quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

*** A TRADIÇÃO EGÍPCIA ***


Único povo do mundo antigo a erigir uma religião nacional em torno da
doutrina da imortalidade da alma, os egípcios foram também os primeiros a
pregar um monoteísmo universal, a providência divina, o perdão dos pecados e
as recompensas e punições depois da morte. Fonte de normas de moralidade
pessoal e social, influencia até hoje o comportamento de várias nações.
A religião dos antigos egípcios evoluiu, gradativamente, de um simples
politeísmo para um monoteísmo filosófico. No início, cada localidade possuia
seus próprios deuses e representações das forças da natureza. Com a
unificação do Baixo e do Alto Egito, no Antigo Império - aproximadamente em
3.000 a.C. -, houve uma fusão de divindades. Todas as divindades protetoras
foram consubstanciadas em Rá, o deus-Sol. Mais adiante, com a ascenção de
uma dinastia tebana ao poder (início do Médio Império, por volta de 2.000 a
C.), passou-se a chamar Amon ou Amon-Rá, nome do deus principal de tebas.
RÁ, o Sol, é a principal divindade egípcia. Para alguns, Rá nasceu de uma
flor de lótus que, ao amanhecer, abre-se para libertar o Sol e, ao anoitecer
fecha-se protegendo o astro. Para outros, Rá surgiu nos céus na forma de
benu, a ave Fênix. Outra lenda diz que o Sol é o pai dos deuses e de todas
as criaturas vivas.
As divindades elementais, isto é, os deuses que representavam os
poderes da natureza, fundiram-se em Osíris. Durante toda a história do Egito
Rá e Osíris rivalizariam entre si pela supremacia. Isto, de um ponto de
vista político-cultural, pois, na verdade, os dois representavam faces
diferentes de um mesmo princípio.
Já a partir da V Dinastia (entre 2.563 e 2.423 a.C.), os faraós
passaram a se chamar filhos de Rá. O governo era uma teocracia e o
absolutismo do rei era exercido em nome de deus. De acordo com suas crenças,
era o deus, como personificação da justiça e da ordem social, que de fato
governava - o monarca era seu agente, seu mensageiro. Como “filho de Rá”, o
rei era considerado divino. Não se podia sequer mencioná-lo pelo nome,
referiam-se a ele como faraó - do egípcio per-o, que significa “casa grande”
ou “casa real”. Não podia casar-se com qualquer pessoa que não fosse sua
parente próxima e a divindade não o excluia de árduos serviços em prol do
bem público.
Durante o Antigo Império, o culto de Rá servia como religião oficial e
sua função principal era dar imortalidade ao estado e ao povo. O faraó
mantinha na terra a lei do deus. Acreditava-se que a mumificação do corpo do
faraó e sua conservação em um túmulo eterno contribuiria para a existência
eterna da nação.
HÁTOR é originalmente, a deusa dos céus. É a grande sacerdotisa do panteão
egípcio, deusa da música e da dança, protetora dos prazeres e do amor. É
geralmente representada com uma coroa composta de dois chifres (da vaca
sagrada, animal que a representa) com o disco solar no meio.
Os faraós eram iniciados mas, não necessariamente, evoluídos os
bastante para terem atingido o adeptado. Havia no Egito três centros de
mistérios: Ábidos, Hermópolis e Heliópolis. Três santuários nos quais se
concentrou o saber dos sacerdotes egípcios. Aos profanos jamais era admitida
a entrada em seu recinto sagrado, pois tais santuários, em época
pré-histórica, haviam vistos as próprias origens do Egito.
Parece ter sido o de Ábidos, de sete capelas consagradas e arcada
constelada de estrelas, onde foi enterrado o próprio Osíris, o homem-Deus.
Osíris teria sido o homem que introduziu a civilização no Egito, tirando o
povo da barbárie. Os sacerdotes de Osíris tinham como incubência preservar o
Osirianismo e seus mistérios a qualquer preço. O que se vê, durante toda a
História, como a volta aos mitos de nossas origens, a busca de maior contato
com os poderes da natureza, é a perpetuação desse compromisso.
Ábidos foi o primeiro santuário do culto de Osíris, a primeira grande
loja para os ritos secretos dessa religião, para os mistérios, ancestrais da
Franco-Maçonaria primitiva.
Os mistérios do segundo centro, Hermópolis, estabelece a aproximação da
revelação na tradição egípcia (simbolizada por Tot-Hermes) com a tradição
nórdica (Thor). Como se sabe, o termo hermético (de Hermes) passou a
significar tudo o que é referido às ciências tradicionais, aos mistérios.
TOT é o Senhor das Palavras, criador da fala e inventor da escrita. Mais
tarde tornou-se o deus do tempo e das medidas. Teve importante papel no mito
de Osíris, pois foi o advogado do deus assassinado e de seu filho Hórus.
A divulgação - para quem fosse digno disso - dos mistérios acumulados
em Hermópolis foi a função da Irmandade de Heliópolis.
A importância de Heliópolis é atestada até pelo cristianismo; no Novo
Testamento, diz-se que seria em Heliópolis que a Sagrada Família teria
repousado por ocasião da fuga para o Egito.
Em grego, Heliópolis significa “a cidade do Sol”. denominação que
substituiu o antigo nome egípcio que tinha o mesmo significado.
Na iniciação de base solar, destaca-se essa comunidade espiritual - a
Irmandade de Heliópolis - que guiava os sacerdotes egípcios, como deveria
guiar os druidas e todos que, no decorrer da História, tiveram em suas mãos
a chave dos grandes mistérios.
OSÍRIS é o mais importante deus da mitologia egípcia. Rei dos deuses, foi
quem introduziu a civilização no Egito. Governava ao lado de sua esposa-irmã
ISIS, mas era invejado por seu irmão Set que o assassinou e cortou seu corpo
em 14 pedaços. ISIS conseguiu juntá-los e dar nova vida ao deus.
Com a descoberta e profanação de pirâmides e tumbas, a curiosidade em
torno da cultura e, sobretudo, da religião egípcia, das múmias, a “Tutmania”
promovida pelos meios de comunicação, muito se especulou e divulgou-se saber
fatos que talvez não sejam reais. Estamos muito longe de partilhar dos
antigos mistérios no que depender de estudos arqueológicos.
Sobre os túmulos, um iniciado da Irmandade de Heliópolis relatou, em
1947, ao escritor Paul Brunton: “Os túmulos dos grandes adeptos são muito
bem guardados, para que nunca sejam vasculhados por ‘escavadores’; não são
túmulos de mortos, mas de vivos. Não contém múmias, mas sim os corpos dos
adeptos em um estado específico, que apenas o termo ‘transe’ pode
aproximadamente descrever. Já foi constatada, na Índia, a existência de
faquires que se deixam enterrar por um período variável, durante o qual seus
corpos ficam em transe. O funcionamento de suas vias respiratórias é
inteiramente suspenso enquanto permanecem sepultados. Até certo ponto, o
estado dos adeptos egípcios é análogo, mas seu conhecimento vai muito mais
adiante, já que mantiveram seus corpos vivendo, ainda que em transe, por
milhares de anos (...).
MAAT é a deusa da verdade, da justiça e do senso de realidade. Filha de Rá e
de um passarinho que apaixonando-se pela luminosidade e calor do Sol, subiu
em sua direço até morrer queimado. No momento da incineração uma pena voou.
Era Maat. É a pena usada por Anúbis para pesar o coraçáo daqueles que
ingressam no Tuat.
“Seus corpos são escondidos em túmulos impenetráveis, esperando a volta
de seus espíritos. Um dia, com efeito, estes virão animar estes corpos em
coma, fazendo com que eles voltem então ao mundo exterior. É preciso que o
mecanismo dessa volta à vida seja operado por pessoas qualificadas, dotadas
do conhecimento exigido. Uma parte do ritual do despertar consistirá no
cântico de certas palavras de oração, secretas. Pode parecer curioso, mas
seus corpos só são aparentemente embalsamados. Envoltos em tecidos, depostos
em sarcófagos, diferem todavia das múmias verdadeiras pelo fato de que seu
coração não foi retirado - e essa é uma diferença vital! Todos os seus órgão
essenciais permanecem intatos, exceto o estômago, que baixou, já que desde a
entrada em transe cessou toda a alimentação. Outra diferença, os adeptos
vivos têm o corpo e o rosto inteiramente cobertos de uma camada de cera;
esta lhes foi aplicada depois que se iniciou o transe... ”
As idéias dos egípcios sobre o pós-morte atingiram seu completo
desenvolvimento no período final do Médio Império. Primeiramente
acreditava-se que o morto continuava sua vida na tumba; com o amadurecimento
teológico, foi adotada a concepção do julgamento diante de Osíris, que
compreendia três estágios: 1) exigia-se que o morto se declarasse inocente
de quarenta e dois pecados, dentre os quais o homicídio, o furto, a mentira,
a cobiça, a ira, o adultério, a blasfêmia, o orgulho e a desonestidade em
transações comerciais; 2) afirmar suas virtudes, confessar que satisfez a
vontade dos deuses, que ajudara os necessitados, etc e 3) o coração do réu
era posto na balança em face de uma pena (Maat), símbolo da verdade, para se
determinar a exatidão do que afirmara.
ANÚBIS, o deus com cabeça de chacal, é o mediador entre o céu e a terra.
Temido pela sua falta de emoção e pela severidade de seu juízo, ninguém
escapa às suas sentenças. É também o guardião de ISIS.
Com o estabelecimento do Novo Império (a partir de 1.580 a.C.), a
religião sofre sérias adulterações. Os sacerdotes se tornaram muito
poderosos e exploravam o terror das massas em proveito próprio. Isto levou a
uma grande reforma religiosa liderada por Amenotep IV, que começou a reinar
por volta de 1375 a.C. Ele abandona o culto de Amon e valoriza o culto de
Aton (antiga denominação do Sol físico). Muda seu nome de Amenotep (“Amon
repousa”) para Ikhnaton (“Aton está satisfeito”). Estabelece o monoteísmo e
constrói templos solares, a céu aberto, em Tell al Amarna (então a capital)
e Karnak.
Em resumo, assim se desenvolveram os conceitos religiosos do Egito
Antigo e que serviram de base para as posteriores civilizações.
© Copyright da revista ISIS, março de 1996 - by Sandro Fortunato


Fique na Luz Divina !!!

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