigiu-se ao covil da górgona; esse monstro, com o qual apenas o deus Possêidon (bisavô de Perseu) fazia amor, tinha cobras como cabelos, presas de javali, mãos de bronze e asas de ouro, petrificando com o olhar quem dela se aproximasse. Fora assim transformada por Palas Atena por ter uma noite dormido com Possêidon em um dos templos da deusa,quando ainda era uma bela mulher, e desde então mantinha-se escondida das vistas de todos os mortais.Lá chegando, Perseu pairou nos ares com as sandálias aladas e não olhou diretamente o rosto da Medusa, para evitar ser petrificado: utilizou o escudo como espelho e, com a espada de Hermes, cortou a cabeça do monstro, guardando-a no alforje especial que carregava.
Do pescoço cortado da Medusa nasceu Pégaso, um cavalo alado, filho da górgona e de Possêidon, que antes não conseguia nascer dada a raiva sentida pela Medusa, raiva que a impossibilitava de partejar. A seguir, Perseu saiu vitorioso do covil montado em Pégaso - para enfrentar novos desafios e retornar vitorioso à sua terra natal.
No caminho de casa, que vinha do ocidente para o oriente (ao encontro do Sol portanto), Perseu passou pela Etiópia. Ali chegando, soube que um monstro fora enviado por Possêidon para assolar esse reino; se Andrômeda, filha real fosse oferecida como sacrifício, esse flagelo cessaria. Acontece que o Herói se apaixonou pela donzela e, sob promessa de casamento, matou o monstro com as mesmas armas que haviam derrotado a Medusa. Com isso, Perseu dava mais um passo em seu desenvolvimento: separação-iniciação-retorno Entretanto, ao chegar a Sérifo, Perseu soube que na sua ausência Polidectes tentara violentar Dânae. Enraivecido, petrificou o rei e toda sua corte, expondo-os à cabeça cortada de Medusa. A seguir, depois de entregar o trono ao pescador humilde que o criara, devolveu as sandálias aladas, o alforje e o capacete de Hades a Hermes, para que o deus os restituísse às ninfas, suas verdadeiras guardiã, e retornou à sua terra natal, juntamente com Andrômeda.
Vejamos agora o que esse mito nos oferece sobre o núcleo escorpiano. Em primeiro lugar, ressalta a analogia entre o episódio da arca de madeira lançada num rio e muitas das passagens registradas em inúmeros mitos: Páris é exposto no monte Ida, Édipo é deixado pendurado em uma árvore, Rômulo e Remo são abandonados em um bosque, Moisés é lançado em uma cestinha no rio Nilo, entre outros heróis. Todos, cada mito à sua maneira, nos contam do Herói com "predestinação", graças à qual consegue sobreviver e, mais tarde, cumprir sua missão; essa "predestinação em varias mitologias, nos aponta crianças que um dia serão responsáveis pela purificação das faltas cometidas por sua comunidade ou família. Da mesma forma, todos esses mitos indicam a profunda rejeição inicial sofrida pelo Herói e sua longa luta para superá-la
E o que se verifica na vida concreta do escorpiano não é muito diferente: em geral, nascido logo após uma grande perda emocional sofrida pela família,essa criança sofre uma profunda rejeição emocional por parte de seus pais abalados com a perda recente (de pessoa, objeto ou expectativa), nada conseguem dar de si em termos de afeto, carinho, amor e atenção,senão o mínimo necessário à sobrevivência física da criança.
Assim, o escorpiano constrói sua vida sobre a procura constante de reobter o "regaço materno" que um dia lhe foi "negado". Mas terá de afastar-se dela e buscar em si mesmo o afeto não obtido, deixando de se submeter à mãe ou tentar imitá-la, com o que conseguirá aliviar a imensa raiva que isso lhe causou precocemente. Além disso, como no caso das crianças "exposta", o escorpiano vive uma marcada diferença entre si e sua família, só se libertando disso através do sacrifício de si mesmo e do "renascimento" sob nova identidade.
Lembra o psicólogo Otto Walter (1969) que quando um celta estava em dúvida sobre sua paternidade, colocava o recém-nascido sobre um escudo enorme e punha-o a flutuar nas águas de um rio; se essas águas empurrassem o escudo para uma das margens, a paternidade era legítima, mas se a criança se afogasse, estava, provado que a mulher praticara adultério, e desse modo estava também condenada à morte.
Como os filhos nascem d´água, a arca simboliza o ventre materno, de sorte que o abandono nas águas representa diretamente o processo de nascimento ou de um "renascimento catártico". Carregando em si a raiva provocada precocemente pela rejeição sofrida, o escorpiano mal consegue encará-la de frente: assim, terá de lançar mão do espelho fornecido pela deusa da inteligência e da coragem (para evitar que se paralise no momento dessa confrontação) e da espada fornecida pelo deus do pensamento (com a qual poderá cortar o "mal assim identificado)".Sobre culpa, admissão e expiação,cabe lembrar o mitólogo Junito Brandão: (1986;); "O reconhecimento pode ser - e o é, quase sempre - uma forma específica de exaltação imaginativa: um arrependimento exagerado. O exagero da culpa inibe o esforço reparador (...)
Não basta descobrir a falta: é mister suportar-lhe o olhar de maneira objetiva, sem exaltação ou inibição - vale dizer, sem exagerá-la ou minimizá-la. O próprio reconhecimento deve estar isento do excesso de vaidade e de culpabilidade."Com esse enfrentamento corajoso, Perseu conseguiu libertar Pégaso, símbolo da possibilidade de "voar" entre o Céu e a Terra, qual ponte viva entre opostos (não podemos nos esquecer de que o antigo símbolo deste signo era a Águia). Graças a esse "parto", Perseu conseguiu ir adiante em sua viagem de iniciação e utilizar os poderes da
Medusa, agora despojados de seu componente maléfico, para vencer novas causas.
Do mesmo modo, como o Herói grego, o escorpiano deverá enfrentar o monstro - "culpa raivosa" e "mágoa ressentida" - em benefício da mulher amada (tanto faz qual seja o sexo dessa pessoa: se homem, em prol de sua escolha afetiva;se mulher, em prol do desenvolvimento do próprio núcleo feminino). Para isso mais uma vez dispõe de recursos oferecidos pelos deuses, pois somente assim poderá redimir sua primeira figura feminina: a "Mãe Terrível", seja ela um escorpião, uma serpente ou um peixe voraz.
Em outras palavras, apenas enfrentando sua própria natureza instintiva quase cega, a face escura daquela "Mãe Terrível", é que o escorpiano conseguirá libertar e integrar seu núcleo feminino pessoal, primeiro passo para a integração corpo-espírito, uma possibilidade há muito tempo ansiada. Como diz Sylvia Brinton Perera, psicóloga junguiana, (1985) "precisamos passar por uma regressão controlada" até os níveis da fronteira com o mundo subterrâneo da deusa escura - de volta ao que éramos antes de termos nossa conhecida forma atual, de volta aos níveis mágicos e arcaicos da consciência e às paixões e ódios transpessoais que ali nos destroem e alimentam ao mesmo tempo: é a volta à mente-corpo e aos estágios pré-verbais do útero-túmulo,
em busca do feminino profundo, da "mãe dupla" de que fala Jung".
Mas isso não pode ser conseguido com raiva ou paixões fortes - apenas com o auxílio da inteligência e da coragem é que o poder "do monstro" será revertido em favor do Herói. Semidivina, a criatura terá de ser transformada pois nunca será inteiramente destruída. O risco é o de a pessoa ser "tomada de orgulho pelos poderes de transformação que possui, quando se tornará escrava dos mesmos e perderá sua própria salvação": esta tênue linha entre utilizar seus poderes com sabedoria e ser utilizado por seus próprios poderes é o que separa, há milênios, o Mago do "possuído".
Da mesma cultura medieval de onde retiramos Parsifal e a lenda do Santo Graal podemos buscar Fausto, representante ocidental da luta do Mago contra seu "lado sombrio", um lado cheio de amargura, raiva e necessidade cega de poder sobre as pessoas ou eventos que algum dia o magoaram. A figura de Fausto apaixonou Jung, pois sua história nos relata um drama freqüentemente vivido por aqueles que atingem as profundezas arquetípicas do poder inconsciente - uma fronteira indistinta muitas vezes percorrida pelo escorpiano, em sua luta contra a "Mãe Terrível": a "venda da alma" ao "Diabo. Fausto, de acordo com o clássico de Goethe, fez um pacto com o Diabo: em troca da vida eterna, vivida como um momento de emoções "sem fim", e do amor de Margarida, entregava sua alma a Mefistófeles; não conseguia admitir que Margarida, por quem tivera súbita paixão, o rejeitasse; mais ainda, pensava garantir dessa forma a eterna durabilidade de suas emoções, com o que negava a fluidez da própria vida. A atitude de cinismo com multa freqüência encontrada no escorpiano, está profundamente mesclada a seu próprio núcleo mítico; então, mesmo disfarçada sob um aparente otimismo, tal atitude manifesta sua destrutividade através de eventos projetivos na vida da pessoa, que a expõem à própria Sombra.
E a suposição inconsciente de que a vida só vale a pena se "parar congelada" num momento de felicidade ou raiva, faz o escorpiano mostrar sua face possessiva e retentiva, que tantas vezes o incomoda em sua busca de afeto. Busca essa, por fim, geralmente vivida em momentos de forte sexualidade,emprestando ao escorpiano esse traço tão marcadamente presente nas descrições tradicionais: forte impulso sexual.
No fim de Fausto o bem vence;"perecendo" em sua busca de poder e prazer e resgatando sua profunda natureza divina, o Herói resgata seu lado feminino -que encontra, pelo amor a Margarida -, e se integra a si mesmo e à vida. Para isso, teve de "sujar as próprias mãos" com egoísmo, cinismo e cobiça, além de luxúria.
Entretanto, o motivo central de sua procura é um só, amor, e é isso o que o redime e o leva a uma longa jornada entre sexualidade e espiritualidade.
A combinação entre essas duas dimensões humanas é bastante difícil e delicada, razão pela qual muitos escorpianos abafam um dos pólos e hipervalorizam o outro. Entretanto, somente através desse "embate" e do confronto com a "Mãe Terrível" é que poderão harmonizá-los e reencontrar sua identidade, extraída do reino noturno de sua emocionalidade profunda e transformadora.
Porque, nesse trabalho, os poderes "mágicos" do inconsciente emocional mais atávico serão liberados e postos à sua utilização - para que ele faça como Perseu, que entregou o trono recém-conquistado a um humilde pescador e voltou à sua terra natal.

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SAGITÁRIO
Símbolo: A flecha que aponta para o alto representa um impulso ascendente em busca de propósitos espirituais lançando a sua consciência a planos superiores...

Mito de Sagitário Quiron
Sem limites, Zeus e o centauro sagitariano

Tudo começou com Urano, o Céu, e sua esposa Géia, a Terra. Desses dois primeiros deuses a mitologia grega fez descender todos os outros (como ocorre no I Ching e entre os magos, os sumérios, os egípcios e os germânicos entre outras culturas).
Entre os filhos de Urano e Géia estavam os titãs e, entre estes, Cronos (ou Saturno, para os romanos).
Pois bem: Cronos, que odiava de morte o próprio pai (Urano jogava de volta à Terra todos os filhos que lhe nasciam, temeroso de um dia ser suplantado por um deles), finalmente acatou os pedidos de sua mãe para vingá-la: tomou uma foice de ouro que a mãe lhe dera e quando Urano deitou-se sobre Géia para mais uma vez fecundá-la, ele cortou-lhe os testículos e jogou-os ao mar. Do sangue de Urano e de Géia nasceram as erínias, os gigantes e as ninfas, e dos órgãos sexuais de Urano e do mar nasceu Afrodite, envolta em espumas. Futuramente, Cronos liderou a Revolta dos Titãs, da qual se tornou vencedore assumiu o trono divino: o rei perdera a fecundidade e teria de ser substituído por outro, necessário à consolidação do reino.
Mas Cronos se converteu num déspota pior do que o pai. Temendo ser também deposto, foi devorando um a um os filhos que teria de Réia, sua irmã e esposa - ate que nasceu Zeus! Com esse filho, Réia procedeu de uma maneira diferente: envolvendo uma pedra com panos, entregou-a a Cronos, que a engoliu como se fosse o filho recém-nascido: Réia havia fugido para a ilha de Creta, onde dera à luz no monte Ida (o mesmo para onde Páris fora desterrado), deixando depois o menino aos cuidados da "cabra" Amaltéia,provavelmente uma ninfa.
Dessa ilha, Zeus, depois de crescido, iniciou a longa batalha para tirar o poder supremo das mãos de Cronos. Inicialmente, aconselhado por Métis, a Prudência, deu -lhe uma droga que o fez vomitar todos os irmãos algum dia engolidos: Hades, Possêidon, Hera, Deméter e Héstia. A seguir, apoiado pelos irmãos, derrotou Cronos depois de dez anos de batalhas sangrentas. Por fim,sorteou com seus dois irmãos a posse do reino conquistado: a Hades coube o mundo subterrâneo, a Possêidon o mar e a Zeus o céu e a superfície terrestre Casado "legitimamente" com sua irmã Hera, Zeus gerou Ares (Marte, para os romanos), Hebe, Ilítia e Hefaístos; mas teve inúmeras consortes, entre deusas e mortais, quase todas seduzidas ou violentadas, gerando um
sem-número de filhos e filhas.
E é com esse deus, fecundador universal, que começamos os mitos de nosso nono signo. Antes de mais nada, cabe lembrar que Zeus só pôde desenvolver o seu poder através da iniciativa da mãe, Réia, o que indica a submissão do sagitariano, seja ele homem ou mulher, por mais independente e masculino que pareça ser, ao poder "feminino".
Se por um lado isso nos explica a predominância aparente e compensatória do psiquismo masculino no sagitariano (assim como a pessoa deste signo teve na infância o pai como modelo principal, e sempre um pai "inatingível", motivo pelo qual "por mais masculino que seja nunca chegará aos pés do pai"), nos explica também que apenas depois de o sagitariano ter se ligado definitivamente" a seu psiquismo feminino (interior ou projetivamente) é que ele começará de fato a frutificar.
Pois assim também foi com Zeus: somente casando-se com Hera é que gerou Ares o deus da vontade e da manifestação assertiva de si mesmo. O casamento com Hera colocou Zeus em um permanente vínculo com o feminino, por mais que vez ou outra quisesse escapar desse vínculo indissolúvel - a cada amante de Zeus Hera reagia com brigas, punições, reprimendas ou vinganças, mas o aceitava depois, para tudo recomeçar novamente.
Assim, não é de surpreender que o sagitariano "fuja ao casamento", temendo ficar preso por laços e restrições mas terminando por, cedo ou tarde,encontrar a sua Hera. Hera, palavra grega que significa "guardiã ou conservadora", seduziu Zeus com um cinto mágico, levando-o a fazer amor em segredo sob o oceano, para escapar à raiva de Cronos, seu pai. E mais uma vez essa sedução parece acompanhar a vida do sagitariano, pois e comum uma gravidez não esperada o levar a unir-se à "sua Hera".
Por outro lado, como Junito Brandão afirma, (1986) "sem Hera, Zeus não seria nada: a constante fricção interna provocada entre o casamento indissolúvel e os inúmeros casos ilícitos de amor é que mantinham Zeus ativo e cheio de vida".
Todavia, a repetida má percepção do sagitariano sobre a real importância de sua mãe e, futuramente, do seu próprio princípio feminino (vivido em si mesma, se mulher, ou projetivamente, se homem) termina por levá-lo a uma hipervalorização de seus componentes masculinos, até que "um acaso do destino" mostre o verdadeiro caminho da integração interna (e externa):idealismo e interesse abstrato (masculinos) pela vida necessitam andar lado a lado com o realismo e o interesse pelos aspectos concretos do cotidiano(femininos).

Outro mito diretamente ligado ao núcleo sagitariano é o do centauro Quiron. Essa estranha figura, metade homem e metade cavalo, é filho de Cronos e,assim, meio irmão de Zeus. Cronos seduzira sua sobrinha Filira e fora surpreendido em pleno ato de amor por sua esposa Réia; imediatamente se transformou em um garanhão e saiu a galopar, levando Filira consigo. Dessa união nasceu Quíron, meio homem e meio cavalo, representando assim, numa só figura, a sabedoria instintiva e natural do corpo e o acumulo de conhecimento da Humanidade.
Quíron vivia numa gruta no monte Pélon, onde ensinava música, a arte da guerra e da caça, as leis e, sobretudo, a medicina. Foi um famoso educador,tendo tido por discípulos alguns dos grandes heróis, entre eles Jasão e Aquiles. Possuía também o dom da profecia, mas teve um trágico desfecho: na tentativa de Hércules de capturar o javali do monte Erimanto (um dos doze trabalhos do herói), foi ferido acidentalmente no joelho (ou na coxa) por uma das flechas envenenadas de Hércules.
Assim, apesar de mortalmente ferido - tais flechas haviam sido embebidas no sangue da Hidra - Quíron não podia morrer por ser imortal (filho de Cronos). Seu sofrimento foi profundo e longo, até que Zeus pediu a um mortal que cedesse a Quíron seu "direito de morte".
Prometeu (o titã que roubou o fogo dos céus para entregá-lo aos homens e, por isso, amargurava seus dias no Hades, eternamente supliciado por um abutre que a cada dia lhe devorava o fígado) cedeu ao centauro esse direito, e Quíron ascendeu aos céus para a constelação de Sagitário, o Arqueiro, pois a flecha (sagitta, em latim), simboliza a síntese humana de voar por sua própria transformação, através do espírito mas a partir de sua condição animal.
A ferida fora infligida na parte animal de Quíron e justamente na perna, que o apoiava sobre a terra; em outras palavras, em sua condição animal e não na de humano, assim como a hipertrofia do núcleo masculino excessivamente preocupado com ideais e noções de justiça costuma comprometer no sagitariano a integridade de seu núcleo feminino de emoções e sentimentos.
No entanto, parece que a existência da "ferida" nas emoções e no corpo, que são o elo com a realidade, termina sendo soterrada pela atividade incessante do sagitariano em divertir-se e divertir as pessoas, provando a si mesmo e a elas sua incrível felicidade. Afinal, a pessoa deste signo "manifesta" Zeus,o mais "ativo e fertilizador" dos deuses; ao fundo de sua "caverna",entretanto, reside o velho sábio Quíron, ferido mortalmente na perna mas semchegar à morte.
Se é esse estado de eternamente ferido que dá ao sagitariano condições para os vôos de espírito e intuição emocional que certamente estão presentes no signo, quando não também para os traços de otimismo ilusório ou verdadeiro fanatismo por uma causa ou ideal, será também esse estado que o fará, algum dia, retornar ao seu corpo animal e às leis da natureza, com o que poderá integrar-se a si mesmo.
Então não dependerá mais, tanto quanto antes, de viver projetivamente(através da "esposa" ou, se for uma mulher, de outras) a natureza feminina à qual está ligado indissoluvelmente mas à qual se opõe; da mesma forma, não precisará mais, como etéreo e incorpóreo dos ideais antes, viver apenas no mundo de justiça e de sabedoria, o qual, se não tiver uma base na realidade material das emoções, não tem o menor sentido real.

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CAPRICÓRNIO
Símbolo: A figura representa a cabra ou animal fabuloso, meio bode, meio delfim. Uma espécie de animal com o corpo de cabra e cauda de peixe. O peixe-cabra" que abandona o Oceano primordial (meia-noite) e ascende a montanha (meio-dia).

Mito de Capricórnio Cabra Amaltéia
Capricórnio e o rito de iniciação

Depois de ter sido abatido e derrotado por seu filho Zeus, como vimos no mito sagitariano, Cronos foi aprisionado no Tártaro, região subterrânea muito abaixo do próprio Reino de Hades.
Algum tempo depois, quando Zeus já tinha consolidado seu poder, libertou o próprio pai e o enviou para a ilha dos bem-aventurados, nos confins do mundo onde Cronos passou a reinar sobre os heróis, que nunca morriam. Era uma recuperação da Idade do Ouro na Terra, à qual Cronos parece estar ligado.
Essa fora uma época de fartura e abundância, como a mitologia romana registrou: no reino de Saturno, a Terra produzia com abundância, não havia guerras ou discórdias, e a escravidão e a propriedade eram desconhecidas,pois todos os homens tinham as coisas em comum. Saturno fora, assim, aquele que ensinou a paz, a justiça, a cultura da terra, a fraternidade e a liberdade, bem como a delegação responsável de poderes dentro da comunidade.
E exatamente por isso, na Roma antiga, comemoravam-se todos os anos, na segunda quinzena de dezembro, as Saturnais, festas nas quais havia total liberdade e todas as regras rígidas de moral e de convívio social eram abolidas; os escravos deixavam de sê-lo por alguns dias, as normas que regiam o convívio sexual eram abolidas, os horários relaxados e o trabalho deixava de ser cumprido. Ao fim das Saturnais, o jovem escolhido para reinar como rei Saturno era sacrificado no altar do deus - ou se sacrificava espontaneamente, em ato suicida -, como símbolo do fim da liberdade absoluta de entregar-se a todos os prazeres sem limite algum.
Perséfone gritou, Deméter correu em seu auxilio, mas ao chegar ali nada encontrou nem soube do que havia ocorrido. Por nove dias e nove noites vagou com um archote, procurando-a, consumida de saudade. Voltando à mitologia grega, se Urano havia sido o princípio criador original, livre por natureza para estar em todos os lugares ao mesmo tempo, coube a Cronos o papel de Consolidador do já criado: sem sua atuação nada tomaria forma definitiva, discriminada e duradoura, tornando-se a vida um eterno e constante reinventar, sem que nada ficasse como resultado em momento algum. Daí seu aspecto limitador, rígido e punitivo junto aos que se insurgissem contra os
dados da realidade material da vida. Foi preciso, porém, que Cronos fosse sacrificado pelo próprio filho para retomar, na ilha dos bem - aventurados aventurados, papel semelhante, mas mais organizado e produtivo, ao de seu pai Urano, abolindo todas as regras e limites rígidos e instalando uma vida plena de liberdade para que seu reinado comunitário frutificasse organizado e produtivo, ao de seu pai Urano, abolindo todas as regras e limites rígidos e instalando uma vida plena de liberdade para que seu reinado comunitário frutificasse.
A cabra, tanto na mitologia grega quanto na de outras culturas, como a teutônica, sempre foi símbolo de fertilidade e do amadurecimento dos grãos(que se dá no inverno, sob a superfície da Terra, preparando a primavera): a cornucópia, chifre do qual brotavam incessantemente todas as riquezas da natureza, segundo os gregos era um dos cornos da cabra Amaltéia, que amamentou Zeus no monte Ida. Ao mesmo tempo, a cabra era conhecida por sua voracidade em devorar tudo o que lhe caía pela frente, o que a aproximava da figura de Cronos. Assim, da mesma maneira que no mito taurino o boi aproximava Teseu, Minos e o Minotauro, a cabra aproxima e liga indissoluvelmente Cronos e Zeus, pai e filho. E isso nos dá a primeira pista para o núcleo mítico do capricorniano: a necessidade de incorporar em si a fecundidade do pai e ser sacrificado pelo próprio filho para que possa descobrir que ambos são, na verdade, um só; apenas assim se conseguirá concretizar e dar plenitude a um reino de fartura e liberdade.
Em termos psíquicos, a pessoa deste signo deverá incorporar em si a fecundidade do Self e superar os ditames do Ego para poder frutificar. E isso envolve sempre um ritual de iniciação, pois somente através do mais profundo dos mergulhos dentro de si mesmo é que tal façanha se torna possível. Desses mitos ainda podemos depreender alguns atributos do capricorniano, seja ele homem ou mulher, que aos poucos o preparam para a sua "descida aos infernos". A forte inclinação à luxúria e à lascívia, além da incrível fertilidade, é indício de seu gozo por prazeres sem limite - os mesmos proibidos pelo forte superego, voltado a "realizações", o que o
coloca em um movimento duplo constante de entregar-se aos prazeres e se culpar por isso ao mesmo tempo.
Cronos havia recebido seu poder de Géia, assim como a foice com a qual castraria Urano (foice essa que reencontraremos na figura medieval do alfanje da Morte, que na seqüência das cartas do taro é a que precede o renascimento"). Da mesma forma, o capricorniano recebe sua lição de poder ao conviver com uma mãe sequiosa de poder de realização - não necessariamente material. A criança capricorniana cresce numa casa na qual o pai é figura muito respeitada mas não se envolve com a estrutura familiar; então, todas as decisões importantes estão nas mãos da mãe, que aparece assim, aos olhos da criança, como todo-poderosa. Muito tradicional em suas atitudes, ela transmite ao filho a vontade de poder (para transformar e consolidar), a capacidade de liderança (entregando-lhe a ferramenta de conhecimento com a
qual ele assumirá o controle algum dia) e o incita a desenvolver fortes práticas de controle. Então, ela é a transmissora das condições materiais necessárias para que seu filho concretize na Terra os desejos de seu pai. Urano, o Todo-Criador.
Uma versão mais moderna desse mesmo aspecto do mito é o de Maria, mãe de Jesus, responsável por dar ao Filho do Pai sua forma material, sem a qual o Pai nada poderia realizar na Terra; basta lembrar que o próprio filho, nesse mito central de nossa cultura, teve de sujeitar-se à cruz (antiquíssimo e multicultural símbolo da matéria), para que a obra do Pai tivesse sentido concreto. Entretanto, só depois de ter passado por seu ritual de iniciação, preso no Tártaro", é que tem condições de realização concreta, razão pela qual são comuns na vida dos capricornianos prazos mais longos de amadurecimento pessoal.
Como convivem em seu núcleo duas figuras aparentemente opostas - os pólos da mesma relação - o puer e o senex (o "eterno jovem" e o "sempre ancião",donde "pueril" e "senil") - que nada mais são senão o Velho Rei e o Futuro Novo Rei ao mesmo tempo -costuma imperar na primeira metade da vida do capricorniano o foco narcíseo de irresponsabilidade, que será mais tarde drasticamente substituído pelo compromisso com a realidade material e com a sensação de sucessão fatalmente temporal dos acontecimentos que domina. Também por isso, desde muito jovem o capricorniano tem "algo de velho" na sua aparência e comportamento, por mais jovial que o seja na verdade; e no futuro, mesmo quando idoso, mantém "algo de jovem".
Como diz Liz Greene, (1987) "Moralidade e culpa, lei e desrespeito às leis, parecem ser polaridades que compõem o capricorniano. O filho deverá enfrentar a punição paterna apenas para descobrir que o pai está dentro de si mesmo; e o pai, o Velho Rei, deverá enfrentar a rebelião do filho apenas para descobrir que é o seu próprio espírito jovial que está querendo se manifestar há muito tempo.
A iniciação do filho pelo pai é uma experiência interior que ( ... ) o capricorniano em geral não conhece na sua relação parental, motivo pelo qual ele a buscará dentro de si mesmo em um nível muito profundo". Joseph Campbell (1993) coloca a questão nos seguintes termos: "Quando a criança deixa o idílico paraíso dos seios maternos e encara o mundo exterior(adulto), ela está entrando, espiritualmente, na esfera paterna - que se torna, assim, para ela (seja menino ou menina), o indício das tarefas futuras. Saiba o pai ou não, e independentemente de sua posição social, o
pai é o pastor iniciático através do qual o jovem adentra em um mundo mais amplo.
Esse é o rito de iniciação que cedo ou tarde o capricorniano atravessará, com a descoberta inicial do pai como perseguidor exigente da obediência às regras e condições do mundo, mais tarde, porém, transformada pela descoberta do pai misericordioso e imortal que carrega dentro de si mesmo.
Essa tarefa de autotransformação exigirá, todavia, um profundíssimo mergulho dentro de si mesmo.
O que nos leva ao décimo primeiro dos doze trabalhos de Hércules, a busca do cão Cérbero no Reino de Hades.
Assim como Perseu, Hércules não teria conseguido descer ao reino subterrâneo e de lá sair vitorioso não fosse a ajuda de Hermes e de Palas Atena, de quem recebeu coragem e inteligência, bem como a capacidade de andar nas trevas;além disso, Hércules se preparou inicialmente nos mistérios de Elêusis, para aprender como chegar em segurança à "outra vida" (e dela voltar) - em nossos dias, em termos psicológicos, vivendo uma profunda regressão uterina e renascendo, com o que se libertava em definitivo do "Paraíso uterínio materno".
Cérbero era um cachorro monstruoso, dotado de três cabeças, que guardava a entrada do Reino de Hades. Sua missão era dupla: impedir que os vivos lá entrassem e, se algum o conseguisse, impedi-lo de sair sem ordem de Hades. Hércules desceu ao reino subterrâneo e, antes de solicitar ordem ao próprio Hades para levar Cérbero à superfície, libertou vários dos prisioneiros ali encontrados entre eles, Teseu.
O Monarca das Almas concedeu sua permissão, então, desde que o Herói enfrentasse Cérbero e não o matasse nem o ferisse, munido de sua própria força e coragem, e protegido apenas com a pele do Leão da Neméia. Hércules enfrentou o monstro, sufocou-o até o desfalecimento e levou-o para o palácio de seu primo Euristeu. Lá chegando, não tendo o que fazer com o monstro e não podendo matá-lo, tornou a devolvê-lo ao Reino de Hades.Entretanto, tinha cumprido talvez o mais difícil dos seus trabalhos, a descida ao Reino da Morte, ou morte simbólica, necessária para a subida, ou escalada rumo ao autoconhecimento, rumo à transformação do que resta do homem velho no homem novo. Como explica o mitólogo Luc Benoist, "a viagem subterrânea, durante a
qual os encontros com os monstros míticos configuram as provações de um processo iniciático, era, na realidade, um reconhecimento de si mesmo, uma dissolução das cascas", de acordo com a gravada no pórtico do Templo de Delfos (consagrado a Apolo): "Conhece-te a ti mesmo". Era, para os gregos, o mais profundo e doloroso processo iniciático. Por isso, o motivo de "aprisionamento", "servidão" e até mesmo
de "crucificação"- é tão comumente presente na vida do capricorniano - ao menos em sua vida interior e em seus sonhos e fantasias inconscientes,motivo pelo qual ele muitas vezes cria sua própria prisão, atraindo-a ou lançando-se para ela.
A busca do confronto com limites rígidos é sempre uma constante na vida do capricorniano, seja com o próprio superego, com uma figura exterior de autoridade ou ainda com um parceiro restritivo, para que se cumpra assim seu ritual e a entrada no mundo paterno da realidade material seja feita após o abandono do regaço materno. Só assim o jovem Rei Cronos derrotará o Velho Rei Urano, que ameaçava devorá-lo, para mais tarde libertar o mesmo Velho Rei e, graças a isso, instalar um reino de prosperidade, liberdade e abundância.
Agora, entretanto, tendo um contato mais pleno com o reino da matéria e seus limites de realidade, sobre o qual poderá exercer o imenso poder de liderança que herdou de sua mãe e a espiritualidade infinita que é herança de seu pai.

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AQUÁRIO
Símbolo: A linha superior representa o lado espiritual e a inferior o princípio material. Percebe-se que há uma interação harmoniosa dessa duas forças. A síntese do fluxo de vida que está em alternância através do seu fluir constante.

Mito de Aquário Prometeu

Aquário, Prometeu e a libertação do espírito Primo de Zeus, pois filho do titã Iapeto e sobrinho do titã Cronos, Prometeu é a figura mitológica grega que mais pode nos auxiliar na compreensão do núcleo arquetípico do aquariano.
A despeito de Aquário, no Zodíaco, ser regido ao mesmo tempo por Urano e Saturno, o que por si só já nos explica a profunda divisão interior do aquariano entre fortes movimentos de libertação total do espirito, por um lado, e a tentativa constante de não se afastar dos limites da realidade material, por outro, Prometeu enriquece muito mais a compreensão sobre o humanitarismo sem fronteiras do indivíduo nascido sob este signo.
Antes, entretanto, cabe lembrar mais uma característica "uraniana": Urano,repugnado com a feiúra de seus filhos, os titãs e os gigantes, todos símbolos das forças "brutas" da Natureza (pois filhos de Géia, a Terra), aprisionava-os no Tártaro, de que já falamos. Analogamente, identifica-se no aquariano uma "predileção estética" que o faz se afastar de tudo aquilo que lembre a "bestialidade humana" - mesmo que esta seja apenas o conjunto de emoções naturais que o habitam -, o que lhe confere a conhecida impessoalidade" do signo.
Filho do titã lapeto e da oceânide Climene (igualmente filha de Urano), Prometeu era primo de Zeus tanto por parte de pai quanto de mãe. Possuía o dom da profecia ao contrário de seu irmão Epimeteu, cujo nome significa em grego "aquele que só vê depois de acontecido". Desde sempre entregue a lutar pela Humanidade, Prometeu certa vez "enganou" Zeus: dividindo um boi em duas metades, encheu uma bolsa enorme apenas com ossos e gordura e a outra, menor com as carnes e as vísceras; pediu a Zeus que escolhesse uma delas para os deuses, pois a outra seria ofertada aos homens.
O maior deus olímpico escolheu a primeira e, sentindo-se enganado, privou a Humanidade do fogo.
Essa disputa nascera do ciúme de Zeus em relação aos homens, pois Prometeu havia dado tanto dos segredos divinos à Humanidade, que Zeus temia que esta algum dia confrontasse o seu poder supremo. Tendo acompanhado o parto de Palas Atena, que nascera da cabeça do próprio Zeus, Prometeu recebera dela os conhecimentos da arte da navegação, da arquitetura, da astronomia, da matemática, da metalurgia e mais uma infinidade de conhecimentos úteis, passando-os, em seguida, aos homens. O que parece ser, sem dúvida alguma, um dos mais fortes impulsos aquarianos: dividir com o grupo os conhecimentos avançados de tecnologia que desenvolve, e pela descoberta dos quais norteia sua vida.
Prometeu, condoído da Humanidade após o castigo de Zeus, com a ajuda de Palas Atena roubou uma centelha do fogo divino do carro do deus-sol, Apolo, trazendo-a à Terra e "reanimando os homens". Irritadíssimo, Zeus resolveu punir como exemplo não apenas os homens como inclusive Prometeu.
Contra este, impôs um suplício eterno (até que Hércules o libertasse):acorrentou-o a uma montanha e ordenou a uma águia (ou abutre) que diariamente lhe comesse o fígado, o qual renascia novamente no dia seguinte - apenas para dar início a um novo suplício. E contra a Humanidade Zeus foi mais artificioso: pediu a seu filho Hefaistos que criasse Paridora, uma mulher muito bela, ordenou aos outros deuses que a dotassem dos maiores encantos e a enviou a Epimeteu como "presente divino".
Este, embora tivesse sido alertado por Prometeu para que nunca aceitasse nenhum presente de Zeus, esqueceu-se do avis e transformou Pandora em sua mulher. Um dia, Pandora abriu uma caixinha que Zeus lhe ofertara como presente de núpcias e imediatamente saíram dessa caixa todos os problemasque desde então ameaçam o ser humano - Envelhecimento, Trabalho, Doença, Insanidade e Paixão - ficando presa apenas a Esperança.
Prometeu e Zeus representam os pólos opostos da resposta à questão sobre quanto o ser humano deve se libertar e se desenvolver, assim como a psique humana tem componentes que lutam por impedir a consciência de ampliar seu campo de atuação, gerando internamente culpas e sensações de pecado a cada movimento de libertação e individuação".
Assim, Zeus sempre tentou impedir Prometeu, titã que sempre se dedicava ao bem-estar e desenvolvimento da humanidade, de dar conhecimentos aos homens.
Da mesma forma, com freqüência o aquariano se envolve com iniciativas de esclarecimento público ou de divulgação do conhecimento, ao mesmo tempo em que é atormentado por dúvidas éticas profundas.
E assim como Prometeu tinha seu fígado ("a sede da vontade") diariamente dilacerado, o aquariano é sempre acometido de dúvidas muito profundas sobre si mesmo e sua capacidade de mobilização da vontade necessária para os imensos "planos de divulgação" que desenvolve proliferamente, a despeito do altruísmo genuíno que possui e da imensa criatividade conceitual de que é portador.
Entretanto, quando Hércules esteve no Hades para capturar Cérbero, como vimos no mito anterior, Zeus permitiu que o Herói libertasse Prometeu: Zeus necessitava do único conhecimento que não possuía, a capacidade de antever o futuro, motivo pelo qual seu conhecimento não era completo caso Prometeu não lhe indicasse como obtê-lo.
E mais uma vez encontramos o misterioso confronto consciente e inconsciente, quando o inconsciente precisa da consciência para se desenvolver, ao mesmo tempo em que luta contra ela.
O que nos faz lembrar do antigo preceito alquímico, segundo o qual "Deus necessita dos homens para tornar a obra perfeita, e da magnífica imprecação de Zaratustra, o mais famoso personagem do escritor alemão Friedrich Nietzsche, dirigindo-se ao Sol: "Que seria a tua felicidade, ó grande astro, se não tivesses aqueles a quem iluminas?"
Por outro lado, a polaridade vivida entre o "grupo" e "si próprio" - assim como Prometeu se sacrificou pela Humanidade - em geral dilacera o aquariano com a necessidade de não se sentir "egoísta", razão pela qual é um dos signos mais rígidos em manifestações de "eu devo" e "eu preciso".
A criança aquariana nasce em uma casa dominada pela figura todo-poderosa do pai, que "vive na sua própria mente" e entregue a interesses "incomuns" (para os padrões da vizinhança e mesmo do resto da família) por política, religião ou filosofia. Assim, ao mesmo tempo em que desde cedo se atira à tarefa de crescer "pela mente", para obter a aprovação paterna, a criança aquariana sente uma nítida diferenciação entre ela e outros familiares ou amigos: uma barreira "invisível" os separa dela, causando um profundo sentimento de isolamento e a grande dificuldade de aprender a lidar com as próprias emoções, com o que neutralizaria sua "impessoalidade" (antes
dificuldade).
Daí também tanto procurar grupos "pelos quais possa fazer alguma coisa", de modo a aliviar sua separatividade, ao mesmo tempo em que continua, como na infância, a desenvolver ao máximo possível sua criatividade conceitual, questionando todos e quaisquer aspectos da realidade. Tendo crescido em uma atmosfera fortemente impessoal, onde a vida era vivida racional e não emocionalmente - através de idéias, do intelecto e das palavras, e não através de reações emocionais pessoalizadas - no futuro o aquariano terá muita dificuldade em relações pessoais mais íntimas com o sexo oposto, pois o desenvolvimento de seu núcleo feminino foi profundamente comprometido: se mulher, tem dificuldade em conviver com a própria feminilidade; se homem, tem dificuldade em aceitar o que possa vir de uma mulher.
E isso nos leva a outro mito grego, o de Ganimedes, dispensador olímpico de néctar, a própria figura do Aguadeiro também cultuada no Egito como o plenificador anual do rio Nilo, em suas periódicas enchentes fertilizadoras. Ganimedes era um adolescente muito bonito, filho do rei Trós e de Calírroe. Pastor do rebanho de seu pai nas montanhas de Tróia, foi raptado pela águia de Zeus e levado ao Olimpo; lá, passou a servir aos deuses o néctar - que juntamente com a ambrosia dava-lhes imortalidade -, em substituição a Hebe, que se casara com Hércules: Zeus por ele se apaixonara e passou a ter com o rapaz uma relação homossexual explícita, transformando-o depois na
constelação do Aguadeiro.
Esse mito teve imensa popularidade junto aos gregos, pois oferecia uma justificativa divina para a atração física entre homens maduros e rapazes, dando permissão para a prática da pederastia, tão encontrada na Grécia antiga.
Isso não significa que todo aquariano seja homossexual, mas a interpretação simbólica de Liz Greene (1984) é o que parece dar a chave para o entendimento do signo: Robert Graves (1987) relaciona o mito ao "repúdio do feminino" e à redução de seu poder. E esse é certamente um tema relevante para o aquariano... Há um verdadeiro horror contra a base biológica da existência - como vimos no repúdio dos titã por seu pai Urano - e, ao mesmo tempo, um medo muito grande do "irracional".
A imagem de homossexualidade no mito pode sugerir, entre outras coisas, um mundo exclusivamente masculino, um mundo no qual o feminino e o plano instintivo da vida não entrem uma união onde nada mais cresça senão o espírito e a mente. Isso se aplica tanto aos aquarianos quanto às aquarianas pois elas com freqüência se sentem melhor em companhias masculinas e com ideais masculinos.
O costume tribal de separar meninos púberes de suas mães, formando com eles clubes" ou grupos exclusivamente masculinos, de forma a contrabalançar o poder feminino matriarcal, é um paralelo antropológico que parece indicar quão arquetípica é a necessidade de exclusão do feminino para o fortalecimento do masculino.Diz a astróloga Liz Greene (1987).
"Que este é um padrão aquariano, embora em geral ocorra em esferas outras que a da sexualidade. O signo é definitivamente o campeão da Luz e do Espírito, e a única divindade feminina com quem Prometeu se envolveu, na verdade, foi Palas Atena, uma deusa bem pouco "amiga" da Grande Mãe e, acima de tudo, uma filha virgem do pai (figura muitas vezes real na vida do aquariano).
Então, o mundo prometeico é um mundo masculino, sobre o qual se desenham as cenas e imagens do drama da luta pela evolução e suas inevitáveis repercussões".

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PEIXES
Símbolo: Seu símbolo consiste em dois peixes unidos pôr uma tira delgada. Um
dos peixes representa a alma, o outro, a personalidade. O homem e o cosmos
se encontram aqui. Os semicírculos do consciente e do inconsciente ligados
pela terra.

Mito de Peixes Eros e Afrodite
Peixes e a "embriaguez" dionisíaca

O signo de Peixes é, com certeza, um dos mais ricos em simbólica: o peixe, enquanto símbolo do alimento que surge das profundezas da água, perpassa todas as culturas conhecidas como digno representante da Grande Mãe, o mar, de onde toda a vida nasceu...
Talvez por essa razão a primeira divindade grega do mar, antes de os patriarcas" assumirem o poder, era a titânide Tétis, filha de Urano e Géia,representante do poder e da fecundidade feminina do mar e "mãe de três mil rios e quarenta e uma oceânides, personificações dos riachos, fontes e nascentes". Possêidon era, na verdade, "senhor das águas subterrâneas", tendo sido antes um deus do subterrâneo terrestre e causador de terremotos.
Só aos poucos, à medida que a cultura grega foi se espalhando para domínios marítimos, é que Possêidon passou a ser também o "senhor dos mares".
Os templos da deusa fenícia Astargates (ou Astartéia) tinham piscinas especiais onde peixes sagrados nadavam, pois, segundo aquela cultura, dois peixes haviam "empurrado" - um ovo mágico para a praia e dele nascera a deusa. Astargates tinha um filho chamado Ichtys, que tinha a forma de um peixe, o qual na Babilônia se tornou o deus-peixe Ea. E em uma versão grega da história, Afrodite e seu filho Ares fugiram do monstro Tifão, filho de Géia e do Tártaro, metamorfoseando-se em peixes.
O peixe representa, segundo Jung (1977) a "ambição, a libidinosidade, a voracidade, a avareza e a lascívia - grosso modo, os prazeres vãos da vida na Terra (voluptas terrena).
Mas eles são sempre apresentados como um par indissolúvel, atados por uma corda pelos rabos, compondo assim um Ouroboros: são o par mãe-filho (ou filha) ou o par vítima-redentor, pois esses temas mitológicos todos nos contam de filhos que "redimiram" a Grande Mãe, através de seu "re-nascimento. Então, um desses peixes é a deusa da fertilidade e o outro é seu filho; ela, a devoradora, destrutiva e lasciva, verdadeira representante do mundo primordial do instinto; ele, o redentor, Ichtys, o Cristo.
Talvez estejamos nos defrontando aqui com a imagem da vida passageira mas sagrada da alma individual, nascida da Grande Mãe mas pronta para retornar a ela, uma vez que está eternamente ligada a ela. E talvez também por isso a criança pisciana nasça em geral após um longo e difícil trabalho de parto, como que não querendo nascer, e que todos temam por sua sobrevivência sem seqüelas cerebrais ou orgânicas. Daí por diante, ela crescerá extremamente preocupada com seu bem-estar físico e com a saúde.(Afinal, o mito da Mãe e seu filho-amante, muitas vezes morto precocemente para uma posterior ressurreição, está presente também em várias culturas - no Egito antigo, por exemplo, este par é representado por Ísis e Osíris, enquanto na nossa temos o mito da morte precoce de Cristo na cruz-matéria materna, seguida de ressurreição.)
Da mesma maneira, o tema do padrão duplo vítima-redentor é extremamente encontradiço na vida dos piscianos - mesmo que seja "apenas" porque sua mãe foi percebida na infância como uma "eterna sofredora", "mártir da família", eternamente preocupada com tudo", e o pisciano absorveu essas atitudes, tal sua ligação com a figura materna. Mas deve ser entendido que o padrão completo é sempre estar envolvido em jogos de vítima-salvador, quer o pisciano esteja atualizando este ou aquele pólo da relação em cada momento de sua vida. Afinal, são ambos partes do mesmo mitologema, portanto, inseparáveis.
Muitas dessas pessoas sofrem muito em sua vida. Se identificam com o pólo redentor", escolhem como companheiros de relação (para quaisquer fins)indivíduos frustrados pela vida, feridos pelas circunstâncias, doentes crônicos e de uma ou outra forma "incapazes" de se socorrer: pessoas que estejam "à espera de redenção", mas de quem as mantenha, na verdade, na posição de vítima. Se identificam com o pólo de "mártir", estarão em busca de quem as faça sofrer de modo físico, emocional ou espiritual, única forma de atualizar o padrão duplo "vítima-redentor".
De qualquer forma, independentemente do "pólo" escolhido pelo inconsciente, não há signo que se apresente tanto como "sofredor" - até porque com toda a certeza aprendeu com sua mãe, e a imita muito bem, a utilizar seu sofrimento como forma de manipulação de outrem.
Entretanto, não há signo tão capaz de empatia legítima e imediata como o de Peixes, bem como capaz de entregar-se integralmente à licenciosidade e libertinagem ou ao uso abusivo de chás, fumos, bebidas e drogas em geral. Porque uma figura mitológica extremamente rica em episódios dessa natureza parece residir no núcleo do mito deste signo: o deus grego Dioniso.
Dioniso era o deus da metamorfose, do êxtase e do entusiasmo. O seu nascimento, ao contrário de outros deuses, foi complicadíssimo - como o dos piscianos.
Filho de Zeus e Perséfone e o preferido pelo deus dos deuses, Dioniso foi raptado, cozido e comido pelos titãs, sob mando de Hera; ao saber disso, Zeus fulminou-os com um raio e entregou seu jovem coração a Sêmele, uma princesa tebana, que o engoliu. Assim, esta "engravidou" de Dioniso.
Hera, ao saber do ocorrido e tentando ainda eliminar o filho de Zeus, incitou Sêmele a pedir a Zeus que aparecesse com toda a sua pompa, com o que a princesa, simples mortal, não resistiu ao fulgor divino e pereceu queimada imediatamente Zeus retirou do corpo de Sêmele o pequeno Dioniso e o colocou na sua própria coxa, onde o feto permaneceu até o fim da gestação.
E após o nascimento, entregou-o a Hermes para que este o escondesse da ira divina de Hera; e que, não satisfeita, Hera continuou a perseguir Dioniso mesmo depois de adulto, por várias vezes quase conseguindo fazê-lo desaparecer - num dos episódios, Dioniso, é travestido de menina para escapar à ira de Hera.
Esta raiva de Hera é "compreensível": patrona dos casamentos, ela era inimiga mortal do deus dos "desregramentos", Dioniso. A tal ponto que as sacerdotisas desses dois deuses nem se cumprimentavam nas ruas da Grécia.
Em segundo lugar, a gestação completada na coxa divina outorgara a Dioniso uma ascendência que somente a paternidade de Zeus não lhe daria.
E tendo tido "duas mães", além de partejado diretamente por Zeus, Dioniso conheceu o "úmido" e o "ígneo" antes mesmo de nascer, tornando-se, por isso, andrógino por excelência.
Levando muito tempo para ser aceito nas cidades gregas, por ser natural dos campos, Dioniso presidia ritos de êxtase religioso que prescindiam de qualquer ritual temporal de poder.
Em outras palavras, seus ritos permitiam a experiência religiosa "pura", independentemente do culto realizado ou do deus cultuado. Por isso, constituía uma ameaça à estrutura hierarquicamente rígida dos deuses olímpicos, base de boa parte do poder político da época.
"Dioniso devia provocar resistência e perseguição, pois a experiência religiosa que suscitava punha em risco todo um estilo de vida e um universo de valores". Tratava-se, sem dúvida, da supremacia ameaçada da religião olímpica e de suas instituições. Mas a oposição denunciava um drama, ainda mais intimo, e que aliás está abundantemente atestado na história das religiões: resistência contra toda gerência religiosa absoluta, que só pode ser efetuada negando-se o resto (seja qual for o nome que se lhe dê: equilíbrio, personalidade, consciência, razão etc.)
Essa "experiência religiosa absoluta, obtida em momentos de êxtase nos quais a personalidade consciente é rebaixada até que o Todo entre em contato com o Ser individual, em estados diferenciados de consciência, é o que dá a pista para a irresistível inclinação ao uso de bebidas e drogas ou outros artifícios por aqueles que têm essa necessidade de "ter uma participação mística" que, ou sensação de união instintiva e espiritual ao mesmo tempo com a Vida, mas não conhecem outros caminhos que não os da intoxicação química e do desmembramento do corpo (tal qual a que o deus também sofreu).
"a embriaguez, o erotismo, a fertilidade universal, mas também as experiências inesquecíveis provocadas pela chegada periódica dos mortos, ou pela mania, pela imersão no inconsciente animal ou pelo êxtase do entusiasmos - todos esses terrores e revelações surgem de uma única fonte: a presença do deus. O seu modo de ser exprime a unidade paradoxal da vida e da morte".
De qualquer forma, o culto dionisíaco simbolizava a emersão para a consciência das forças obscuras que povoam o inconsciente, através da bebida das drogas, da música, do canto, da dança e da loucura.
Ou, como diz Junito Brandão (1986), "Dioniso retrata as forças de dissolução da personalidade: a regressão às forças caóticas e primordiais da vida, provocadas pela orgia é a submersão da consciência no magma do inconsciente" Pela mesma razão, Dioniso era ao mesmo tempo um deus extremamente cruel. Certa vez, ao retornar à terra natal de sua mãe, a ilha de Tebas, Dioniso foi preso pelo rei Penteus ("aquele que sofre", em grego), dada sua aparência dissoluta e desregrada. O deus não se fez de rogado: enlouqueceu o rei e fê-lo ser morto por suas companheiras divinas. O deus demonstrava crueldade apenas análoga à de Kali, que encontramos bem atrás, punindo com o desmembramento, a loucura.
E a insanidade (que é "morte", para a psique) quem não o idolatrava. Seus ritos, além de envolver danças, bebedeiras e orgias sexuais, davam-se também com desmembramento de animais, dos quais se bebia o sangue e comia-se a carne como se fossem do deus... Isso pode nos explicar por que tantas vezes, por trás do pisciano redentor ou sofredor, se esconde uma fera sedenta de sangue e destruição daqueles que não o cultuam - como se transformou, aliás, a própria Igreja Católica, depositaria do Peixe-Cristo em nossa época e oferente de seu sangue e de sua carne.
Parece que este dilema - viver uma efetiva espiritualidade ou entregar-se a rituais orgíacos destrutivos - está presente na psique profunda do pisciano; que, assim, só tem como caminho o refúgio na intelectualidade compulsiva, negando sua emocionalidade e facilidade empática por não saber como lidar de maneira adequada com tais impulsos aparentemente contraditórios - que então se tornam mais autônomos ainda e ameaçam a qualquer momento irromper e lavar" a consciência egóica. Mas a redenção das paixões selvagens é a tarefa do filho, o Redentor; as paixões são elas mesmas a Mãe (e talvez por isso ela fosse tão constantemente preocupada com tudo, como se verifica na vida do pisciano, ao viver projetivamente as ameaças constantes que carrega em seu próprio inconsciente e que seu filho herdou).
Para o pisciano, tanto o horror que ele vive interiormente quanto a aspiração por uma vida junto ao deus derivam do mesmo mar, o mar do inconsciente coletivo.
De onde brota, inclusive, sua incrível sensibilidade artística e empática permeabilidade" ao estado emocional de outrem (aquilo que alguns chamariam de mediunidade ou fusionalidade). Por isso a necessidade, maior ainda no pisciano, de resolver o delicado equilíbrio entre seus fortes sentimentos pessoais e a necessidade sentida de participar ativamente dos sentimentos do grupo ou do coletivo.
Porque se o corpo sufoca o espírito, quando a ele se sobrepõe, certamente o espírito desmembra o corpo que a ele se opõe. Dai os dísticos no portal de Delfos: "Nada em excesso" e "Conhece-te a ti mesmo". A despeito das possibilidades divinas existentes no ritual dionisíaco, a despeito das potencialialiades da alma humana pisciana, a despeito das possibilidades da alma humana em geral, pois "muito profundo é o seu logos", este equilíbrio tem de ser atingido - sob pena de comprometer a obra inteira.

.Beth Ghimel
Extraído do Grupo Irmandade de Hécate


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