domingo, 20 de julho de 2008

*** CABALA E IDENTIDADE ***


A história e formação de nossa identidade não é algo simples e fácil de ser definida. Temos em essência quatro bases para a formação de nossa identidade, são elas:

A Identidade Cósmica:
Somos todos feitos daquelas partículas elementares que têm a idade do universo e daqueles materiais forjados há bilhões de anos no interior das grandes estrelas. A Torá nos identifica como tendo uma origem única e inevitável origem. Ela (a Torá) não inicia com a história do primeiro judeu e sim do primeiro homem, tornando-a não a história de um grupo e sim a história de todo o gênero humano, do universo e de tudo o que há. Temos por assim dizer (todos) uma mesma Identidade Cósmica.

A Identidade Terrestre:
Somos todos habitantes desta terra e teremos (todos) que conviver com ela. Fazemos (todos) parte do gênero humano, independente de etnia, religião, raça, cultura, educação, língua, sexo, etc. Temos por assim dizer uma mesma identidade humana, e por isso devemos preservar a natureza desta identidade e participar de ações que possam promover a paz e o bom convívio de todos os que pertencem a identidade do gênero humano.

A Identidade Cultural:
É aqui, e apenas aqui que residem às diferenças. O ser humano criou a cultura, realidade especificamente humana. Criou-a a partir de intervenções sobre si mesmo e sobre a natureza. Essas intervenções permitiram que criasse o habitat humano que o gregos, com justeza, chamava de ethos. Ethos, em grego - donde vem a palavra ética, é a morada humana. Quer dizer, aquele pedaço do mundo que escolhemos cuidadosamente, organizamos e nele construímos nossa habitação permanente. Este "lugar" é a nossa cultura, as bases se nossa identidade coletiva. Os cabalistas são pessoas que ao longo da história escolheram por perceber a realidade pela lente do metafísico e a interpretar a realidade manifesta à luz do Mundo Infinito. Cabalistas se organizaram em comunidades, escolas e círculos de estudos. Daí surge uma cultura coletiva, uma forma vivente, que sempre correu paralela a religião oficial (judaísmo institucional) e sempre, e eu repito, sempre foi alvo de críticas e controvérsias de mentes mais fechadas e fundamentalistas. Mais uma identidade cultural precisa ser mantida. Na Cabalá isso se dá pela transmissão de mestre para discípulo em uma linha contínua de sucessão passada por gerações. Temos que nos dar ao trabalho de manter a nossa identidade cultural por intermédio do trabalho.

O trabalho é o meio maior de forjamento da cultura. Pertence ao trabalho cultural a criação de linguagens, idéias, mitos, artes, organizações, etc. Como participante de uma identidade cultural cabalista (que me foi passada por meu mestre) a gerações e como herdeiro desta cultura devo me comprometer em mantê-la e preservá-la. Lutando por sua consolidação e por sua manutenção.

A Identidade Pessoal:
Essa é ainda mais e mais particular. Cada um possui um nome próprio, porque cada um representa um ponto onde termina e se compendia o processo evolutivo. Pelo fato de ser consciente, cada um faz uma síntese singular, única, irrepetível de tudo o que capta, sente, entende e ama. Com os materiais acumulados em sua alma (por inúmeras encarnações) e com aqueles recolhidos em seu consciente faz uma leitura e uma apreciação que só ele e ninguém mais pode fazer.

Aqui reside a experiência única de um indivíduo com a sua identidade pessoal e sobre tudo espiritual. Cada pessoa traz consigo seu deserto pessoal, seu êxodo e sua busca pela Terra Prometida - que é o melhor de nossas possibilidades. Se minha alma identifica que o melhor de minha possibilidade é ser uma cabalista, quem neste universo (que não o Eterno) pode ser o juiz de tal escolha?

Por isso cada pessoa humana representa um absoluto concreto. Ele é a ponta do iceberg para onde convergem todas as linhas ascendentes da evolução. Cada um está no topo. Em razão disso se entende a dignidade humana. Mas tal afirmação não deve levar a pessoa à arrogância, imaginando-se o centro do universo. A ponta do iceberg não está isolada. Está unida a todo o iceberg, com a intricada teia de interdependências.

Para formar uma identidade é necessário ter a resposta para cada um desses quatro pilares e renunciar a qualquer arrogância ou pretensão de privilégio ou de domínio.

Cabalá e Identidade

Agora devemos refletir um pouco mais sobre o que vem a ser a Cabalá como identidade. Para isso devemos compreender - o que é um cabalista?

A palavra Cabalá significa recebimento. É a conhecimento espiritual que nos ensina o meio como reconstituímos o nosso receptor espiritual como outrora, no Gan Éden (Jardim do Éden), antes da queda de Adam.

Por intermédio do estudo, da dedicação ao aperfeiçoamento moral, de se buscar a Torá (lida e interpretada pela "lente" da Cabalá), através de meditações e aperfeiçoamento constante da sensibilidade espiritual, nos tornamos um cabalista.

E o que é ser um cabalista?

Em hebraico isso significa tornar-se um MEKUBAL, que nada mais é do que ser um receptor, um recipiente consciente. Assim que uma pessoa começa a fazer uso dos métodos e do sistema cabalista, você já se torna um receptor.

Para a Cabalá, tornar-se um receptor está diretamente ligado a um ato de contração, esvaziamento, submissão a Luz do Mundo Infinito. Se você está cheio, nada pode entrar, se você se esvazia de seu ego... passa a existir um espaço para algo entrar. Você começa a se tornar um receptor. Ao escolher a Cabalá como um caminho espiritual e um sistema de condução para a sua vida, você já começa a se tornar um cabalista, isso é um começo e não o fim da estrada. Todo cabalista é um eterno construtor de si mesmo, está sempre buscando o refinamento espiritual, o aprimoramento e o desenvolvimento de suas propriedades de alma. Desta forma, almejar chegar a consciência de sua neshamá (alma superior).

Não existe um cabalista pronto, completo, pois a Cabalá é um verbo. O verbo "receber" e não a idéia de ter já recebido. A cada momento há um aprimoramento, um desenvolvimento a ser alcançado.

O que vem a ser um CABALISTA? Um cabalista é alguém que se dispõe a receber a Luz do Mundo Infinito. Um cabalista é alguém ligado a uma escola, centro ou academia de Cabalá. Um cabalista é alguém submetido a um mestre (rav) do conhecimento. Um cabalista é alguém submetido aos ensinamentos da Torá, do Sêfer Yetzirá e do Bahir. (nas escolas de natureza teosóficas o Zohar).

Mais essencialmente existe duas grandes escolas do pensamento clássico da Cabalá. Existe a escola teosófica, a que a ortodoxia, por exemplo, está ligada e existe a escola contemplativa. Eu por exemplo estou ligado a escola contemplativa e sigo suas definições. Mas, as escolas tradicionais são unânimes em afirmar que a Cabalá só será útil se aprendermos a vivenciá-la e a trazê-la para nosso relacionamento cotidiano.

Você pergunta:
Quando o cabalista é completo?
Um pouco saber completa a cabalá?
Afinal, porque vc(s) é Cabalista, qual o teu propósito?

Eu respondo:
1) O cabalista nunca é completo, pois se assim o for deixará de receber a Luz do Mundo Infinito, um recipiente completo não se permite receber. O cabalista é um ser em constante busca de completude.
2) Um pouco saber faz de você um receptor, mais não "completa a cabalá" pois este conhecimento é constante e a cada ano desvenda-se mais e mais códigos que nos saltam diante dos olhos ao lermos e estudarmos a sagrada Torá e suas porções. Nada pode "completar" a Cabalá pois o conhecimento Divino é tão ilimitado quando o Ilimitado D'us, é tão infinito quanto o Infinito D'us.
3) Sou cabalista porque estou submetido aos conhecimentos espirituais da Cabalá. Sou cabalista porque coloco a Cabalá em minha vida cotidiana, Sou cabalista porque tive um mestre que me orientou no caminho, sou cabalista porque estou ligado as orientações de uma escola clássica do conhecimento, sou cabalista porque desejo preparar a cada dia o meu corpo, meu espírito e minha alma para receber cada vez mais a Luz do Mundo Infinito e me dispor a compartilhar as infinitas bênçãos que desejo receber para minha vida e para toda a humanidade. Sou cabalista pois tenho o propósito de levar todos os que estejam dispostos a receber a uma vida de bênçãos e de consciência.

Não pode existir um cabalista pronto, completo, terminado. O cabalista é tudo isso e ainda mais, pois é habitado por uma paixão insaciável que não encontra no universo nenhum objeto que lhe seja adequado e que o faça repousar. Ele está em movimento e identifica o repouso, o congelamento como o início da escravidão, do exílio e do mal. O cabalista é um projeto infinito.

É por isso que tenho orgulho de dizer: SIM, EU SOU CABALISTA!!!

Que a Luz do Mundo Infinito lhe ilumine em sua jornada.


*por Raziel Malach



Fique na Luz Divina !!!

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