domingo, 8 de junho de 2008

*** APEGO - OITO PASSOS PARA SOLTAR AS AMARRAS ***


ESPIRITUALIDADE
Desgrude-se do apego

Na língua portuguesa, a palavra apego tem até uma sentido positivo. Ele é tão apegado à famí­lia..., se diz no interior de São Paulo e Minas Gerais. Já o contrário, o desapego, é malvisto: Ele é completamente desapegado, não liga para nada... Mas o apego, na linguagem budista e cristã, tem outro significado. É algo opressivo, que nos asfixia e aprisiona, sem mesmo termos consciência. Apego é o maior sinônimo de sofrimento e sua maior causa, sintetiza o filósofo indiano Krishnamurti no livro A Mutação Interior (ed. Cultrix).

Desapegar-se, portanto, é liberar-se do apego. É, literalmente, soltar-se do laço que nos sufoca. Algo que traz alívio interno, paz de espí­rito, uma alegria que relaxa. O problema é que não percebemos que existe o laço. Pensamos que não podemos viver sem aquilo, que na verdade é uma grande fonte de angústia, reconhece a socióloga Fátima Souza Murtinho, de Belo Horizonte. Como perceber se estamos apegados a algo? Apego é atribuir exagerada importância a um objeto, uma situação ou uma pessoa, explica a psicóloga Bel Cesar, diretora do Centro de Dharma da Paz, em São Paulo. Em outras palavras: apego não é uma manifestação de amor, mas de posse, um desejo incontrolável de conservar algo para sempre.

Tudo muda o tempo todo. Sofremos e nos inquietamos só de pensar em nos desapegar de algo, reconhece a psicóloga. Ficamos dependentes, vulneráveis. Nem percebemos que somos nós mesmos que atribui­mos tantas qualidades aquilo que nos prende, exagerando sua real importância, explica Bel Cesar. E fazemos isso o tempo todo, dizem os budistas, tanto com as pessoas a quem queremos bem como também com aquelas a quem odiamos. É mais fácil até nos apegarmos as emoções negativas do que as boas memórias. Podemos ficar anos remoendo algo que alguém disse e nos magoou.

As filosofias e religiões orientais reconhecem que somos uma coleção ambulante de apegos: aos nossos hábitos, as nossas pequenas manias, ao que consideramos certo e errado, ao que achamos que somos. Simplesmente nos recusamos a mudar “ até que a vida dê um jeito de nos obrigar a fazer isso. Foi o que aconteceu com a administradora paulista Márcia Silva. Aos 27 anos, com três filhas pequenas (a menor com 9 meses), ela teve que modificar totalmente seu estilo de vida quando o marido adoeceu.

Deixava as crianças com os vizinhos para levá-lo ao hospital, para sessões de hemodiálise. Aprendi a negociar as contas atrasadas. Abdiquei da perfeição, conta. A dificuldade da situação a suavizou por dentro e a despertou para a vida. Mudei muito. Hoje interajo mais com a vida, com aquilo que se apresenta a cada momento. Procuro estar sempre aberta para o mundo, tanto para a beleza como para o sofrimento, diz Márcia. Ela recolhe gatinhos abandonados“ mesmo que para bagunçar a arrumação da sala“, para de reclamar de dor da perna quando vê alguém na cadeira de rodas. Desapegar-se é um eterno aprendizado, que dura toda a vida, admite ela.


Sentimento que cola
1. Medite em que situações você se sente preso, asfixiado.

2. Reconheça seu apego. Essa consciência é vital para a mudança.

3. Procure experimentar pequenas ações de desapego. Doe objetos, desista de uma mania, mude um de seus hábitos. Não use doenças para obter atenção das pessoas.

4. Desperte e interaja com o mundo. Participe de uma campanha de solidariedade, ajude quem está precisando em seu círculo de amigos.

5. Imagine-se livre de seu objeto de apego e sinta-se feliz por conquistar a liberdade. Prove essa sensação quantas vezes quiser. Ela abrirá caminho para suas futuras decisões.

6. Não tenha medo. Veja o que pode mudar em sua vida, sinta curiosidade por outras maneiras de viver. Compartilhe seus bens, suas alegrias e seus sonhos.

7. Se necessário, procure ajuda nos grupos espirituais ou de apoio psicológico para tomar decisções importantes.

8. Medite. A meditação acalma a mente, e essa tranquilidade é a base para livrar-se dos apegos.Todo mundo já ouviu alguém dizer: Sou tão desapegado, para mim nada tem valor...Nada mais falso. Desapego nada tem a ver com indiferença. É uma ilusão acreditar que o desapego é apenas uma renúncia aos bens materiais, explica Oddone Marsiaj, instrutor de meditação e diretor do grupo budista Shambhala do Brasil. O verdadeiro desapego é renunciar à cola que nos gruda a objetos, situações e pessoas. Podemos usufruir de tudo isso, mas sem grudar ou se deixar aprisionar-se, salienta.
Desapegar-se, portanto, não significa abdicar dos prazeres “ter uma casa nova, usar um belo vestido, saborear uma refeição deliciosa ou mesmo se apaixonar intensamente por alguém". Podemos ter o que quisermos, mas sabendo que também podemos abrir mão de tudo, se necessário, explica ele.

Já o falso desapego, aquele que faz desistir da vida e dos outros, pode esconder um amargor profundo, um sentimento de impotância e injustiça. Nesse caso, o rótulo de desapego serve apenas como desculpa para encobrir dificuldades com a parte concreta da vida, continua o instrutor. O raciocí­nio é simples: já que não consigo ter os bens que desejo, renuncio a tê-los. Ou melhor, penso que desisto, esclarece. Na verdade, o desejo continua existindo, só que reprimido, sufocado, gerando frustrações, diz Oddone.

O falso desapego também pode ser usado como uma máscara para a arrogância. Nesse caso, as pessoas se vangloriam de sua própria condição espiritual: se julgam desapegadas, como se fossem mártires. Santo Agostinho (354-430), um dos maiores teólogos da Igreja Católica, afirmou que esse é um dos maiores pecados que podem existir , ele o chama de "o orgulho dos santos".

Essa pretensa espiritualidade não passa de expressão do ego, de vaidade, frisa Oddone Marsiaj. Pode até se transformar num instrumento para manipular e influenciar os outros. O verdadeiro desapego é resultado da sabedoria, da compreensão do que é a vida. Aprendemos, por meio dos ensinamentos espirituais ou pelas nossas próprias experiências, que tudo nesse mundo é impermanente, que as coisas sempre mudam e se transformam, e que ficar grudado a situações, pessoas, sentimentos ou hábitos torna-se apenas fonte de dor e angústia. Compreender e aplicar esse princí­pio à vida nos libertará, finaliza Oddone Marsiaj.


Fique na Luz Divina !!!

Nenhum comentário: