sexta-feira, 7 de março de 2008

*** A TERAPIA DAS MÃOS E DA PALAVRA ***


A Terapia das Mãos e da Palavra (sob as Vistas do Filósofo)

A idéia de que as mãos curam é boa. Velha e boa. Pensamos que ela é uma prática do Oriente, mas vemos que religiões ocidentais (e Jesus, que por ser do Oriente Médio não é, completamente, do Oriente, é exemplo disso) se valeram dela, e continuam se valendo. Tudo se baseia em duas crenças simples: 1) mãos detém algo chamado de "energia" (sem que isso tenha qualquer significado científico ou mesmo tenha que ser explicado) e 2) o contato pessoal, físico (que no limite é o carinho e o sexo) é algo de nossa ancestralidade, algo que, enfim, produz a vida - não há vida sem contato físico, ao menos para uma grande parte dos mamíferos, entre eles nós, ao menos antes de certos avanços tecnológicos; ora, o que produz vida, também deve curar.

As mãos transmitem "energia". Fala-se em "fluxo de energia": é necessário que exista fluxos livres no corpo do paciente e das mãos do terapeuta para o corpo do paciente. Com isso se dá? Pouco importa. É uma metáfora. Metáforas não se explicam, elas são feitas para que possamos conversar e criar atitudes. Se pudermos explicar uma metáfora, ela já não é mais metáfora, já se literalizou e, inclusive perdeu sua força metafórica. Esta é a parte mais difícil dos alunos de medicina entenderem - principalmente se são bons alunos. O bom aluno, de mentalidade científica, fica irritado - e realmente deve ficar - por não conseguir entender as práticas alternativas. Em geral, quando começam explicar tais práticas, já perderam a capacidade de aprende-las. Poucos médicos teóricos são bons massagistas ou "terapeutas com as mãos".

Todavia, velhos médicos usavam do toque para diagnosticar e, sem o saber, eram bons "curadores" por causa disso. Curavam no diagnótico! O toque, não raro, servia como cura, ou o menos como acalento. Isto é possível de ser entendido pelo bom aluno de medicina: a antropologia e a psicologia explicam como que nosso passado coletivo, talvez arraigado ainda em toda uma estrutura corporal que Darwin e outros mostraram como evolutiva, tenha como básico as formas de aconchego que vemos nos monos e em tribos primitivas. O que importa aqui é que o aconchego diminui o stress (já pegaram um gatinho perdido na rua, deram leite e carinho físico? Depois disso, o que ocorre? Ele dorme e ronrona) e cria condições de auto-recuperação.

Fluxo de energia - a idéia metafórica - e contato físico - a idéia que a ciência consegue senão explicar ao menos falar algo razoável - são os elementos básicos da "cura pelas mãos".

Todavia, falta um terceiro elemento: a palavra. Sem ela, as chances da terapia ficam pela metade.

A palavra, nos casos, é som: antes de tudo é, também, um contato físico. O timbre da voz importa na massagem dos tímpanos. O timbre da voz importa na massagem do ego, capaz também de trazer à tona tudo que é bom ou ruim da infância, e que estava adormecido. Mas a palavra é, também, mensagem: pode trazer o universo de experiências do paciente para um novo universo de experiências. As velhas experiências boas do passado devem surgir no momento da boa experiência que o corpo passa ao ser tocado. Em geral, essa acoplagem entre uma constelação de velhos e bons significados em conjunto com a significação do discurso que o terapeuta faz no momento mesmo da "cura pelas mãos", é um ponto fundamental do processo terapêutico. Os linguístas e filósofos podem explicar isso. Os médicos, menos. O terapeuta não precisa explicar, ele tem apenas de ser apto em lançar palavras que criem imagens de prazer, de êxito, e que sejam coadunáveis com a forma e a pressão de seu toque. Os bons religiosos e curadores sempre souberam disso.

Esses elementos todos, quando encontram em um ser humano um bom artífice, criam todas as condições para a "terapia com as mãos", sem que seja necessário grandes estudos ou livros.

Paulo Ghiraldelli Jr - Dr. em filosofia pela USP e doutor em filosofia da educação pela PUC-SP.



Fique na Luz Divina !!!

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