terça-feira, 9 de outubro de 2007

***OS MISTÉRIOS DA ÁGUA - Parte 1***

Novas pesquisas revelam propriedades surpreendentes e podem até ajudar a explicar a homeopatia.

Photonica

Os estudos sobre a água têm gerado algumas das mais insólitas descobertas científicas dos últimos anos. Químicos e físicos estão esbarrando em fenômenos estranhos, como sementes que crescem mais alto e em ritmo mais rápido, desde que regadas com uma água tratada por um campo magnético. Ou a constatação de que pequenas mudanças na estrutura do líquido podem fazê-lo absorver mais ou menos radiação. Há até histórias de pequenos problemas de saúde curados só pela ação da água. Relatos assim são suficientes para que algumas pessoas busquem nos novos estudos indícios para confirmar idéias defendidas pela homeopatia há centenas de anos. Mas essa visão é polêmica e se restringe a alguns pesquisadores.

O essencial é que essas novidades estranhas podem ser a porta de entrada para avanços importantes. Durante uma visita ao Brasil no início deste ano, o inglês Peter Atkins, autoridade mundial em físico-química e professor da Universidade Oxford, foi interrogado por estudantes sobre quais campos de pesquisa mais promissores para a novas descobertas. "Nanotecnologia e estudos sobre a água", respondeu. Bem, talvez a nanotecnologia ainda esteja engatinhando em nosso país, mas felizmente já há brasileiros tentando desvendar os mistérios da molécula de H2O.


Em junho passado o suíço Louis Rey publicou na revista européia "Physica A" os resultados do experimento que fez comparando água pura com duas soluções de cloreto de sódio e cloreto de lítio dissolvidos em água. Na experiência, as etapas de dissolução foram repetidas tantas vezes que o número de moléculas de cloreto de sódio e de cloreto de lítio na solução chegou quase a zero. Ou seja, na prática, as duas amostras também podiam ser consideradas como contendo apenas água. E após cada diluição, Rey sacudia os frascos vigorosamente.

No fim do processo, o suíço congelou as amostras e submeteu-as a uma técnica conhecida como termoluminescência, que usa a radiação para estudar a estrutura dos sólidos. Os resultados mostraram importantes diferenças estruturais, o que sugere que, embora os cloretos não estivessem mais lá, haviam deixado uma espécie de marca de sua passagem impressa na disposição das moléculas da própria água. "Conseguimos mostrar que os remédios homeopáticos são diferentes da água pura, uma polêmica que se arrastava há séculos", disse Rey a GALILEU. "Mas é só um primeiro passo.

reprodução

Briga centenária
Há dois séculos os químicos vêem com desconfiança a homeopatia criada por Hahnemann (acima)
O artigo ganhou destaque até na prestigiosa revista britânica "New Scientist" e foi saudado em todo o mundo pelos homeopatas, pois seus resultados sugerem que pode haver uma explicação natural para o que o criador da homeopatia, o alemão Samuel Hahnemann (1755-1843), chamava de "memória": a suposta capacidade da água de absorver traços das substâncias que dissolvesse. Mas recebeu críticas igualmente importantes. As mais fortes vieram do inglês Martin Chaplin, químico da Universidade Southampton de Londres. "Para analisar as amostras, ele teve que congelá-las, o que por si só já alteraria a estrutura das moléculas de água", diz Chaplin. "E talvez alguma contaminação explique as diferenças de estrutura detectadas pela termoluminescência." "Os argumentos de Chaplin mostram que ele não entende de ligações de hidrogênio no gelo", rebate Rey.

Diluir faz crescer

Mas Chaplin não renega totalmente a homeopatia, e recorre a outra experiência esquisita para especular sobre o mecanismo que explica sua ação. Em 2000, dois químicos trabalhando na Coréia fizeram diluições sucessivas tentando quebrar um composto conhecido como fulereno, uma molécula gigante em formato de bola de futebol com mais de 60 átomos de carbono. Só que a ação da água, ao invés de quebrar as tais moléculas gigantes, fez com que formassem agregados cada vez maiores. A experiência foi repetida com outras moléculas e gerou resultados semelhantes.

A formação desses superagregados ainda não foi explicada. Uma hipótese é que resultariam de uma interação com a própria estrutura da água. "Uma dessas supermoléculas, criadas por meio do processo de diluições sucessivas em água, poderia gerar algum efeito no organismo", sugere Chaplin. "Mas isso aconteceria apenas numa pequena porcentagem dos casos. Acho que a eficácia dos remédios homeopáticos se deve na maior parte das vezes ao efeito placebo", avalia.

Já o brasileiro José Fernando Faigle, do Instituto de Química da Unicamp, sentiu-se atraído pelos fenômenos causados pela água tratada com campos magnéticos. Em meados dos anos 1990, Faigle observou que os animais cobaias tratados com esse tipo de água apresentavam sinais positivos, como menor teor de gordura e menos doenças. O passo seguinte foi tentar entender por que isso acontecia. Junto com sua aluna Maria Eugênia Porto, começaram a vasculhar a literatura atrás de pistas. "Basicamente existem duas grandes visões sobre a estrutura da água", explica Faigle. "A mais usada considera apenas as moléculas de H2O, mas existe um outro modelo que leva em conta também os agregados que as moléculas formam, chamadas de clusters." Graças às novas pesquisas, o modelo dos clusters está bastante em voga. Ele prevê que a a água tenha uma estrutura ao mesmo tempo dinâmica e com algum grau de estabilidade.

Um colírio feito de água

A seguir, o time de Campinas passou a realizar experimentos e encontrar resultados estranhos. Um deles visava medir a capacidade de um composto de água e cloreto de magnésio em absorver radiação ultravioleta (UV), enquanto passava por diluições sucessivas. A princípio, a diluição causou a redução no número de moléculas de cloreto de magnésio, o que resultava numa menor absorção de UV. Depois de certo ponto crítico, quando praticamente só havia água no composto, a absorção caiu a zero.

Mas depois de mais diluições a própria água passou a absorver a radiação. A melhor hipótese para explicar o fenômeno tem a ver com mudanças na estrutura de clusters. "É só uma hipótese, porque não temos certeza se clusters existem mesmo", reconhece Maria Eugênia.

O estudo da ação de campos magnéticos também encontrou fenômenos curiosos. De cara, a intensidade dos campos usados em muitos experimentos era tão baixa que deveria ser inócua. Porém, os estudiosos observaram que sementes regadas com água tratada em campo magnético cresciam em maior proporção e em menos tempo. Outros experimentos usando a água como cicatrizante para pele e colírio revelaram eficácia inesperada. Por conta disso, Maria Eugênia desenvolve agora um hidratante feito com água magnetizada para uma empresa de cosméticos.

Ela é cética quanto ao uso medicinal indiscriminado da "água magnetizada", muito popular nos meios não-científicos. "Vi casos onde a água tratada com campo magnético foi inócua ou até danosa. Até que se faça um estudo formal, as pessoas deveriam se resguardar", avalia. Faigle, ao falar sobre os estudos com diluições, ressalta que "embora os homeopatas nos convidem para congressos, não estamos tentando corroborar a homeopatia. Nosso foco é a água".

O que são Clusters
Os clusters são aglomerados de moléculas de água, formados pelas ligações entre os átomos de hidrogênio.
Sua natureza é dinâmica, com moléculas entrando e saindo deles a cada fração de segundo.
Apesar de tanto movimento, porém, a macro-estrutura dos clusters se preserva.
Estrutura com 2 moléculas Estrutura com 4 moléculas Estrutura com 12 moléculas



Link: http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT578859-1719-2,00.html


Fique na Luz Divina!!!

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