domingo, 20 de julho de 2008

*** T E U R G I A ***


"O mago é o soberano pontífice da natureza;
o feiticeiro não passa de um profanador".
Eliphas Levi




A Cabala tem má fama. Está sempre associada com obscuridades impenetráveis ou com objetivos vulgares e distorcidos em títulos como "cabala do dinheiro", "cabala do sexo", "cabala prática", etc. A verdadeira Magia nunca se deu em prol de interesses egoístas e materiais, e mesmo as pessoas mais preparadas se perdem no caminho pela ambição e pela mentira. É preciso cautela, mas a despeito de títulos pomposos, é pelo hábito da mentira que detectamos os mal intencionados, e quase sempre a ambição anda junto com a mentira.

O desenvolvimento espiritual em geral se dá por duas vias: uma de ascensão e outra de manifestação. Subir é o caminho do místico, através de preces, meditações, contemplações e estados de êxtase cada vez mais profundos. O caminho do mago é a via de descida das energias divinas para a natureza, o que quer dizer que o mago verdadeiro colabora com a manifestação divina e a natureza, ao invés de operar contra ela. Essa distorção moral é que levou a Magia a ser inadequadamente ser chamada de "negra", uma vez que a corrupção é moral, do praticante, e não da Magia em si.

A Cabala engloba as duas vias. E exige para as duas elevado senso moral. A Magia na Cabala, por ser exercida em torno de nomes divinos, é mais propriamente chamada de Teurgia, "espécie de magia baseada em relações com os espíritos celestes; a arte de fazer descer Deus à alma para criar um estado de êxtase". Estas espantosas afirmações são do dicionário Novo Aurélio, e surpreende que num mesmo verbete tenhamos as definições tanto do caminho do místico quanto do caminho do mago!

Para a prática da Magia na Cabala, é preciso de uma séria meditação moral sobre as conseqüências da ação. Pela ação correta, no mesmo diapasão da própria divindade, todo o universo se rejubila. Para a ação distorcida, vale a lei do retorno tríplice, presente em muitas das culturas antigas e bastante explorada na Cabala Cristã, surgida do Renascimento. Pela falta de firmeza moral, muitos magos famosos e sacerdotes preparados terminaram na ruína.

Em matérias de Magia, é preciso ter firmeza, correção, prudência, humildade e sinceridade.

Enviado por: Giancarlo Salvagni, um aprendiz



Fique na Luz Divina !!!

*** JESUS E A CABALA MÍSTICA ***


"O Messias está no centro mesmo da Cabala e somente ele pode revelar seu significado verdadeiro".
"Jesus e a Cabala Mística"
Migene Gonzalez-Wippler



Nenhuma religião vem sendo tão mal entendida como o cristianismo. Desperta a antipatia de outras religiões que sequer entenderam do que se trata. Mas não são poucos os mestres orientais que reconhecem os ensinamentos de Jesus como legítimos. O Islã reconhece Jesus como profeta, ao qual é devotada uma das preces diárias e obrigatórias, a do amanhecer.

Jesus era filho de uma devotada família que só poderia seguir a fé mosaica. Falava nas sinagogas, o que significa que era reconhecido como rabino e, portanto, correspondia a rigorosos pré-requisitos. O assunto é por demais polêmico para ser tratado em poucas linhas, mas é importante notar que o cristianismo em sua origem é uma religião judaica, pregada por um judeu e seguida por outros judeus. A fé só se espalhou para os "gentios" por obra de São Paulo, que introduziu modificações e distorções que teriam causado espanto ao próprio Jesus, na condição de rabino.

Muitos estudiosos defendem que Jesus era plenamente versado na sabedoria da Cabala ("Tradição"). Na figura acima, vemos a Árvore da Vida da Cabala. Observemos a coluna do meio, a coluna de equilíbrio. A esfera mais baixa é a Terra, o "Reino" (Malkuth). Logo acima, a esfera da Lua, Yesod. A Terra está isolada de todas as outras, e sua condição sub-lunar faz com que seja necessário a consciência terrena se elevar até a esfera lunar, para que possa contemplar e depois subir à esfera de Iluminação, a esfera solar, Tiphereth. Cheguei a crer que a Iluminação era o objetivo final, mas ela é o objetivo "central"; contemplando a figura, vemos que ainda temos uma subida até a Coroa, Khether. Tiphereth, a esfera do Sol, representa o Coração, o Cristo, e vendo a Árvore da Vida, entendemos a frase "Eu sou a Verdade, o Caminho e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim". O Caminho direto para o Plano Divino é o Coração. A "chave" é o Amor.

Na impossibilidade de resumir assunto tão rico e complexo, vamos aos ensinamentos de Jesus, de acordo com as Sephiroth (esferas):

1 - Kether - Coroa - Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento.

2 - Chokmah - Sabedoria - Ama a teu próximo como a ti mesmo.

3 - Binah - Compreensão - Ama os teus inimigos, faze o bem aos que te odeiam, bendize aos que te amaldiçoam e ora pelos que te difamam.

4 - Chesed - Misericórdia - Ao dares esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita.

5 - Geburah - Justiça - Não julgues para não seres julgado.

6 - Tiphereth - Esplendor - Ao acender uma lâmpada, não a coloques em lugar oculto, mas sobre o candeeiro, para que dê claridade a todos os que estão na casa.

7 - Netzach - Vitória - Não jogues pérolas aos porcos.

8 - Hod - Glória - Pede e receberás, procura e acharás, bate e a porta se abrirá.

9 - Yesod - Firmeza - Entra pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição.

10 - Malkuth - Reino - Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.

Giancarlo Salvagni

Obs: veja o livro "Jesus e a Cabala Mística"



Fique na Luz Divina !!!

*** CABALA E IDENTIDADE ***


A história e formação de nossa identidade não é algo simples e fácil de ser definida. Temos em essência quatro bases para a formação de nossa identidade, são elas:

A Identidade Cósmica:
Somos todos feitos daquelas partículas elementares que têm a idade do universo e daqueles materiais forjados há bilhões de anos no interior das grandes estrelas. A Torá nos identifica como tendo uma origem única e inevitável origem. Ela (a Torá) não inicia com a história do primeiro judeu e sim do primeiro homem, tornando-a não a história de um grupo e sim a história de todo o gênero humano, do universo e de tudo o que há. Temos por assim dizer (todos) uma mesma Identidade Cósmica.

A Identidade Terrestre:
Somos todos habitantes desta terra e teremos (todos) que conviver com ela. Fazemos (todos) parte do gênero humano, independente de etnia, religião, raça, cultura, educação, língua, sexo, etc. Temos por assim dizer uma mesma identidade humana, e por isso devemos preservar a natureza desta identidade e participar de ações que possam promover a paz e o bom convívio de todos os que pertencem a identidade do gênero humano.

A Identidade Cultural:
É aqui, e apenas aqui que residem às diferenças. O ser humano criou a cultura, realidade especificamente humana. Criou-a a partir de intervenções sobre si mesmo e sobre a natureza. Essas intervenções permitiram que criasse o habitat humano que o gregos, com justeza, chamava de ethos. Ethos, em grego - donde vem a palavra ética, é a morada humana. Quer dizer, aquele pedaço do mundo que escolhemos cuidadosamente, organizamos e nele construímos nossa habitação permanente. Este "lugar" é a nossa cultura, as bases se nossa identidade coletiva. Os cabalistas são pessoas que ao longo da história escolheram por perceber a realidade pela lente do metafísico e a interpretar a realidade manifesta à luz do Mundo Infinito. Cabalistas se organizaram em comunidades, escolas e círculos de estudos. Daí surge uma cultura coletiva, uma forma vivente, que sempre correu paralela a religião oficial (judaísmo institucional) e sempre, e eu repito, sempre foi alvo de críticas e controvérsias de mentes mais fechadas e fundamentalistas. Mais uma identidade cultural precisa ser mantida. Na Cabalá isso se dá pela transmissão de mestre para discípulo em uma linha contínua de sucessão passada por gerações. Temos que nos dar ao trabalho de manter a nossa identidade cultural por intermédio do trabalho.

O trabalho é o meio maior de forjamento da cultura. Pertence ao trabalho cultural a criação de linguagens, idéias, mitos, artes, organizações, etc. Como participante de uma identidade cultural cabalista (que me foi passada por meu mestre) a gerações e como herdeiro desta cultura devo me comprometer em mantê-la e preservá-la. Lutando por sua consolidação e por sua manutenção.

A Identidade Pessoal:
Essa é ainda mais e mais particular. Cada um possui um nome próprio, porque cada um representa um ponto onde termina e se compendia o processo evolutivo. Pelo fato de ser consciente, cada um faz uma síntese singular, única, irrepetível de tudo o que capta, sente, entende e ama. Com os materiais acumulados em sua alma (por inúmeras encarnações) e com aqueles recolhidos em seu consciente faz uma leitura e uma apreciação que só ele e ninguém mais pode fazer.

Aqui reside a experiência única de um indivíduo com a sua identidade pessoal e sobre tudo espiritual. Cada pessoa traz consigo seu deserto pessoal, seu êxodo e sua busca pela Terra Prometida - que é o melhor de nossas possibilidades. Se minha alma identifica que o melhor de minha possibilidade é ser uma cabalista, quem neste universo (que não o Eterno) pode ser o juiz de tal escolha?

Por isso cada pessoa humana representa um absoluto concreto. Ele é a ponta do iceberg para onde convergem todas as linhas ascendentes da evolução. Cada um está no topo. Em razão disso se entende a dignidade humana. Mas tal afirmação não deve levar a pessoa à arrogância, imaginando-se o centro do universo. A ponta do iceberg não está isolada. Está unida a todo o iceberg, com a intricada teia de interdependências.

Para formar uma identidade é necessário ter a resposta para cada um desses quatro pilares e renunciar a qualquer arrogância ou pretensão de privilégio ou de domínio.

Cabalá e Identidade

Agora devemos refletir um pouco mais sobre o que vem a ser a Cabalá como identidade. Para isso devemos compreender - o que é um cabalista?

A palavra Cabalá significa recebimento. É a conhecimento espiritual que nos ensina o meio como reconstituímos o nosso receptor espiritual como outrora, no Gan Éden (Jardim do Éden), antes da queda de Adam.

Por intermédio do estudo, da dedicação ao aperfeiçoamento moral, de se buscar a Torá (lida e interpretada pela "lente" da Cabalá), através de meditações e aperfeiçoamento constante da sensibilidade espiritual, nos tornamos um cabalista.

E o que é ser um cabalista?

Em hebraico isso significa tornar-se um MEKUBAL, que nada mais é do que ser um receptor, um recipiente consciente. Assim que uma pessoa começa a fazer uso dos métodos e do sistema cabalista, você já se torna um receptor.

Para a Cabalá, tornar-se um receptor está diretamente ligado a um ato de contração, esvaziamento, submissão a Luz do Mundo Infinito. Se você está cheio, nada pode entrar, se você se esvazia de seu ego... passa a existir um espaço para algo entrar. Você começa a se tornar um receptor. Ao escolher a Cabalá como um caminho espiritual e um sistema de condução para a sua vida, você já começa a se tornar um cabalista, isso é um começo e não o fim da estrada. Todo cabalista é um eterno construtor de si mesmo, está sempre buscando o refinamento espiritual, o aprimoramento e o desenvolvimento de suas propriedades de alma. Desta forma, almejar chegar a consciência de sua neshamá (alma superior).

Não existe um cabalista pronto, completo, pois a Cabalá é um verbo. O verbo "receber" e não a idéia de ter já recebido. A cada momento há um aprimoramento, um desenvolvimento a ser alcançado.

O que vem a ser um CABALISTA? Um cabalista é alguém que se dispõe a receber a Luz do Mundo Infinito. Um cabalista é alguém ligado a uma escola, centro ou academia de Cabalá. Um cabalista é alguém submetido a um mestre (rav) do conhecimento. Um cabalista é alguém submetido aos ensinamentos da Torá, do Sêfer Yetzirá e do Bahir. (nas escolas de natureza teosóficas o Zohar).

Mais essencialmente existe duas grandes escolas do pensamento clássico da Cabalá. Existe a escola teosófica, a que a ortodoxia, por exemplo, está ligada e existe a escola contemplativa. Eu por exemplo estou ligado a escola contemplativa e sigo suas definições. Mas, as escolas tradicionais são unânimes em afirmar que a Cabalá só será útil se aprendermos a vivenciá-la e a trazê-la para nosso relacionamento cotidiano.

Você pergunta:
Quando o cabalista é completo?
Um pouco saber completa a cabalá?
Afinal, porque vc(s) é Cabalista, qual o teu propósito?

Eu respondo:
1) O cabalista nunca é completo, pois se assim o for deixará de receber a Luz do Mundo Infinito, um recipiente completo não se permite receber. O cabalista é um ser em constante busca de completude.
2) Um pouco saber faz de você um receptor, mais não "completa a cabalá" pois este conhecimento é constante e a cada ano desvenda-se mais e mais códigos que nos saltam diante dos olhos ao lermos e estudarmos a sagrada Torá e suas porções. Nada pode "completar" a Cabalá pois o conhecimento Divino é tão ilimitado quando o Ilimitado D'us, é tão infinito quanto o Infinito D'us.
3) Sou cabalista porque estou submetido aos conhecimentos espirituais da Cabalá. Sou cabalista porque coloco a Cabalá em minha vida cotidiana, Sou cabalista porque tive um mestre que me orientou no caminho, sou cabalista porque estou ligado as orientações de uma escola clássica do conhecimento, sou cabalista porque desejo preparar a cada dia o meu corpo, meu espírito e minha alma para receber cada vez mais a Luz do Mundo Infinito e me dispor a compartilhar as infinitas bênçãos que desejo receber para minha vida e para toda a humanidade. Sou cabalista pois tenho o propósito de levar todos os que estejam dispostos a receber a uma vida de bênçãos e de consciência.

Não pode existir um cabalista pronto, completo, terminado. O cabalista é tudo isso e ainda mais, pois é habitado por uma paixão insaciável que não encontra no universo nenhum objeto que lhe seja adequado e que o faça repousar. Ele está em movimento e identifica o repouso, o congelamento como o início da escravidão, do exílio e do mal. O cabalista é um projeto infinito.

É por isso que tenho orgulho de dizer: SIM, EU SOU CABALISTA!!!

Que a Luz do Mundo Infinito lhe ilumine em sua jornada.


*por Raziel Malach



Fique na Luz Divina !!!

*** CABALA NÂO É SÓ PARA JUDEUS ***


Meus queridos, a Cabalá é uma preciosidade garimpada em séculos de reflexão e experiências profundas e espirituais, que correu por fora das garras da intolerância e da arrogância prepotente dos fundamentalistas.


A Cabalá sempre partiu do princípio elementar de que, todo aquele que não caminha se desfaz.


Tentar uniformizar o Sagrado contradiz até mesmo a natureza do pensamento judaico. O judaísmo se baseia na estrutura central do mutável deserto.


Sendo assim, todo aquele que deseja ascender pela escada do auto-conhecimento, deve ir ao deserto, à intempérie, para começar de novo, para renascer no contato com a realidade que se vive de momento a momento. É preciso ir, libertar-se das idéias petrificadas, as torres de poder.


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O fundamentalismo é "mitzraim" (egípcio), é a estreiteza e o fechamento e Ivri (hebreu), é o que "vem do outro lado" e vai para o outro lado, e nunca termina de ir, nômade em busca da proximidade permanente com o Criador. O cabalista é um eterno viajante entre os mundos, físico e espiritual, procurando encontrar sempre um meio de enxergar a margem espiritual do mundo físico e a margem física do mundo espiritual.

No fundamentalismo religioso predomina o espaço estreito, a asfixia cômoda da repetição alienada, dos substantivos estáveis, calmos e seguros. Despretensiosos. Já os outros, os cabalistas são os transeuntes, os que vagam, caminham.

Cabalistas são pessoas que não dispõem de torres, nem de pirâmides de poder. Fanáticos religiosos querem erguer malditos muros. Monumentos aos próprios atributos. Esfinges de si mesmo. Torres. Ortodoxia de Babel.

Ser um cabalista é valorizar o momento, em detrimento do monumento. O fundamentalismo é a cultura das torres, das prisões de ferro, de cimento e de idéias.

O Sagrado não conhece rotinas seguras.

Esse é o perigo do fundamentalismo religioso e suas Torres de Certezas absolutas e para todos. E este é o mistério por trás da Torre de Babel. Ela (a Torre) quer que tudo esteja organizado, fechado, visível e SEGURO.

E muitas tolices podem ser cometidas em nome da segurança. Os construtores da Torre de Babel queriam a segurança. A Inquisição surgiu movida por fanáticos que queriam SEGURANÇA, o nazismo, maldito seja, também vendia um mundo mais "preservado", "seguro", "perfeito". Todas as grandes opressões políticas e sociais nasceram em nome de um suposto "estado de segurança". A segurança de uma só forma de pensar, um só discurso, uma só reação na mesma direção, tudo programado, organizado, um grande totalitarismo de idéias, afetos, emoções e devoções. Sem surpresas. Tijolos, Fixidez. Estabilidade. Assim os homens do conhecimento construíram a Torre de Babel, "cuja cabeça alcançava os céus". E negavam, com isso, toda a experiência particular de D'us.

A proposta dos pseudos-cabalistas é simples: Constrói-se uma "torre", liga-se céu e terra, e obtém-se um caminho fixo e imutável, e todos dormem apaziguados, e não precisam sonhar com escadas (como fez Yacov), e nem mesmo precisam sonhar. Todo o sonho e toda particularidade do encontro com o Sagrado deve ser proibido pelos senhores das torres.

Querem destruir D'us, o futuro, a aventura do movimento. Querem paralisar a história. Os deuses são eles, os "construtores" da moralidade religiosa.

Segurança e rotina conservadora. Era o primeiro paradigma de Mitzraim (Egito), o lugar fechado, a prisão.

E que será se poderia encontrar escondido por baixo e por dentro de tanta magnificência de tijolos, decoração, pedra, arquitetura deslumbrante.

Escravidão mental, soberba espiritual, prepotência arrogante.

E qual foi o pecado da Torre? O pecado não foi a "torre", o pecado não foi "babel", o pecado foi uma só língua. "E toda a terra era uma só língua" (Gênesis,11) Uma só língua, uma só expressão do sagrado pode ser algo muito perigoso.

Uma só língua não tolera outra língua, não tolera outra forma de pensar, não tolera o diferente, não tolera o outro.

E assim, perdendo-se o olhar para o outro, perde-se a contemplação, perde-se o Templo perde-se o tempo erguem-se as prisões e constroem-se as farsas.

O que sobra disso tudo?

Sobra a constante tentativa da ortodoxia fundamentalista, de fazer-se o único legítimo representante de tudo. Sobra palavras de ordem, sobra arrogância, sobra posturas "denunciatórias" sensacionalistas e vazias. Falta espiritualidade, argumentos inteligentes e sobretudo coerência.

Todos os que estejam com o coração e a mente aberta, são bem vindos a esta comunidade e são convidados a sentar em nossa "mesa". O resto, bem o resto que continue gritando.... bem de longe. Nós, cabalistas, reconhecemos todas as demais manifestações da espiritualidade, reconhecemos toda e qualquer interpretação que se possa levar ao Sagrado, mesmo que não venhamos a compactuar com estas visões.

Quanto aos desesperados, ao invés de discordar de nós, dizem que não existimos, deixam de ser rabinos, cabalistas, espiritualizados e entram para o rol dos que disputam poder e território. Como se isso realmente fosse possível.

Formam-se assim os velhos novos dormentes.

A Cabalá do Reconhecimento

15:14 Quando um estrangeiro (guer) residir convosco ou estiver entre vós em vossos ciclos, ele fará o fogo, odor agradável para Yihavehá. Ele fará como fizerdes.

15:15 Assembléia, mesma regra para vós e para o estrangeiro (guer) residente: regra de perenidade para vossos ciclos! Será assim para vós como para o estrangeiro (guer) em faces de Yihavehá.

15:16 Uma Torá e um julgamento serão para vós como para o estrangeiro (guer) que reside convosco"'.

Encontramos neste texto da Torá, na parashá Shelach, algumas informações importantes sobre o "guer". O "guer" é todo aquele que, mesmo não tendo nascido dentro da tradição, assim mesmo adere aos ensinamentos da Torá e Cabalá, guiando sua vida nos parâmetros da Sabedoria Espiritual.

É aquele que, estando perdido, procura as Verdades Objetivas do Mundo Espiritual e se prepara para RECONHECER a Unicidade da Luz do Mundo Infinito. Quando o "guer" passa a adotar a sabedoria espiritual da Torá, é como se a sua alma retrocedesse até o Monte Sinai, e lá, recebesse igualmente a Torá. A Torá, nos ensina a importância do "guer". E os textos místicos falam especialmente da importância do "guer", no advento da Era do Mashiach. Os antigos cabalista afirmaram que muitas almas da tradição, encarnariam entre as nações para difundir os ensinamentos da Torá a todos os povos.

É normal que uma pessoa tenha alguma profunda missão (tikun) dentro da Cabalá, mesmo tenho nascido fora da tradição. Sim, pois foi exatamente isso o que aconteceu com Avraham e outros grandes mestres de nossa tradição. Este é o significado da expressão:

"quando um guer residir convosco ou estiver entre vós em vossos ciclos (reencarnação)".

A palavra "guer" aparece no texto da Torá com o sentido de "estrangeiro". Sua raiz de significado "residir, habitar", transmite uma sensação de transitoriedade. "Moradores temporários vocês foram em Mitzraim" diz o texto da Torá, "vocês foram estrangeiros, vocês foram moradores temporários sentados sobre suas malas e vocês foram "conversos" em meio a outros".

Sendo assim, Rav Avraham Abuláfia nos ensinou que o conhecimento, a sabedoria da Cabalá Contemplativa é destino a toda a humanidade.

Mas o que é afinal a Cabalá?

O que é afinal a Torá?

Seriam os ensinamentos da tradição necessário a todos?

Para os cabalistas, o "guer" também representa um grau, um estágio transitório da alma dentro do mundo físico. Quando estamos confusos em relação ao nosso papel neste mundo, quando nos sentimos estranhos diante das leis de causa e efeito, somos como "estrangeiros" nesta dimensão. Para nos familiarizarmos com as leis que formam e governam o nosso mundo temos que ter acesso as chaves da Cabalá. Há um aspecto "guer" em cada um de nós, uma consciência estrangeira e repleta de dúvida em um mundo estranho e confuso. O "guer" também estaria ligado aos aspectos transitórios de nossas emoções, oscilando entre a certeza e a dúvida, criando um estado caótico de impermanência. Uma das maiores ignorâncias difundidas no meio religioso é a idéia de que a Torá e a Cabalá pertence apenas a um grupo específico e seleto de pessoas. Uma coisa importante é entender que a Cabalá antecede a qualquer religião ou teologia. Foi dada à humanidade pelo Criador, muito antes do surgimento das religiões. De acordo com os ensinamentos da Cabalá, o universo opera dentro de determinados princípios e regras. Quando aprendemos a compreender e agir de acordo com esses preceitos, geramos luz para nossas vidas e para toda a humanidade.

A Cabala nos dá o poder de compreender e viver em harmonia com essas leis - para usá-las para benefício nosso e do mundo e para nos remover da ignorância e desta forma não nos sentirmos mais como estrangeiros nesta dimensão.

A Cabala é um métodos práticos para realizar metas valorosas dentro dessa realidade. De forma simples, a Cabalá lhe proporciona as ferramentas que você precisa para trazer a Luz do Criador para sua vida.

E quanto a Torá?

Com que propriedade podemos afirmar que a Torá é um legado para toda a humanidade?

Rav Shimon bar Yochai, o autor do Zohar, dizia que em sua própria geração havia grandes escritores seriam capazes de compor histórias bem mais interessantes do que os relatos que aparecem na Torá. E ainda por cima, ele classificou todos esses rabinos, estudiosos e filósofos que tomam a Torá literalmente como inteiramente tolos. A Torá não é um rolo sagrado que tenta definir a moral e a ética adequadas pelos quais o ser humano deveria viver. Esta talvez seja uma das concepções mais equivocadas da religião - um equívoco que contribuiu para milhares de anos de sofrimento, perseguição e pré-conceito. O fato é que devemos "fazer o fogo" - como nos ensina a parashá e iluminar a nossa visão. Não a visão física e sim a visão da alma. O "fogo" mencionado na Torá é também uma palavra código para o corpo de conhecimento de Maassé Bereshit (Compreender a Obra da Criação). Maassé Bereshit nos abre a visão da alma. O olho como órgão físico está conectado com o nosso mundo físico do caos - conhecido em termos cabalísticos como a "Árvore do Conhecimento". A alma está conectada com uma realidade mais elevada com ordem e plenitude absolutas - conhecida pelo termo em código "Árvore da Vida." Somente a alma da Torá - a Cabala - pode nos apresentar a verdadeira compreensão e o verdadeiro significado espiritual do texto bíblico. A Torá funciona não apenas como um código formador do universo como também como um antídoto em relação ao caos que possa residir dentro do mundo físico.

Quando a Torá fala de matar, assassinar, roubar e de outras ações negativas, na realidade estamos recebendo uma vacinação para evitar que essas "doenças" recaiam sobre nossas vidas. A Torá é a vacina ou o antídoto, que nos protege e nos cura das forças negativas e destrutivas. Sem a Torá e a Cabalá, a vida se torna incerta, dúvida e "doença", o "guer" não se tornaria um "residente" da Sabedoria Espiritual.

E o que há de tão importante acerca da "dúvida"?

Segundo os cabalistas, a "dúvida" é a semente de todo o mal do mundo. Pois é um aspecto da alma que é incapaz de reconhecer a grandeza do Eterno em tudo o que se manifesta e existe. Todos nós temos, algum nível de dúvida.

Dúvida sobre nosso real potencial.
Dúvida sobre a existência da Luz do Mundo Infinito.
Dúvida sobre o nosso destino e sobre nossa capacidade de superar desafios.
Dúvida sobre a justiça.
Dúvida sobre as recompenses associadas ao comportamento positivo, espiritual.

Quando somos invadidos pela dúvida nos sentimos como estrangeiros no mundo físico. Para a Cabalá, Luz do Mundo Infinito está oculta, no mundo físico. Por isso, ficamos em dúvida acerca da Presença Divina. E é esta dúvida que permite o surgimento dos ataques (históricos) que os fundamentalistas religiosos fazem em relação aos cabalistas.

E é pela dúvida que não reconhecemos a grandeza do Eterno em tudo o que acontece ao nosso redor. Então, nos comportamos com intolerância. Colocamos a nós mesmos na frente dos outros. Duvidamos da existência do Criador e por isso nos sentimos confiantes de poder pessoal e das "verdades" subjetivas que criamos em nossa mente egocêntrica. Aceitamos bem com nosso comportamento insensível e nossa reatividade. Viramos as costas para a consciência espiritual e o desejo de transformação de caráter. Ficamos motivados unicamente pelo intelecto e pelo ego, e esquecidos de outros anseios que deixamos adormecidos em nossa alma. Quando estudamos a Torá e seus mistérios, por intermédio dos códigos da Cabalá, adquirimos a vacina contra a dúvida e o não-reconhecimento. Esta vacina é o "odor agradável para Yihavehá" como mencionado na Torá. Sem o conhecimento espiritual que decifra a história, a Torá se torna inoperante. Ela se torna um símbolo improdutivo, em vez de ser um instrumento incrível de poder.

Ainda pior...

Ainda pior, os sábios nos dizem que se alguém simplesmente aceita a Torá literalmente - lendo-a com uma postura mental religiosa ao invés de se conectar com ela num nível espiritual - a Torá se tornará um veneno.

A Cabalá nos ensina que todas as pessoas nesse mundo são pessoas comuns, não há nenhum tipo de "eleição" prévia sobre qualquer pessoa. Entendemos que existem três estágios essenciais da alma: o "gói" é aquele que se encontra "escravo" de suas emoções e aprisionado em suas "verdades" (mentiras) subjetivas, ignorante da Sabedoria Espiritual, o "goi" é completamente dominado pela energia negativa de Nachash. Há ainda o "guer", que é aquele que transita no meio da verdade mais por ser "estrangeiro" e sujeito aos aspectos transitórios das emoções se perde e não reconhece a unicidade e os movimentos da Luz do Mundo Infinito.

O objetivo final da alma é tornar-se um yehudi (palavra se foi posteriormente transliterada como "judeu"). Um dos maiores equívocos da história foi a conclusão de que o judaísmo seja algo transmitido por uma hereditariedade fechada. Yehudi, como tudo dentro da Sabedoria Espiritual é um estado de consciência, onde reconhecemos a natureza fundamental de nossa alma. Quando entramos dentro de nós mesmos e descobrimos a unicidade e a permanência da Luz do Mundo Infinito.

Avraham foi o primeiro yehudi

Avraham foi o primeiro yehudi.

E como alcançou este estagio espiritual?

Por que era filho de mãe judia?

Por que foi convertido dentro dos moldes da ortodoxia?

É claro que não.

A formula encontrada na Torá é bem clara: "vai para dentro de ti, de tua terra, de teu nascimento, da casa de teus pais, rumo à terra que te farei ver".

Essa é forma como o primeiro "guer" tornou-se um "yehudi".

Inicia-se por um mergulho interno, um "vai para dentro de ti" mesmo e descobre o que encontra lá dentro de sua alma.

Sendo assim, o chamando não é para uma religião e sim para um auto-conhecimento, independente de ancestralidade e origem pois o essencial é a experiência interna do encontro, mesmo que para isso seja necessário "partir de tua terra, de teu nascimento" e até mesmo "da casa de teus pais". A Luz indica que Avraham deve seguir a "terra que te farei ver". Quem faz ver (reconhecer) a terra (tradição) é a Luz e nada mais.

Tornar-se yehudi é então um ato de "ver", de reconhecer, muito mais do que ser visto ou ser reconhecido. Não ser "reconhecido" o equipara historicamente aos nossos ancestrais. Os romanos não nos "reconheciam" como parte de um propósito Divino. A inquisição não nos reconheciam como iguais em alma e espírito. A Alemanha nazista não nos reconhecia como gênero humano. Yosef não foi reconhecido pelos irmãos. Por isso, aprendemos, na Cabalá, que o gesto, de não reconhecer está diretamente ligado a uma limitação de alma que não o permite identificar o sagrado habitando dentro da legitimidade do outro. Cegos, ao não reconhecer o fundamentalista se liga aos exemplos mais torpes da história.

Mais de onde deriva o termo "yehudi" (judeu)?

Encontramos sua origem na própria Torá em referência à matriarca Leá quando foi dar o nome de seu filho Yehudá, "Desta vez eu reconhecerei a D'us" (Bereshit 29:35).

O nome "yehudi" deriva de Yehudá e possui sua raiz etimológica na palavra "hoda'á" que significa "reconhecer", "identificar". Tudo profundamente conectado aos mistérios da sefirá Hod, na Árvore da Vida.

Hod contem o atributo do reconhecimento, "aquele que reconhece" e por isso está ligado ao Eterno. No campo fisiológico, segundo os sábios da Cabalá Contemplativa ao atributo da defesa imunológica, capaz de reconhecer (no corpo) o que é negativo evitando desta forma a doença. Reconhecer e identificar a Luz do Mundo Infinito é o meio de ser yehudi.

contrário, que seria o não-reconhecimento, é ligado a falta de refinamento (virtude de Hod), e em última instância, a doença da alma.

Os verdadeiros cabalistas são aqueles que deixam de ser escravos (goi), saem da transitoriedade, incerteza e não reconhecimento do estrangeiro (guer) e aprende a reconhecer a Presença Divina dentro do mundo físico.

Não há diferença alguma entre um judeu e um não-judeu, além da centelha do Criador que se encontra dentro do verdadeiro "yehudi" (o reconhecedor) que percebe a verdade e a Luz do Mundo Infinito dentro do mundo físico e dentro do outro.

Isso significa que se essa centelha existe na consciência de uma pessoa, essa pessoa é chamada yehudi. Se essa centelha desaparece mesmo o yehudi torna-se um "guer", ou mesmo um "goi", escravo de seus condicionamentos robóticos e alienado de consciência.


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" A FARSA DA CABALA CARTA HUMANISTA "
Ortodoxia de Babel

Criei esse tópico para denunciar a ação de alguns fanáticos religiosos que andam tentando criar uma inquisição, que tal qual a outra, de "santa" nada tinha.

O que há, na verdade, por trás disso tudo?

Devo iniciar por uma grande reflexão presente dentro da história da Torre de Babel. Um dos fatores mais impressionantes que compõem a história da Torre é o fato de que a mesma foi construída por ilustres eruditos de seu tempo. Inovadores do sagrado, homens que tentaram, movidos pela arrogância, re-inventar a roda do sagrado e tomar para si, o que pertence ao Julgamento Divino. O mesmo ocorre aqui no mundo virtual. Impelidos pela arrogância e pelo despropósito, alguns (poucos) fundamentalistas ortodoxos promovem uma verdadeira onda de ódio e ataques infundados aos representantes desta milenar tradição. São, na grande maioria ignorantes travestidos de "eruditos", com retóricas prolixas e previsíveis. Fruto de uma competitividade estúpida e nada espiritual.

Só posso entender isso como um espasmo de desespero de identidade. Identidade essa que só se sente dentro de seu propósito quando nomeia um "inimigo" fantasioso, quando aponta hereges imaginários e cruzadas enlouquecidas. Sinto pena de seus mundinhos acinzentados e estreitos, tal qual suas mentes.

Tudo é possível em nome de tanta estupidez, ameaças anônimas, mentiras primárias e infantis, entre todo o tipo pífio de manipulação.

Mais não seria a ortodoxia fundamentalista, uma digna mantenedora das antigas tradições?

Não. A ortodoxia é um produto do mundo moderno, e como toda NOVA manifestação soa muitas vezes tão destemperada quanto alguns movimentos reformistas. Esses que tentam, em vão, se apoderar da Cabalá, são fanáticos desesperados cujo único potencial congregador se dá pela unidade do ódio gratuito.

Ortodoxos são os donos de tudo, de D'us, da Torá, da experiência pessoal do sagrado, de Israel, das conversões e AGORA, até mesmo da Cabalá. Essa é a ilusão que os nutre. Saibam todos, que existem grandes escolas de Cabalá dispostas a ensinar os fundamentos desta preciosa tradição a todos os que estejam dispostos a aprender e beber de sua fonte.

Justo a Cabalá, que sempre foi o pensamento "marginal" da religião oficial e que ao longo da história sempre teve como maior obstáculo a própria ortodoxia fundamentalista. Moisés não era ortodoxo. Rav Shimon Bar Yochai não era ortodoxo. Tão pouco o foi, Nehuniá Ben HaKaná, Baruch Togarmi, Avraham Abuláfia, Itzchack Luria, Moshé Chaim Luzatto e Baal Shem Tov. Todos, todos foram perseguidos e massacrados pelo fundamentalismo, intransigente, incoerente e incompetente de seus tempos.

O que dizer das perseguições sofridas por Rav Avraham Abuláfia, no século XIII? De onde vinham os ataques? Vinham de fanáticos fundamentalistas de seu tempo. O que Abuláfia, com muita propriedade chamou de "os dormentes".

Fundamentalistas se apoderam de uma profunda incoerência e discursos pré-formados, retórica implacável e erudição exemplar dos que constroem "torres" de idéias. Idéias cuja única ganância é destruir o que é diferente.

Lhe dirão que este e aquele movimento espiritual não são "legítimos" por causa da HALACHÁ (Código de Leis Judaica).

O que eles não explicam, talvez por que não saibam é que "halachá", literalmente significa "forma caminhante". E é no momento desta "caminhada" que se pode ver a incoerência absurda dos fundamentalistas pois os mesmo não se movem nunca.

Quando a opinião do diferente é descartada, quando há indiferença e se busca desqualificar a experiência sagrada do outro (dos outros), criamos um mundo onde torna improvável a convivência lúcida e equilibrada. Surge neste instante a pobreza espiritual desastrosa, danosa e muitas vezes criminosa.

Mais o que é então esta onda de ataques que surgem dentro deste universo virtual? Trata-se de uma guerra ideológica e de interesses toscos. Há claramente um grande medo e uma enorme insegurança por parte de grupos radicais, cada vez mais impopulares em suas tentativas de angariar "fiéis" mantenedores.

E na onda desses medos conspiratórios a estupidez ganha forma, talit e "aromas" diversos.


*Raziel Malach - postado no orkut comunidade "Cabala, Kabbalah"



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