quinta-feira, 22 de novembro de 2007

***O CARÁTER VIRÓTICO DAS RELIGIÕES.***


A primeira semelhança entre as religiões e as viroses se dá na forma de contágio. É bem sabido como os religiosos sempre se preocupam com a formação das crianças, com o amparo aos doentes e sofredores. Isto parte de uma razão simples: assim como são os que estão mais vulneráveis aos males do corpo, são também os que têm menos condições de resistir às idéias que lhe são dadas. Usando a capa da bondade, a doença se insinua no coração dos desatentos.

(Seria então indesejável a solidariedade? Claro que não. Mas, como veremos a seguir, é característico das doenças tornarem úteis a si aquilo que nos é natural, e a solidariedade é uma tática natural de preservação da espécie. Somos solidários antes de sermos religiosos, e a Natureza nos fornece exemplos de solidariedade mesmo entre diferentes espécies).

Contraída a crença, esta rapidamente se espalha e procura ocupar todas as áreas existentes. Esta é a segunda semelhança: assim como o vírus se espalha pelo corpo, prejudicando todas as funções, a crença tenta dominar toda a vida psíquica do indivíduo, o incentivando com uma febre nova: ela quer ocupar suas programações sobre dieta, dizendo o que comer e quando jejuar, quer definir como se vestir e como falar, quer discriminar o tipo e a freqüencia do sexo, interferindo o tempo todo no processo de decisão do ser humano. Como um vírus de computador, a crença acaba por ocupar todas as rotinas e transforma sua vítima em um autômato, enquanto devora sua liberdade, sua consciência e sua vontade; mesmo pessoas que não se acreditam religiosas tem suas funções prejudicadas por contaminações viróticas, e, em raros momentos de maior lucidez, recriminam a cultura onde cresceram, mais ou menos cientes que o vírus da programação religiosa se abriga e disfarça em toda manifestação social.

É claro que a disposição natural de todos os seres vivos é para o prazer e a liberdade. É preciso sempre a imposição de força quando queremos que o animal deixe de viver sua verdadeira natureza para se transformar em um bibêlo de nossas carências. Da mesma forma, é preciso que a crença exerça uma grande força para transformar o ser humano no fantoche das manias de outro. A terceira semelhança é o desenvolvimento de mecanismos de defesa contra a disposição natural e saudável, assim como o vírus que aprende a se defender dos anti-corpos. Da mesma forma como os vírus se apropriam do funcionamento do nosso corpo para seu proveito, a crença toma conta dos nossos reflexos mais primitivos, o prazer, a dor e a raiva, para se proteger dos ataques que a razão e a percepção dos fatos lhe fazem. Toda crença promete um grande usufruto no futuro próximo ("sua vida vai melhorar") ou distante ("você vai para o céu"), ou um grande castigo, e dispara a reação de raiva quando outra pessoa tenta mostrar que o doente pode estar errado (as pessoas podem querer negar que têm uma doença ou um problema da mesma forma como negam os erros contidos em seu discurso religioso). Formas mais benignas da doença religiosa tentam condicionar a pessoa a ter um comportamento mais tranqüilo diante das contradições, lhe dando a gratificação de se sentir um ser superior, provido de douta ignorantia ("eu não sei porque minha religião não consegue explicar isso, mas sou humilde e reconheço minha falta de inteligência e de conhecimento" ), e mesmo a fazem se sentir triste ou magoada (o resultado da tática virótica, entretanto, é sempre afastar o doente da fonte de razão saudável). A crença também tem uma reação anestésica de alienação, convencendo a pessoa de que seus sofrimentos têm uma razão de ser e serão recompensados. Assim, chegamos na quarta semelhança: como a pessoa doente perde a plena percepção da realidade e tem o uso da razão prejudicado, o crente passa a ter seu raciocínio distorcido, na tentativa de sempre confirmar aquilo que acredita, e tem sua percepção viciada nos aspectos da realidade que reforçam sua ilusão (a hidrofobia causa aversão à água da mesma forma que a religião causa aversão à razão).

Por fim, é da natureza de toda doença se propagar. A quinta semelhança entre crença e doença é que, assim como os vírus são programados para ocuparem um corpo e, a seguir, se propagarem em busca de novas vítimas, toda crença causa um comportamento compulsivo que leva a pessoa atacada a querer difundir sua religião. Crenças mais agressivas levam a comportamentos totalitários, onde as pessoas são forçadas a repetir o discurso dos doentes; outras tentam contaminar de formas mais benignas.

É claro que toda doença tem sua vacina. A vacina contra o contágio da crença é a educação filosófica e científica. Mas as adaptações viróticas também tem suas defesas contra isto; há tempos que o discurso religioso aprendeu a fazer com que seus escravos vejam e acusem as pessoas racionais de orgulhosas, cruéis, sem coração, arrogantes, fugindo assim do campo da argumentação onde não pode prevalecer e recorrendo a vilipendiações pessoais. A defesa da ignorância como valor foi a estratégia disponível à propagação do Cristianismo, entre as classes iletradas do Império Romano diante das denúncias filosóficas. Ser ignorante, ou, em linguagem eufemística, ser simples, passou a a ser considerado como ideal de virtude. O resultado histórico todos conhecem, pois os casos mais agudos da doença religiosa levam sempre à tortura e a morte. Em sociedades onde os doentes são minoritários, a religião em sua forma mais aguda leva à alienação social, cujo extremo é a forma de suicídio chamada de martírio; em sociedades onde a doença conseguiu dominar a maioria, ela causa o fenômeno da perseguição religiosa, cujo extremo é o assassinato (veja-se o texto sobre Hipácia).

É claro que muitos podem defender a doença religiosa, afirmando os benefícios de socialização que ela traz, em suas formas mais benignas. Trata-se, entretanto, de uma distorção da percepção dos fatos e um desvio do exercício da razão, de acordo com a quarta semelhança virótica. A doença religiosa só pode trazer tais benefícios em sociedades onde a estrutura civil falha em prover seus cidadãos com condições suficientes de vida e educação. O ser humano que recebe esses benefícios tem todas as condições de ser um elemento útil e benéfico. Imaginar que a religião é necessária à formação do caráter é uma idiotice que só um doente religioso acredita e defende, pois as sociedades mais religiosas foram as que causaram os piores desvios de conduta. A formação religiosa nunca preveniu o descaso, a incompetência e a corrupção das classes dirigentes de um país. Na verdade, a estória das organizações religiosas, notadamente as igrejas cristãs, é repleta das mais abomináveis distorções. Se a educação familiar e civil for incapaz de produzir um cidadão socialmente aceitável, a influência religiosa irá produzir apenas mais um hipócrita.

Quantos ateus você consegue achar na cadeia?

É claro que o preso (ou o bêbado, ou o dependente químico) que se torna socialmente regenerado como resultado da infecção religiosa (como fiz notar, quanto pior a situação da pessoa, mas suscetível de pegar a doença) simplesmente prova a minha afirmação de que o benefício religioso só ocorre onde a família e a sociedade civil falham. Nesses casos, a conversão (ou, antes, a infecção) da religião acaba sendo aceitável como um remendo de segunda mão.

É claro que, por outro lado, a religião pode estar respondendo a um outro tipo de anseio, a busca humana pelo Mistério do Mundo, do qual o Mistério do Homem é apenas um detalhe, cifrado em símbolos, mitos e ritos. Nestes casos, a religião dá um vislumbre e mesmo, em alguns casos de maior dedicação, permite que se sinta o aroma das rosas místicas. Mas é um conhecer incompleto, mediado e inconsciente, que acaba matando a maravilha com respostas prontas... É que, nesse pequeno naco de ambrosia, aguardam os germes da crença, que destróem a mente e seus milagres.

*Recebi e publico aqui pois achei muito interessante, nos faz pensar e pensar muito, e "Pensar" é muito bom, então te convido a pensar .........

Fique na Luz Divina!!!

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