domingo, 26 de agosto de 2007

*** Algumas coisas sobre os Niyamas.***


Saucha- Pureza

Shaucha (Pureza):
Shaucha significa pureza. Essa pureza não se aplica apenas ao corpo,
mas também à pureza mental, de sentimentos, de expressão, enfim, a
todos os níveis de pureza.
Se falarmos da limpeza física, podemos dividi-la em duas partes: a
interna e a externa.
Sendo a pureza descrita por Patanjali em seu Yoga Sutras, shaucha tem
um aspecto mais universal, e nos sutras essa limpeza não é detalhada.
Já no sistema de hatha yoga ela é bastante estudada e vários métodos
são apresentados.
Se falarmos da limpeza exterior, o hatha yoga descreve práticas que
vão desde a limpeza dos dentes até a limpeza da pele.

O hatha yoga descreve seis processos de purificação interna, a saber:
Dhauti, Basti, Neti, Tratak, Nauli and Kapalbhati. Em outro artigo
estudaremos com mais detalhes esses métodos.

Já para a purificação oral o yoga recomenda a pratica do "jejum da
fala" ou a prática do silêncio, alguns pranayamas e mantras.

É fácil observar que todos os métodos de limpeza descritos acima
afetam diretamente a mente, pois há uma relação direata entre mente e
corpo. Seja qual for o processo yogue que você pratica, isso afetará
tanto a mente como o corpo.
Mas existem algumas técnicas específicas para a purificação mental,
como a recitação de mantras e a pratica do Trataka ou visualização
concentrada.

No livro nº2 de seu Yoga Sutras, sutra 40, Patanjali nos diz o
seguinte sobre o resultado da prática de Shaucha:

Shouchatswangjugupsa parairsansargh | P Y S 2.40

"Da purificação vem a indiferença para com o corpo e o desapego / não
desejo em relação a outros (corpos)."

Quando o praticante desenvolve o senso de shaucha, surge nele
gradulamente uma sensação de indiferença pelo corpo. Essa sensação
não é fruto do descaso ou nojo do corpo, mas sim é fruto da
compreensão da real natureza do corpo, como mero instrumento
transitório da manifestação consciencial.
Assim, também surge no praticante a renúncia ou desapego com relação
aos corpos de outras pessoas e em grau profundo, a renúncia do desejo
de ter outro corpo em uma encarnação futura.
Logicamente, essa "indiferença para com o corpo" é algo muito
profundo e a fundamentação dessa afirmação feita por Patanjali nos
levaria a um estudo de longo duração sobre o tema.

A seguir Patanjali nos diz:

Satvashuddhisoumansyekagredriyajayatmadarshan yogyatwani cha | P Y S
2.41

"Pela prática da purificação mental (sattvashuddi), leveza de
espírito, mente tranqüila, controle dos órgãos dos sentidos e a visão
do puro Ser são conquistadas."

Santosha - Contentamento

Ao observar a Natureza, podemos constatar que todos os seres vivos
passam sua existência num esforço diário para estarem numa condição
melhor do que estão. Essa busca natural pelo bem-estar e paz é
empreendida tanto pela árvore, quanto por uma ave, um cachorro ou
pelo homem.
No entanto, a relação humana com esta busca pode e deve ser feita sob
a luz do discernimento. Enquanto que para os animais a condição de
satisfação interna é totalmente dependente do meio externo, no homem
essa condição de satisfação interna pode e deve ser cultivada
internamente.

A prática de santosha é de extrema importância, pois ela é uma
virtude que nos ajuda a solidificar nossas bases espirituais para
que, gradualmente, possamos alçar vôos mais altos.
Para a grande maioria das pessoas, a sensação de satisfação mental e
de paz ainda é tida como tendo sua causa nos objetos exteriores,
sejam eles uma casa, um carro ou até mesmo outra pessoa.

Mas o praticante espiritual deve compreender que o contentamento é um
estado de espírito, uma conquista feita pela sabedoria e não algo
intelectualizado.
O contentamento não é algo derivado de uma reação mental sobre um
incidente específico. Mais do que isso, o contentamento é um estado
que não depende de qualquer incidente externo para ocorrer.
Num sentido mais profundo e esotérico, contentamento é o estado de
espírito onde o praticante espiritual aprende a estar feliz com
aquilo que possui ou experimenta no momento, ficando sempre
consciente da transitoriedade das coisas.

Para ilustrar melhor o estado de Santosha, conto uma breve parábola
indiana:

"Em uma vila remota, aos pés do Himalaya, vivia um sábio de forma
reclusa, isolada. Apesar de nunca ter se proclamado sábio e mestre de
ninguém, o velho senhor era assim tachado pela população local.
Certo dia apareceu um senhor acompanhado de sua jovem e bela filha.

Ao se aproximar do mestre, o pai da garota falou respeitosamente:"
Senhor, venho a ti pedir-te para que instrua a minha única filha na
senda da Verdade. Ela é a minha jóia mais preciosa e a confio a ti.
Por favor, aceita-a."

O mestre escutou as palavras e apenas respondeu: "É mesmo?" –
continuando a mexer sua comida que cozinhava em uma panela de barro.

Por meses o mestre ensinou e cuidou da garota com todo apreço.
Nesse mesmo período, a garota se apaixonou por um garoto da vila e
acabou engravidando.

Envergonhada e sem saber como proceder corretamente, resolveu fugir e
contar a seu pai que o mestre a havia violentado e que agora estava
grávida.
Ouvindo essa história da boca de sua própria filha e não desconfiando
de seu caráter, o pai da garota foi imediatamente ter com o mestre e
lá chegando disse fora de si: "Hipócrita! Como ousa achar-se sábio e
tomar a guia de outros sobre a sua responsabilidade? Minha filha está
grávida e o filho é seu! Minha filha é uma jóia e nunca mentiria para
mim! Por conta disso você ficará fadado a cuidar da criança assim que
ela nascer. Por pra minha filha volta a ficar comigo. Nunca mais a
verá, velho hipócrita!"
Escutando tudo com tranqüilidade, mais uma vez o sábio respondeu: "É
mesmo?"
Ao saber dessa história, toda a vila passou a desacreditar o mestre e
a emitir julgamentos e contar histórias sobre o caráter impróprio do
mestre.
Passado os nove meses da gestação, a garota deu a luz a um lindo
garoto que prontamente foi levado ao mestre e entregue a seus
cuidados.
Por anos o mestre cuidou daquela criança como seu próprio filho e o
instruiu na senda da Verdade.
Após sete anos, a garota já não agüentava mais o remorso em seu
coração e acabou por confessar ao seu pai a mentira que vinha
sustentando por todo esse tempo.
Ao saber da mentira, o pai se encheu de vergonha, não pelos atos da
filha, mas pelos seus próprios atos, pela maneira como ele e a vila
toda vinham tratando o velho sábio por todos esses anos de forma
injusta.
Correu o mais rápido que podia para a cabana do mestre e se prostou
no chão dizendo suplicante: "Senhor, rogo que me perdoe! Soube a
pouco da mentira de minha filha. Por favor, perdoe-me por ter
infligido a ti tamanho fardo!
Vim buscar o neto que reneguei a sete anos e libertá-lo desse fardo
injusto!"
Escutando atentamente o sábio respondeu com plena doçura no olhar: "É
mesmo?".
Mesmo depois de todas as experiências vivenciadas, tanto de dor como
de alegria, o mestre se manteve inabalável em sua paz interna, não se
apegando nem a dor, nem a alegria, pois sabia que ambas eram
passageiras. Ele estava firmemente estabelecido no princípio de
Santosha, sendo feliz em sua paz e tranqüilidade mental.
Para se estabelecer em santosha, a mente deve se preparar
gradualmente, buscando a cada experiência exercer o controle sobre as
relações de prazer e dor, através do discernimento sobre a
transitoriedade de ambas.

A raiz da felicidade está nos sentimentos, na natureza essencial das
coisas. E a raiz do sofrimento está no desejo (carência emocional).
Sentimento é algo diferente de emoção.

Um antigo verso indiano nos diz:
Asha nam manushyanamkachitdashwaryashrunkhala |
Yaya baddha pradhavanti muktastishathatipanguvat ||

"Esperança é como uma corrente que, quando presa a ela, a criatura
começa a corer. Quando libertada dela, a criatura encontra a paz
profunda."

A palavra "esperança" vem de "esperar".
O ato de esperar invariavelmente requer um objeto para existir, seja
ele mental, espiritual ou físico.
E quando esperamos algo geramos espectativas. Espectativas essas que
tem sua raiz plena em um desejo, em um "querer".

Num sentido mais profundo da prática spiritual, todo o desejo, até
mesmo o da liberação ou iluminação, é visto como um anel da cadeia de
sofrimentos.

Mas para aquele que busca Santosha, Patanjali deu a seguinte
descrição para nos motivar, mostrando o que ocorre com aquele que se
mantém no estado de Santosha:

"Felicidade incomparável e sem precedentes vem àquele que pratica o
contentamento."

Fique na Luz Divina!!!

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